Um jogo que deveria ser um tubo de ensaio acabou transformado num teste de resistência. Ao choque, à raça e, até, à paciência. O FC Porto voltou a não ser brilhante, mas, mais positivo, voltou aos triunfos depois do empate na Madeira. É, à condição, líder isolado da Liga.
 
Essas são as boas notícias e o sumo do jogo. A história, essa, sobretudo para quem viu os 90 minutos do FC Porto-Estoril, é bem distinta. O que obriga a conclusões diferentes.
 
Julen Lopetegui tem a relevante atenuante de ter perdido mais de meia equipa titular da época passada, mas este FC Porto está ainda longe do que pode, e deve, fazer. Errático, macio, sem velocidade e com pouca imaginação. Teve-a apenas no golo que abriu o jogo, deixando água na boca para o que já muitos clamam: Brahimi pode ser o organizador de jogo desta equipa.
 
Foi isso que pensou o técnico espanhol, de resto, puxando o argelino para o centro do terreno, com as costas bem forradas pelos gigantes Danilo e Imbula e abrindo as alas a Varela e Tello. O tal tubo de ensaio que falávamos no início.
 
O problema é que o plano para este novo meio campo saiu furado. Não por culpa de Brahimi, que inventou o golo inaugural de Aboubakar logo aos 7 minutos, no primeiro assalto à área do Estoril. Nem por culpa de Danilo ou Imbula, embora o francês não tenha mostrado o pulmão que se esperava. O problema, essencialmente, é que os extremos não funcionaram esta noite. Não funcionaram no arranque, não funcionaram depois do golo e nem sequer no segundo tempo. O FC Porto jogou 90 minutos com as alas manietadas, para não dizer mais.
 
Se, para Tello, Lopetegui ainda teve alguma paciência (e falta de alternativas, convém dizer…), para Varela esgotou-se rápido. O português até começou bem a época mas esta noite foi, notoriamente, de menos. Saiu ainda na primeira parte para entrar André André. Um aviso de Lopetegui para a equipa e, ao mesmo tempo, um ponto final com o dado mais interessante do onze portista (que também teve Martins Indi como lateral, passando à frente de Angel e Cissokho): Brahimi voltou ao flanco e o esquema portista à casa de partida.
 
Maicon disfarçou noite de pouco fulgor
 
Agora o Estoril. Fica o elogio. Já na Luz, aliás, tinha deixado uma imagem que o resultado não traduziu. Voltou a fazê-lo no Dragão. Não entrou bem, é certo, e até demorou algum tempo a reagir ao golo de Aboubakar. Mas fê-lo. E com perigo.
 
Na primeira parte, Diego Carlos, por duas vezes, em outros tantos pontapés de canto, assustou Casillas, que ainda parou um remate de Léo Bonatini. O espanhol mostrou serviço, com mais estilo, no segundo tempo, voando para evitar o golo de Bruno César, numa altura em que a defesa portista tremia e levava Danilo por arrasto.
 
No meio de tudo isto e mesmo com o intervalo pelo meio, o FC Porto não mudava o figurino. Posse longe da baliza e nem um remate para amostra. Aliás, só voltou a alvejar a baliza contrária de bola parada. Primeiro Brahimi ficou perto, depois Maicon acalmou o Dragão, novamente com mais de 40 mil nas bancadas.
 
Kieszek pensou que o central iria atirar para o lado esquerdo, mas Maicon colocou-lhe a bola do flanco oposto, que deveria ser do polaco. Um passo ao lado impossibilitou a defesa e o FC Porto fazia 2-0.
 
Pesado para o Estoril, que mais tarde perdeu Anderson Luís, lesionado em choque com Herrera. A equipa de Fabiano Soares perdeu, de vez, o jogo quando ameaçava o empate. Uma nota que nem todas as equipas que jogam no Dragão merecem, mesmo que, na reta final, com o Estoril partido, Osvaldo, em dois lances e Tello, noutro, tenham ameaçado tornar mais feliz a noite portista.
 
Não deu, mas fica o essencial: os pontos levou-os o FC Porto. Em esforço e sem brilho. A dois dias do fecho do mercado percebe-se que há espaço para mais opções como o há para esta equipa crescer. Aliás, só pode crescer e, do mal, o menos, certamente Lopetegui prefere potenciar esse crescimento em cima de vitórias. Mesmo que suadas como esta.
 
Nota final para Duarte Gomes: dois erros nos minutos finais, ambos a prejudicar o FC Porto. Ficou por assinalar penálti por mão na bola de Mano e foi mal tirado um fora de jogo a Herrera num lance que acabou no fundo da baliza do Estoril. Sem influência no resultado.