Depois disso pouco tempo passou até que Jorge Costa abandonasse o clube do coração e fosse emprestado ao Charlton por cinco meses. Uma ferida que ficou para sempre cravada no coração azul e branco do central. O treinador da altura, o homem que insistia em fazer do capitão o terceiro central na hierarquia portista, era Octávio Machado. O técnico de Palmela tornou-se por isso um dos actores principais em toda esta novela. Pelo que se tornou incontornável recolher o seu testemunho.
Com três anos percorridos sobre o episódio, Octávio Machado assume hoje uma posição mais conciliadora. Diz, por exemplo, que nunca teve qualquer problema com o capitão. «Não tinha, nem tenho, nada pessoal contra o Jorge Costa». Bem pelo contrário, sempre nutriu admiração por ele. «Quando se lesionou em Alvalade, era eu treinador do Sporting, fiz questão em ir ao autocarro do F.C. Porto dar-lhe uma palavra de conforto». Regressando à história que nos trouxe aqui, Octávio Machado começa por dizer que «nunca nenhum jogador tivera uma atitude semelhante naquele clube». «Quem conhece o F.C. Porto sabia que aquele gesto poderia ser desestabilizador para a equipa», adianta.
Foi mesmo. «No dia seguinte vários jornais escreveram em primeira página que aquela foi uma atitude de desrespeito. O que eu lhe disse à frente de todos os colegas foi que ele devia esclarecer publicamente o gesto, sendo que se não o fizesse seria uma razão de desgaste para o grupo. Ele recusou-se a fazê-lo e o silêncio alimentou o conflito». Para Octávio não houve qualquer afronta. «Foi uma atitude de desagrado, e eu nunca quis jogadores conformados, mas foi exagerada pelas responsabilidades que tinha». Acabou por ir para Inglaterra. «Foi ele que pediu para sair porque queria ir ao Mundial». Sendo que nessa altura a titularidade estava entregue a Jorge Andrade e Ricardo Carvalho.
O certo é que em Inglaterra o central entusiasmou os adeptos da formação londrina, a quem chamavam «Tanque», ao ponto do Charlton tentar várias vezes na época que se seguiu a contratação de Jorge Costa. Com a saída de Octávio, o ingresso de Mourinho e a normalização das relações dentro do balneário, Pinto da Costa mostrou-se sempre intransigente: o capitão não estava à venda. Capitão, sim, que no regresso a braçadeira voltou para o seu braço. Foi Vítor Baía, o capitão portista na ausência do central, que fez questão de lha entregar. Recusando-se a entrar num sufrágio que já se preparava dentro do balneário entre os dois. Jorge Costa, disse o guarda-redes, é que era o capitão.
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