O horário e o estado do tempo faziam lembrar uma questão que se eternizou em Inglaterra. «Can they do it on a cold rainy night in Stoke?», o que traduzido para a Língua de Camões significa «conseguem fazê-lo numa noite fria e chuvosa em Stoke?». Em Portugal, numa noite chuvosa, cinzenta e, já agora, a horas pouco dignas, o FC Porto conseguiu.

Quatro dias após a dolorosa derrota ante o Sporting nos penáltis, os dragões superaram um obstáculo chamado Belenenses (3-0) e mantiveram intacta a distância para o duo perseguidor no topo da Liga. Como bónus, aumentaram para dez a distância para os leões.

Ficha e filme de jogo


Livre dos regulamentos, Conceição pouco mexeu em relação à final com o Sporting, trocando apenas André Pereira por Soares e Vaná por Casillas. No entanto, o primeiro lance de destaque teve dois velhos conhecidos como protagonistas: Corona e Brahimi. Mas já lá vamos.

Carles Rexach, fiel companheiro de Johan Cruyff, disse uma vez que correr era um ato de cobardia em alusão às equipas que apenas se preocupavam em não jogar. A formação de Silas nada tem de cobarde e provou-o num dos maiores palcos do futebol nacional. O conjunto de Belém veio ao Dragão para jogar e foi fiel à sua identidade. Saiu quase sempre a jogar – consciente do risco que isso acarreta – e não raras vezes conseguiu transições interessantes. Contudo, na primeira vez que errou pagou caro.

Logo aos seis minutos, Corona antecipou o passe de Sasso para Eduardo, saiu disparado e só parou quando entregou para Brahimi dentro da área. O argelino não falhou o penálti em andamento e deu início à vitória azul e branca.

A espaços, o Belenenses foi capaz de ter posse de bola e evitou o asfixiamento que a equipa de Conceição tanto gosta. Numa jogada bonita – num relvado ensopado, diga-se – Licá assustou Casillas com um remate às malhas laterais (18’). Minutos antes, Soares tentou o 2-0 à entrada da área, mas Muriel opôs-se com qualidade.

Sem realizar uma exibição brilhante na primeira metade, os campeões nacionais chegaram ao intervalo a vencer por 2-0, através de uma jogada dita de laboratório, criada na mente de Conceição. Livre a meio do meio-campo ofensivo, Corona deu curto para Óliver que, de imediato, abriu em Telles. O cruzamento foi perfeito e a cabeçada de Militão irrepreensível.

O Belenenses tem estatuto de equipa que luta pela Europa pelo futebol que pratica e não só pela posição que ocupa na tabela. Por isso, não foi de estranhar que tenha feito o adversário sentir-se desconfortável na partida, especialmente no início do segundo tempo.

Porém, antes do desconforto do dragão, Marega viu Muriel negar-lhe o 3-0 com uma palmada, mantendo a discussão do resultado em aberto. A partir desse lance, e como já se escreveu, o Belenenses somou aproximações à baliza de Casillas. Houve um erro de Alex Telles que por pouco não deixou Licá isolado – valeu o guarda-redes espanhol –, um pontapé de Henrique ligeiramente ao lado e ainda um par de remates intercetados por jogadores de azul e branco in extremis.

Face à falta de aproveitamento do oponente, os portistas arrumaram o jogo. Numa jogada toda construída na direita, Óliver redimiu-se da perdida na cara de Muriel (65') e assistiu o regressado Soares para o 3-0.

Nos últimos vinte minutos e já com o Belenenses completamente entregue, o FC Porto sufocou autenticamente e podia ter chegado à goleada. Valeram Muriel e a falta de acerto na finalização.

Yes, they did it on a cold rainy night.