Quatro empates nos últimos cinco jogos, três pontos para o líder, quatro jogos por disputar: a candidatura do FC Porto ao título perde força a cada semana. V. Setúbal, Luz, Braga e agora Feirense, empates incompatíveis com o discurso e ambição teórica sobre a recuperação do domínio nacional.

Um mês duro para Nuno Espírito Santo e todos os portistas. Quando se impunha a afirmação de uma equipa convincente, regressaram as dúvidas, os medos, o bater descompassado do coração perante um quadro de pressão.

Inaceitável, pois, para um clube cuja história é feita precisamente de vitórias.

FICHA DE JOGO DO FC PORTO-FEIRENSE, 0-0

Decifrar esta obra de Nuno, nove meses após o arranque da pré-época, é mais intrigante do que o próprio Código Da Vinci. Em determinados momentos, o FC Porto aparenta viver em ilícito concubinato com o golo, como se essa fosse uma vida alternativa, dupla, longe dos bons ofícios familiares.

O FC Porto olha para trás do ombro, desconfiando, em profundo temor, agarrado às normas que Nuno quer e a equipa seguem. Algumas boas, outras sem nexo.
Nos próximos dias, o clube talvez se agarre a dois erros graves da arbitragem (penáltis por assinalar sobre Otávio e Ivan Marcano no segundo tempo), mas o mal vai muito além dos delírios arbitrais.

Neste caso concreto, o FC Porto deu novamente uma primeira parte de avanço. Até ao intervalo há um cabeceamento e um remate perigosos de Danilo, sim, mas sobretudo um futebol tipo paliativo, sem saúde e poucos sinais de vida.

Yacine Brahimi.

Sim, o argelino, apesar de ausente – ou, quiçá, por isso mesmo – merece uma linha só para ele. A dança, a irreverência, o veneno do argelino fizeram falta, muita falta ao FC Porto.

Diogo Jota estava na direita, pelo menos no desenho, mas os cruzamentos saíram quase em exclusivo dos laterais, principalmente do omnipresente Alex Telles.

DESTAQUES DO JOGO: Vaná e os centrais durões

André Silva voltou a ser um corpo estranho – demasiado mau, na verdade – e o meio-campo não teve um transportador de bola, um homem capaz de arriscar o drible e o jogo vertical. O Feirense, bem organizado e com dois homens inspirados no centro da defesa (Ícaro e Flávio) controlou com alguma serenidade o pouco que o FC Porto ameaçou.

NES terá achado precisamente o mesmo. Ao intervalo sacrificou o inexistente Óliver e lançou Otávio, uma versão aproximada de Brahimi, ainda a necessitar de afinações e evolução em jogo.

Cresceram os vasos comunicantes, aumentou a pressão azul e branca, o Feirense recuou, recuou, recuou… Muito mais futebol, muita mais intensidade e subida qualitativa com as entradas de Herrera e Rui Pedro (por André André e André Silva).

No Dragão, todos pensariam que o golo era uma questão de minutos. Mas os minutos avançaram e explodiram nas luvas de Vaná. Jogada atrás de jogada, remate atrás de remate, num jogo de espelhos quebrados, humor negro e desfaçatez. Bucha e Estica - Laurel e Hardy – não fariam melhor para animar as massas.

O Feirense foi ao limite. De carrinho, em saltos acrobáticos, de trampolim e de asas, os seus jogadores tudo resolveram, tudo cortaram. Raras vezes se vê uma equipa com tamanha entrega. 

Ícaro, aliás, voou perto do sol e nunca se queimou. Exemplar.

Alguém terá evocado o milagre de Rui Pedro contra o Sp. Braga. Mas nada feito. Maxi Pereira, de cabeça, deu a Vaná o derradeiro instante no palco principal. 90+4.

Este FC Porto tem, enfim, vezes a mais um desencontro congénito com o golo. Condição incompatível com o cargo que exerce no futebol português.