Algures na dicotomia entre felicidade e sofrimento encontra-se a explicação para o triunfo do Rio Ave, esta noite, frente ao Sp. Braga. Sofrer para ser feliz ou sofrer porque se foi feliz. A forma de encarar o que se viu esta noite pode variar, mas as duas componentes precisam de lá estar. O Rio Ave foi feliz. O Rio Ave sofreu. Por fim, o Rio Ave venceu.
 
E se, quando fez o golo, nada tinha mostrado que o justificasse, a forma aguerrida como agarrou os três pontos e como a equipa se uniu em torno da adversidade da expulsão de Nelson Monte, no segundo tempo, para segurar a primeira vitória da época já deixavam espaço para um final destes. Se calhar, o Rio Ave até merecia a vitória. Quem sofre, merece ser feliz.
 
E, apetece dizer, quem tão pouco faz quando muito se espera, também merece o dissabor. Falamos do Sp. Braga claro. Superior, mas não muito, em igualdade numérica. Titubeante em vantagem. Inexplicável, claro.
 
É verdade que o futebol está cheio de exemplos de equipas que se agigantam em inferioridade e outras que se encolhem, pela pressão, quando são empurrados para a baliza contrária. Mas quando se é, durante tanto tempo, melhor contra onze, por que mudar contra dez?
 
A equipa de Paulo Fonseca nunca foi brilhante em Vila do Conde. Nem perto disso. O esquema de dois avançados ainda não é confortável, sobretudo porque a dupla Cristán-Rodrigo Pinho (e depois Stojiljkovic) precisa afinar muito mais a parceria.
 
Ao miolo o que sobrou em raça faltou em ideias. Os extremos tentaram, mas só eles. Pouco mais. Fonseca precisa afinar o esquema porque o Sp. Braga terminou a primeira parte praticamente sem uma ocasião para marcar.
 
É verdade que o Rio Ave também só teve uma. Mas a diferença é que concretizou-a. Livre de Bressan, ao minuto 36, para o coração da área. Hassan e Tarantini fizeram-se à bola e foi o egípcio a desviar de cabeça. Um golo caído do céu na primeira tentativa. 
 
No segundo tempo, Fonseca tentou o mesmo golpe de asa da primeira jornada lançando Roman para o lugar de Pedro Santos. O espanhol tentou, pelo menos. E com estrondo. Na entrada do último quarto de hora rematou forte e Cássio só desviou para a trave. O mesmo Cássio que, pouco depois, negou o golo também a Djavan, assumindo papel decisivo na vitória.
 
Nessa altura já o Rio Ave jogava com dez, convém reforçar. Nélson Monte viu dois amarelos em poucos minutos. O primeiro por se embrulhar com Vukcevic, o segundo por uma falta sobre Stojilijkovic a meio do seu meio campo. A falta existiu, claro, mas não era descabido que João Capela tivesse guardado o cartão.
 
Ao mostrá-lo foi ele próprio a ditar a toada para o resto do encontro: pressão bracarense, união do Rio Ave. Venceu a segunda porque a primeira só o foi a espaços.
 
O Rio Ave voltou a bater o Sp. Braga, algo que se vem habituando a fazer nos últimos anos. Se na temporada passada foram os minhotos a rir, nesta o verde voltou a sobrepor-se ao vermelho.

Com muito sofrimento e felicidade à mistura, sim. Mas com o mesmo resultado de sempre: três pontos.