O futebol dá voltas. É de reencontros. E o de Rafa Silva com o Feirense parece mesmo ser desta. Em terras onde se recria anualmente a época da idade média, mora ali o passado que fez o atual extremo do Benfica despontar no futebol português. O Feirense-Benfica, da 27.ª jornada da Liga, tem tudo para ser o primeiro jogo para o campeão europeu na terra dos fogaceiros.

Já houve, porém, ocasião para tal. «O miúdo da camisola do Ajax que não pagava para sonhar» podia ter defrontado o Feirense na época passada, quando o Benfica venceu na Feira por 1-0 (marcou Pizzi). Estava nos eleitos, mas Rui Vitória deixou-o no banco.

Rafa esteve dois anos no Feirense: época 2011/12 nos juniores, a seguinte nos seniores, com 11 golos em 47 jogos nesta a captarem a atenção do Sp. Braga. Depois, o Benfica. Mas em quatro épocas e meia, nunca jogou ante o Feirense.

Como será o regresso?

«Espero que seja o melhor em campo e que perca. O Feirense necessita de pontos. Queria que o Rafa jogasse bem, mas que o Benfica perdesse». Palavras de Adolfo Teixeira, seu treinador nos juniores do Feirense, acreditando que o extremo não festejará se marcar, «por respeito». «Até gostava que marcasse, mas que estivesse a perder 2-0 e que marcasse em cima da hora», atira.

Quem da Feira também conhece Rafa é Henrique Nunes, o treinador que o lançou no futebol profissional, em 2012/13. O técnico acredita que o ex-pupilo será «sempre bem-vindo» e lança o atual momento do jogador de 24 anos.

«O Rafa atravessou um mau momento no Benfica. A vinda a Santa Maria da Feira coincide com o Rafa muito perto daquilo que ele pode fazer, estando a afirmar-se, nesta fase, no onze inicial», constata Nunes.

Ora, Rafa chega à Feira num dos melhores períodos nos encarnados. A lesão de Salvio fê-lo entrar no jogo com o Rio Ave, a 3 de fevereiro. E foi titular nos cinco jogos seguintes. Uma marca idêntica à da época passada, que pode agora ter novo recorde – seis – caso seja primeira opção de Vitória no Marcolino de Castro.

Mas a era de Rafa no Benfica tem conhecido sobejas intermitências. De não convocado a suplente não utilizado. De suplente utilizado até titularidades isoladas. Inibição e confiança podem estar na base. Fala quem conhece.

Rafa fez a primeira época de profissional no Feirense, em 2012/13

«Precisa de apoio, não é muito desinibido»

Adolfo Teixeira reconhece «potencial» a Rafa nesta altura, mas admite que se «ele tivesse aspirações de ir ao Mundial, teria de sair» do Benfica a meio da época. «Acaba por ter sorte na altura em que se lesiona o ala [Salvio] e tem a oportunidade. Agarrou com unhas e dentes. O que faz a confiança é o jogar», acredita o ex-treinador, lembrando que Rafa «precisa de apoio». «Não é muito desinibido», completa. E dá o exemplo da reserva do extremo no Feirense-Benfica da última época.

«No aquecimento viu-se a timidez dele. Podia saudar a assistência [do Feirense] e esteve sempre de costas para a bancada. Está alheio ao que se passa em redor do campo», qualifica Adolfo.

Por seu turno, Nunes fala da «ascensão muito rápida» como motivo. «Não por ter ido do Feirense para o Braga, do Braga para o Benfica. Mesmo em termos de seleções. Acho que não teve tempo para crescer numa grande equipa e está a fazê-lo agora», defende.

Último passe e finalizar: o que falta

Em comum, Adolfo e Nunes encontram em Rafa um antigo jogador. Mas também défice atual em dois aspetos decisivos na função ofensiva: último passe e finalização.

«No jogo, pode perder dois ou três lances, que continua a tentar. Não tem medo de bola nos pés. Falta-lhe só decisão no último passe e no golo. Se ele conseguir, é jogador. Penso que vai ser dos melhores jogadores em campo, mas o Benfica vai ter dificuldades», analisa Adolfo.

«Em definição do último passe, tem que saber definir melhor. Quer para finalizar, quer para complementar uma jogada», analisa Nunes.

Titularidade e recorde. Regresso à Feira e confirmação do bom momento. A atentar 18h15 do próximo sábado, com o Castelo da Feira como pano de fundo.

Rafa nos juniores do Feirense, época 2011/12: o terceiro na fila de baixo, da direita para a esquerda