O derby. Escaldante e polémico, como todos. Com o bónus de fazer perigar o título para o Benfica, a tão pouco da meta. Um Sporting distante em números e adulto à força, a tentar recuperar a alma para um sprint final (e cada vez mais curto) pela Liga Europa. O árbitro - que podia ter outro nome qualquer mas desta vez se chamava João Capela, o da final da Taça da Liga - seria mais uma vez o alvo, por culpa de quedas suspeitas na área, escalpelizadas em slow motions na televisão, e que viriam a despertar, logo depois, a habitual ironia de terceiros, a quem naturalmente interessavam as consequências. Bruno de Carvalho e Jesualdo Ferreira viriam a público reclamar penalties (quatro, chegou a contá-los o treinador), mas o derby tinha sido mais do que isso.

O Leão tinha mostrado valor, encurtado distâncias na contabilidade de talento que se faz habitualmente nos cafés e jogado olhos nos olhos do rival, que estava, antes do pontapé de saída, a 34 pontos. Criou problemas, a dúvida. Os que esperavam vitória por esmagamento dos encarnados começaram a duvidar inclusive do triunfo depois de meia-hora passada. E não foi só. Na Luz, viu-se Gaitán crescer de uma exibição medíocre para duas jogadas notáveis, de génio, que ajudariam de forma decisiva a manter a preciosa vantagem de quatro pontos sobre o FC Porto. Tudo às custas do outro e velho rival, que se mantém na corrida-a-cinco pelo último lugar que dá acesso à Europa: o quinto se o finalista da Taça V. Guimarães acabar mais abaixo, o sexto se os minhotos terminarem em quinto lugar. Polémicas à parte, o derby tinha tido futebol.

Em Moreira de Cónegos, cada golo do FC Porto foi um esvaziar de pressão, sobretudo por parte de Jackson, que fez dois, e Vítor Pereira, que não tem conseguido disfarçar alguma agitação nas últimas semanas. Os festejos notaram-se, sobretudo nos ecrãs televisivos, acentuando a ideia que nesta altura, no Dragão, há tudo menos serenidade. Só que agora, com Jackson de novo a encontrar-se em campo com golos, as preocupações já não serão certamente tão intensas. Depois de seis jogos consecutivos em branco, o colombiano somou mais um «bis». São já 25 golos na Liga.

Apesar da derrota na Luz, a jornada nem correu muito mal ao Sporting. O Nacional bateu o Marítimo no outro derby da ronda e igualou os rivais insulares imediatamente acima da equipa de Jesualdo; o Estoril perdeu no Bonfim e o Rio Ave saiu derrotado de Paços, onde a fantástica equipa de Paulo Fonseca garantiu já matematicamente a Europa. Apenas o V. Guimarães destoou na performance dos candidatos, impondo-se em Olhão e garantindo o quinto lugar. O sexto posto, agora na posse de Estoril, ficou a dois pontos dos leões.

Em Paços, os da casa resistiram à pressão imposta pela vitória de sexta-feira do Sp. Braga. Estiveram a perder perante o candidato europeu Rio Ave, já na segunda parte, mas ainda foram a tempo de esticar a ambição até ao triunfo. Com a arte de Hurtado (belo jogo!) e a força de vontade de André Leão pelo meio. Os homens de Paulo Fonseca não desistem mesmo da Liga dos Campeões, apesar de os arsenalistas parecerem estar a atravessar a melhor fase da época.

No final da tabela, e porque este campeonato é de extremos, foi precisamente o Vitória de Setúbal o vencedor da ronda, batendo um Estoril perdulário no ataque. Um penalty garantiu três pontos preciosos e uma vantagem de cinco para gerir em quatro partidas. Só uma catástrofe afundará os sadinos para a II Liga. Também o Beira Mar triunfou, algo que não acontecia há quatro meses. A primeira vitória de Costinha, às custas do também aflito Gil Vicente, voltou a colocar os aveirenses na corrida pela salvação, uma vez que Académica (em Coimbra), Moreirense (frente ao FC Porto) e Olhanense (perante o V. Guimarães) não somaram pontos. Mais uma luta que promete.