O FC Porto regressou às vitórias com um nível de conforto jamais visto no legado de José Peseiro. Dois golos em apenas oito minutos garantiram uma vantagem sem paralelo no passado recente do Dragão, catapultando os níveis de confiança e lançando as bases para a goleada (4-0).

Em fase de avaliação a todos os níveis no FC Porto, desde a unidade menos influente ao presidente Pinto da Costa, sentiu-se um ligeiro toque de mística no futebol praticado pela formação azul e branca.

José Peseiro apresentou uma equipa com cinco portugueses e viu os dois jogadores de campo com maior longevidade no plantel – Silvestre Varela e Hector Herrera – a deixar os adeptos com saudades de outros tempos. De pose altiva, segura e formosa.

Varela e Herrera (a par de Hélton) ainda se lembram da última conquista do FC Porto. Estavam lá, na Supertaça de 2013. Coincidência ou não, seriam eles a indicar o caminho em dia de eleições no clube, com a esperança de um mandato de sucesso, extensível à equipa de futebol.

O Nacional, que pontuara em oito dos últimos dez jogos, nunca se aproximou daquela postura incómoda das anteriores visitas ao Estádio do Dragão. A estratégia de Manuel Machado ruiu após o pontapé madrugador de Varela.

FILME DO JOGO

É justo lembrar que Hector Herrera e Silvestre Varela não são dois nomes consensuais junto dos adeptos portistas. Porém, ambos demonstraram a sua utilidade, com olhos postos no futuro. Danilo Pereira, esse sim um menino-querido da massa associativa (plenamente justificado), marcou o golo da nova vaga.

A mística desejada pelos saudosistas poderá vir dos elementos mais antigos e crescer em torno de jovens com tempo de casa – Rúben Neves, Sérgio Oliveira ou André Silva, lançado neste domingo – ou elementos que têm a mentalidade desejada para um clube com a exigência do FC Porto: Danilo Pereira e Maxi Pereira, por exemplo.

O quadro feliz tem como base dois golos madrugadores e torna-se fácil trabalhar sobre uma base como esta. Se o Nacional tivesse reduzido até ao intervalo, quando beneficiou de um par de oportunidades para tal, a ansiedade podia voltar. Mas tal não aconteceu.

Tudo correu da melhor forma ao FC Porto e o pontapé de Silvestre Varela foi um bom indício nesse sentido. De novo titular, face ao castigo de Brahimi, o português derivou da esquerda para o centro, envolveu-se em jogada de entendimento com Corona e Maxi, recebeu do uruguaio e marcou um daqueles remates de pé esquerdo que tanto podem levar a bola para a Via de Cintura Interna como para o fundo das redes contrárias. Arriscou e foi feliz.

Decorem um nome nesta história: Jesus Corona. O mexicano estava em dia sim, o que nem sempre acontece. Quando acerta o ritmo demonstra ser uma tremenda mais-valia, justificando o avultado investimento azul e branco.

Ao oitavo minuto de jogo, perante uma iniciativa do Nacional, o FC Porto respondeu em contra-ataque e a bola chegou a Corona. Cruzamento tenso, o domínio de Herrera à entrada da área com o pé esquerdo e a finalização com o mesmo recurso. Dois destros a marcar com a canhota.

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A formação visitante tinha demonstrado tremenda eficácia na jornada anterior, frente ao Estoril (4-1) mas não conseguiu manter os níveis no Estádio do Dragão. O possante Tiquinho Soares deu várias dores de cabeça a Indi e Danilo sem balançar as redes contrárias.

Na contabilidade final, de qualquer forma, domínio evidente do FC Porto. Basta referir que Rui Silva assinou uma exibição soberba na baliza do Nacional, embora tenha sofrido quatro golos.

O jovem guarda-redes português travou ensaios de Hector Herrera e sobretudo André Silva, para desespero do ponta-de-lança, que abandonou o relvado com nota positiva mas sem o ansiado festejo.

João Aurélio, vindo do banco, foi o único a incomodar Iker Casillas na etapa complementar. Do outro lado, o FC Porto entrava em modo festival, com combinações vistosas, adornos em dose certa, um regalo para a vista.

O terceiro golo portista surgiu ao minuto 67, após a derradeira nega de Rui Silva a André Silva. Jesus Corona, sempre ele, a cruzar com regra e esquadro para a cabeça de Danilo Pereira. Belo jogo do mexicano.

José Peseiro não podia estar mais satisfeito com o rumo do encontro e geriu emoções. Lançou por exemplo Francisco Ramos, dando tempo de jogo ao médio da formação portista. Antes, porém, reabilitou Aboubakar e o camaronês respondeu com um golo sublime, um toque de classe já ao cair do pano.

Clima de aparente união na família portista, palmas e cachecóis pelo ar no final do encontro, sinais de esperança em dia de reeleição de Pinto da Costa. Será para durar?