O Benfica voltou à estrada triunfal na Liga com uma viagem não imune a sobressaltos em Paços de Ferreira. Jonas, o pistoleiro, impôs a lei do faroeste no Estádio da Mata Real. Três golos e três pontos para a equipa de Rui Vitória (1-3), após a vitória tangencial frente ao Zenit.

Na época dos comboys havia um processo mais simples e sem margem para discussões. Dois homens, um de cada lado, e duas pistolas. Por norma, triunfava quem disparasse primeiro, embora um tiro mal direcionado fosse o suficiente para colocar a vida em risco e permitir o esboço de reação do adversário.

Mas vamos ao que interessa. Ao que é – infelizmente - incontornável, saliento. Nesse tempo não havia ninguém com autoridade para mediar o conflito e gerar dúvidas. Se os próximos dias forem passados a discutir lances polémicos em Paços de Ferreira será porque neste caso há um homem, Jorge Ferreira, a colocar-se em posição para tal.

A análise não será consensual, aceito, embora deixe pouca margem para arrependimentos: vendo e revendo os lances, parece exagerado marcar grande penalidade sobre Jonas ao minuto 44 como não faria sentido assinalar castigo máximo em lance de Bruno Moreira e Samaris, que valeu amarelo ao goleador do Paços.

Em cima do intervalo, Jonas furou entre adversários, Andrezinho meteu o pé mas a queda parece forçada. Perante lances não tão diferentes assim, Jorge Ferreira decidiu de forma diferente. Curiosamente, faria mais sentido assinalar outro, após o intervalo, entre Jonas e Hélder Lopes. Porém, o árbitro nem marcou nem considerou simulação. No fundo, um desempenho fraco e vulnerável.

Não que o Benfica tenha qualquer tipo de responsabilidade nisto, claro. Depois de abrir mão da primeira vantagem, cresceu com o 1-2 e dominou com relativa tranquilidade a etapa complementar. O Paços de Ferreira, remendado na defesa e na zona recuada do meio-campo, foi caindo de produção a par do seu principal desequilibrador: Diogo Jota.

A formação encarnada, com Carcela – nota positiva - em vez do lesionado Gaitán, marcou numa das primeiras oportunidades do encontro. O ala esquerdo fletiu para o centro e tocou para Jonas. Este devolveu de forma brilhante, com o calcanhar, e Carcela desviou para Mitroglou. O grego ainda contou com a ajuda de Hélder Lopes para balançar as redes.

Parecia um tiro decisivo, à moda do faroeste, mas o Paços não teve um efeito fatal. A equipa da casa sentiu a dor e aguento-a, provando ser uma das boas coisas desta Liga. O futebol positivo passa pelos pés de homens como Bruno Moreira, Andrezinho e sobretudo Diogo Jota.

Ao minuto 23, Jota viu André Almeida ficar pelo caminho após disputar lance aéreo e encarou os adeptos. Primeiro Eliseu, logo depois Lindelof. Por fim Júlio César. O guarda-redes estava demasiado adiantado e viu a bola entrar num espaço que devia ser seu. Uma obra de arte, de qualquer forma.

O Paços cresceu e acreditou em algo mais, com total legitimidade. Seria o Benfica, ainda assim, a criar um par de oportunidades para chegar a nova vantagem num período de exibição menos consistente. Lindelof falhou de forma incrível mas Jonas, na sequência do tal castigo máximo, assinou o 1-2 antes do intervalo.

Jonas, autor de uma exibição soberba na Mata Real, foi empurrando a formação encarnada na segunda metade. O domínio da equipa orientada por Rui Vitória tornou-se a partir daí evidente, enquanto os locais iam quebrando fisicamente. Jardel e Lindelof, as torres encarnadas, combinaram para o terceiro do Benfica já perto da hora de jogo.

Jorge Simão procurou refrescar o ataque – na defesa e no meio-campo pouco havia a fazer, perante a escassez de soluções – mas não se registaram grandes lances de perigo para a baliza de Júlio César. Seria Diogo Jota, numa breve aparição na etapa complementar, a causar o maior calafrio para o guarda-redes brasileiro com um remate de meia distância.

Rui Vitória aproveitou a reta final para dar minutos a algumas unidades como Salvio e Nélson Semedo. A última meia-hora deu para isso, com total mérito encarnado.