José Viterbo somou a primeira derrota no fim de um daqueles jogos em que teve demasiado sentimento de Coimbra: aprendeu a dizer saudade, como cantava Amália, e soube respeitar as tradições.
 
O que não é estranho nele, que dizem amar tanto a cidade e o clube.
 
Mas o mundo mudou. O livro já não é uma mulher e sobretudo já não passa só quem souber. O Benfica fez questão de lho mostrar da forma mais dura possível.
 
Confira a ficha de jogo e as notas dos jogadores

Antes de mais é preciso dizer que Viterbo preparou a Académica na tradição antiga dos pequenos se fazerem ainda mais pequenos no campo de um grande.
 
Começou três centrais ao centro, numa linha de cinco defesas, mais quatro médios. Nove jogadores, portanto, que se aglomeravam à entrada da área, deixando duas pontas soltas: o guarda-redes numa e o ponta de lança na outra.
 
A Académica tinha só uma intenção: defender, defender e defender ainda mais.
 
Não tinha bola, não tinha saída e não tinha forma de arranjar profundidade ofensiva. Uma estratégia de clube pequeno de antigamente, lá está.
 
O Benfica entrou no jogo a mandar e a carregar sobre a baliza. Nada de inesperado, portanto. O que foi mais inesperado, isso sim, foi aquela impressão dos jogadores da Académica de que eram piores do que realmente podiam ser.
 
Aquele sentimento de pequenez.
 
Ora por isso, e nas duas primeiras vezes que chegou à baliza da Académica, o Benfica marcou. Iago e Ricardo Nascimento cometeram erros fatais, deixaram Jardel e Jonas, respetivamente, ganhar-lhe nas alturas e cabecear para golo.
 
Dois golos antes de encerrado o primeiro quarto de hora.


 
A partir daí a Académica, que já não sentia ser grande coisa, tomando em consideração que não estava preparada para jogar, estava só preparada para sofrer até ao limite do razoável, a partir daí a Académica, dizia-se, veio completamente abaixo.
 
Tanto assim que pouco depois Fernando Alexandre cometeu falta dentro da área sobre Lima e provocou um penálti que o próprio Lima converteu.
 
Tudo isto até aos vinte minutos: vinte minutos de sentido único.
 
Com o jogo resolvido o Benfica relaxou.
 
Continuou a ter a bola, a mandar no jogo e a procurar a baliza adversária, mas fazia-o já sem urgência. Dava para tudo, aliás: até para Gaitán fazer dois passes de calcanhar e para Salvio envergonhar Oualembo com um túnel.
 
A segunda parte foi mais do mesmo, é preciso dizê-lo desde já.
 
O Benfica continuou a jogar com dinâmica, tirando os jogadores da zona de pressão para fugirem à marcação e baralharem as contas da Académica. Já a Académica, por outro lado, defendia com muitos mas nunca encontrou forma de se entender com a agilidade do futebol encarnado.
 
Por isso Jonas fez o quarto golo, logo a abrir a segunda parte: outra vez após assistência de André Almeida, ele que teve um regresso feliz à titularidade.

Veja os destaques do jogo: um Jonas sempre igual e um Pizzi sempre diferente
 
José Viterbo corrigiu entretanto o erro, fez subir Iago para o meio campo, juntou-o a Fernando Alexandre e Mineiro e devolveu a equipa ao 4x3x3 tradicional. Mas a Académica já era por esta altura uma equipa sem ânimo. O Benfica, esse, continuou a desperdiçar várias ocasiões de golo.
 
Até ao fim Rafael Lopes ainda reduziu, no único remate da formação de Coimbra à baliza, e Fejsa fez o 5-1 final, num golo muito celebrado pelos adeptos: que encheram o sérvio de carinho, aliás, no regresso após um ano de ausência por lesão.
 
O marcador mudou, mas o essencial do jogo não.
 
O Benfica ganhou um encontro que se tornou demasiado fácil pela falta de oposição. A Académica não quis jogar, só quis defender, e por isso perdeu e perdeu bem: somou a primeira derrota desde 25 de janeiro.
 
O estado de graça de José Viterbo pode ter acabado.