Loucura!

Tanta unha se roeu no Santiago Bernabéu, tanto coração a bombar em excesso de velocidade, tanto suspiro e esgar de dor nos rostos.

Tanta emoção.

Esta crónica demorou mais tempo a escrever do que o tempo do jogo. É um exagero sim, mas explica de forma simples o ritmo frenético em que decorreu a partida.

Real Madrid e Bayern proporcionaram um espetáculo de futebol como há muito não se via. Uma correria sem fim à vista, muita fome de golos, muito sangue, suor e lágrimas.

Até que um árbitro decidiu estragar tudo.

Não é justo remeter um jogo tão grandioso para segundo plano, mas a exibição de Viktor Kassai promete ficar na galeria das piores de sempre, onde permanecem aquelas que foram capazes de retirar o brilho a um jogo de futebol.

Um desastre que culminou num resultado absolutamente mentiroso e um desfecho ingrato.

Mas vamos por partes.

FILME DO JOGO

A precisar de dar a volta ao resultado, o Bayern entrou bem melhor no jogo e causou tantos calafrios nos primeiros vinte minutos que fez os madridistas questionarem-se sobre se o que viam em campo eram apenas as marcações do relvado.

O Real entrou completamente adormecido, mas foi obrigado a acordar à força e o pico de adrenalina fez-se sentir.

Depois do sufoco dos bávaros, os merengues partiram para a frente e encostaram o Bayern às cordas. Uma série de remates certeiros só não deram em golo por manifesta infelicidade, ou «Neuer» traduzindo para alemão.

O Bayern acabou a primeira parte com mais posse e bola, porém pertenceram ao Real Madrid as principais ocasiões de golo. A frieza típica dos germânicos ganhou salero. Papéis invertidos.

Ao intervalo, o empate aceitava-se, pese embora os madrilenos tenham sido mais acutilantes na hora de chegar à baliza.

Ora, como se a primeira parte não tivesse servido de lição, o segundo tempo começou exatamente da mesma forma.

Reset, power on.

O Bayern Munique voltou a reentrar muito bem, mas desta vez bastante mais eficaz na hora de criar perigo, dando início a novo sufoco para os homens da casa.

Tiro ao boneco, defesas de recurso, cortes em cima da linha. Os deuses do futebol pareciam estar do lado do Real Madrid.

Até chegar o minuto 52’. O árbitro entendeu que Casemiro tocou Robben em falta, embora as imagens não tenham sido esclarecedoras. Lewandowski não vacilou na hora de converter o pontapé de penálti e abriu a contagem para o Bayern.

O tento do polaco deu ainda mais alento aos bávaros, que partiram para cima com todo o se poderio ofensivo, em busca do segundo, resguardando-se menos na defesa.

Zidane sentiu a equipa a tremer que nem varas verdes e procurou colocar homens mais rápidos no ataque, por forma a sair com rapidez para o contragolpe. Do outro lado, Ancelotti apostou as fichas todas na frente, retirando Xabi Alonso (que fez a despedida do Santiago Bernabéu) e colocando Müller.

GOLO! Cristiano Ronaldo.

O português resolveu entrar em cena aos 76 minutos para acabar com todos os males da equipa merengue. Teve cabeça para empatar a partida, totalmente contra a corrente do jogo.

A verdade é que o Bayern nem teve tempo de acusar o golo. Sergio Ramos passou de herói a vilão e, no lance seguinte, deu nova vantagem aos bávaros com um autogolo de bradar aos céus.

É nesta altura em que entra o «mau da fita», entre aspas. Kassai perdoou o segundo amarelo a Vidal instantes depois do início da segunda parte e resolveu compensar esse erro a cinco minutos do final, exibindo o segundo amarelo ao jogador do Bayern num lance em que o chileno nem tocou no adversário.

Os bávaros ficaram reduzidos a dez jogadores mesmo ao cair do pano. Apesar de terem conseguido segurar a vantagem até ao final do tempo regulamentar, acabaram por acusar essa diferença no prolongamento.

Ronaldo disse SIIIII! à história

O tempo extra foi dominado pelo Real Madrid, como era previsível, e a resistência bávara acabou derrotada, por fim.

Cristiano Ronaldo já tinha um na conta e resolveu matar a eliminatória com mais dois, chegando à barreira dos 100 golos na Liga dos Campeões. Um deles, diga-se, em claro fora de jogo, o outro algo duvidoso.

A jogar mais pelo orgulho do que pelo resultado, o Bayern foi abaixo animicamente e ainda concedeu um quarto golo, autoria de Asensio (112’).

Um golpe final numa batalha sangrenta e muito enganadora. Sorte do Real que teve um general importante na luta. Kassai fica de facto na história do encontro pelos maus motivos, mas só isso não ajuda a explicar este desfecho.

A outra parte é o que se chama de futebol, onde nem sempre os melhores vencem, pese embora os merengues tenham sabido reagir bem ao sofrimento.

A verdade da mentira: Ronaldo enorme e uma vénia ao Bayern Munique.

Aí vai o campeão europeu, novamente a um passo do caneco.