Migjen Basha é, aos 27 anos, um dos bons valores no Torino na Serie A de Itália. O médio nasceu em Lausanne e representou a Suíça até aos sub-21. Porém, não esqueceu as suas raízes e mudou-se para a seleção da Albânia no ano passado. A decisão torna-se óbvia quando se descobre a história do jogador.

Filho de pais albano-kosovares, o pequeno Basha deixou Lausanne com tenra idade para crescer em Suva Reka. A família queria permanecer no seu país de origem mas teve de regressar à Suíça três anos mais tarde, quando teve início a guerra no Kosovo.

As marcas desse conflito ficaram para sempre. Migjen Basha estava a aprender a língua albanesa, frequentava a escola local e divertia-se nas ruas.

Suva Reka entrou no coração do jogador e este sofreu à distância com a guerra na região, entre 1996 e 1999. Cresceu a ver imagens da destruição daquela cidade e chorou com a notícia de que o seu tio fora assassinado na reta final do conflito.



A NATO não conseguiu resolver o diferendo pela via diplomática e avançou para a Jugoslávia em março de 1999. As forças de Slobodan Milosevic responderam com violência aos primeiros bombardeamentos. Cometeram-se vários crimes de guerra e um deles ficou conhecido como o Massacre de Suva Reka.

A 26 de março de 1999, polícias sérvios juntaram 50 locais dentro de uma pizzeria e atiraram duas granadas lá para dentro. Pouco depois, dispararam sobre todos aqueles que ainda tinham sinais de vida. Os corpos foram levados para Batajnica, perto de Belgrado, e enterrados numa vala-comum. Anos mais tarde, a vala foi descoberta e um tribunal de guerra condenou quatro dos polícias a penas de prisão entre os 13 e os 20 anos.

 
A guerra terminou no mesmo ano mas Migjen Basha não esquece. Por essa altura, começava a dar os primeiros toques na bola com a camisola do FC Lausanne-Sport. Quando atingiu a maioridade, foi para Itália e por lá ficou até chegar à Serie A. Passou por Lucchese, Viareggio, Rimini, Frosinone e Atalanta no caminho para Torino.

Em 2010, após quinze internacionalizações pelas seleções jovens da Suíça, o médio nascido em Lausanne deixou o coração falar mais alto e requereu um passaporte albanês para representar os «vermelhos e pretos».

A Associação Suíça de Futebol não era favorável à mudança – aliás, a fuga de jogadores com dupla nacionalidade é uma grande dor de cabeça para a seleção helvética – e a FIFA demorou um par de anos a tomar uma decisão.

Bascha cumpriu o seu sonho em março de 2013 e logo com uma vitória da Albânia em Oslo, frente à Noruega (0-1). O médio do Torino assistiu recentemente à estreia oficial da seleção do Kosovo mas garantiu que não irá virar costas à equipa albanesa.

Em breve, na qualificação para o Campeonato da Europa de 2016, o jogador terá a oportunidade de defrontar a Sérvia. Curiosamente, o primeiro compromisso da Albânia será em Portugal, mas Migjen Basha está focado em outra frente de batalha. Não é apenas uma força de expressão, infelizmente.

«Vou pedir ao selecionador para não me deixar de fora dos jogos com a Sérvia. O meu tio foi morto pelas forças sérvias durante a guerra no Kosovo e eu quero vingança por aqueles que lá morrerem. Nem sei se vou conseguir acabar o jogo, porque darei tudo de tudo pela vitória», admitiu o médio, um de vários internacionais albaneses com ligações ao conflito kosovar. As marcas são profundas.