Mais três pontos e 2,8 milhões de euros no bolso, mesmo sem ser capaz de mostrar uma versão de luxo.

O FC Porto venceu por 2-0, igualou o Barcelona no topo do Grupo H, com nove pontos, garantiu desde já a Liga Europa (o 3.º lugar do grupo já está assegurado), afastando o Antuérpia da Liga dos Campeões, mas a maioria dos mais de 44 830 espectadores que esta noite vieram ao Dragão saiu do estádio mais de sobrolho franzido do que de sorriso aberto ao ver o que a equipa (não) joga.

Depois da traumática derrota de sexta-feira, contra o Estoril, o FC Porto vestiu um fato de operário para uma noite de gala.

Entrando em campo já a saber que o Shakhtar derrotara o Barcelona para baralhar um pouco as contas do apuramento, Conceição mudou duas peças no onze, o que equivale a dizer remodelou toda a ala direita: Jorge Sánchez e Francisco Conceição saíram para dar lugar ao recuperado Zaidu (com João Mário a voltar ao lugar de origem) e André Franco.

O FC Porto entrou mais forte, a fazer jus ao seu favoritismo, e esteve mais perto do golo – sobretudo por Evanilson, que desperdiçou uma soberba ocasião ao quarto de hora. Este só surgiria de penálti, depois da meia-hora de jogo, quando Pepê permitiu a defesa de Lammens e Kerk impediu em falta a tentativa de recarga de Eustáquio. Na hora da cobrança, Pepe tirou a bola da mão de Varela para dar a Evanilson, que bateu para o golo.

Ao intervalo, a equipa de Conceição tinha mais remates (8-2; terminou com 16-4), mais posse de bola (60%-40%; 63%-37% no fim), mais ataques (17-6; 56-18 no fim), sem, contudo, deslumbrar. Nem numa noite europeia, o Dragão mostrou outra face, outro andamento, outro estilo.

Dos assobios às palmas num minuto

Ainda assim, a versão mais promissora do futebol portista só se viu esta época nos jogos da Liga dos Campeões, em que, diga-se, a equipa teve espaço para explorar as costas do adversário. A jogar em espaços curtos, falta criatividade ao FC Porto, qualidade até, para definir no último terço. Pelo que pouco se notou que os belgas jogaram com menos um mais de meia-hora, desde a expulsão de Ekkelenkamp, por entrada dura sobre Zaidu, aos 52m.

Com dez em campo, a equipa de Van Bommel encolheu-se, explorou o contra-ataque e o FC Porto não soube o que fazer com o adversário encostado às cordas, naqueles últimos 30 metros.

O Antuérpia, sexto classificado na Liga da Bélgica a onze pontos do líder St. Gilloise, discutiu o jogo até ao fim, mesmo com menos um jogador durante quase meio jogo. E isso só pode fazer soar alarmes.

Contra a equipa da cidade que é o maior polo mundial de lapidação de diamantes ficou mais evidente que este FC Porto não tem uma versão de luxo, capaz de impressionar quem vê esta equipa desfilar. Conceição bem pode pegar no disco rotativo, no óleo e no pó que, até ver, não foi capaz de moldar uma preciosidade em forma de criação futebolística.

Pode até lamentar as (seis) baixas e acenar com fragilidades de outros departamentos do clube, que, neste momento, é dele o martelo e escopo para burilar algo que se assemelhe a uma obra à imagem do seu criador, tal como aconteceu nas seis épocas anteriores.

O público sabe disso e expressou-o num sonoro assobio quando, aos 90 minutos, Muja falhou por centímetros o empate. Haveria, porém, palmas logo a seguir. A apreensão virou festa logo no minuto seguinte, quando o capitão Pepe subiu para de cabeça fazer por fim o golo de uma tranquilidade que está só no resultado.

O Dragão suspirou de alívio, mas está longe de poder encarar o que aí vem com uma confiança à prova de bala.