*Enviado-especial a Munique

«O Bayern corre sério risco de ser eliminado. E já percebeu isso». É desta forma que Giovane Élber resume o sentimento que acredita estar a pairar no balneário do Bayern Munique. Ele que o conhece como poucos. Afinal, falamos de alguém que é uma figura da história do clube da Baviera, graças às sete temporadas - com vários golos à mistura - ao serviço dos bávaros.
 
Atualmente com 42 anos e a residir na cidade de Londrina, no Brasil, mas dividido entre os dois países, Élber aceitou falar em exclusivo ao Maisfutebol sobre o jogo de terça-feira que pode colocar o FC Porto nas meias-finais da Liga dos Campeões.
 
Mas, invariavelmente, a conversa centrou-se mais no que aconteceu no Dragão, na semana passada. Élber admite ter ficado surpreendido.
 
«O FC Porto fez um jogo excelente, taticamente perfeito. Complicou e muito a situação do Bayern. Fiquei surpreendido com o placard, confesso. Mais com o placard do que com o jogo em si porque já sabia que o FC Porto era uma grande equipa e ia complicar muito a vida do Bayern», afirmou o brasileiro.
 
Élber não tem dúvidas: os dragões fizeram por merecer o resultado final. «Quando o Bayern fez o 2-1 pensei que iriam dar a volta, mas o FC Porto foi sempre superior, antes e depois disso. Foi um jogo muito bom», resume.
 
E nem quer ouvir falar das ausências do lado do Bayern: «Acho que é tudo mérito do FC Porto».
 
«Não é qualquer equipa que faz aquilo que o FC Porto fez. Não é qualquer equipa que faz três golos ao Bayern, mesmo jogando em casa. É mérito do FC Porto, dos jogadores, do treinador que montou a estratégia. Não deram espaço, foi um jogo muito inteligente da parte do FC Porto», define.
 
«Bayern pode marcar três ou até mais, mas não pode ser demasiado afoito»
 
Giovane Élber não tem dúvidas que o Bayern Munique, mesmo desfalcado, tem equipa para virar o jogo em casa. Afinal, ainda na última eliminatória esmagou o Shakhtar Donetsk por 7-0.
 
Contudo, há uma diferença: o Bayern vai entrar em campo a «perder». E isso pode ajudar o FC Porto.
 
«O Bayern é muito experiente. Pode, perfeitamente virar esse placard. Pode marcar dois, três golos ou até mais se estiver numa noite inspirada. Mas uma coisa é entrar em campo do zero, outra é ir já com um 3-1 em cima»
, avisa o campeão europeu de 2001.
 
Depois explica: «O Bayern sabe que não pode ser demasiado afoito. Tem que jogar ofensivamente, porque tem de marcar, mas não pode descurar a defesa porque num contra-ataque o FC Porto pode fazer um golo e complicar muito a vida.»
 
Por isso, a sentença é simples de fazer, no entender do brasileiro: «O Bayern corre o risco de ser eliminado, claro. O apuramento está na mão do FC Porto nesta altura. Se jogar outra vez de forma inteligente vai dificultar muito a vida e tem tudo para seguir em frente.»
 
«Se passar, é preciso ter o FC Porto em conta…»
 
Giovane Élber conhece bem o FC Porto. O de agora e o de outros tempos. Defrontou-o, por exemplo, nos célebres quartos de final de 2000, da tal arbitragem polémica de Hugh Dallas. O brasileiro é de poucas palavras. «Lembro-me bem desse jogo. Foi muito duro para nós», comenta.
 
E explica: «As equipas latinas são difíceis para as alemãs porque jogam de forma muito acelerada, obrigam a decidir muito rápido. O Bayern gosta de ter a bola, de pensar o jogo, não gosta de ser pressionado a agir.»
 
«Se o FC Porto voltar a cair em cima e não deixar o Bayern pensar pode fazer outro bom resultado na Alemanha», antevê.
 
E depois? «Passando o Bayern, acredito que é preciso ter em conta o FC Porto para ir à final. Em 2004 também joguei contra o FC Porto de Mourinho nos quartos de final da Champions, quando estava no Lyon. Eles passaram, e depois foram até à final e ganharam. Acho que agora podem fazer o mesmo»
, projeta.
 
Élber deu ainda a sua opinião sobre o plantel do FC Porto, destacando Alex Sandro, jogador que já acompanhava no Santos. «Vai ser uma baixa importante na Alemanha», defende.
 
Mas depois desvaloriza: «O FC Porto tem baixas importantes, mas para eliminar o Bayern, tem de pensar como equipa. Não vai eliminar o Bayern no individual, aí eles são mais fortes. Se eliminar é como equipa.»