O Boavista preparou-se para a guerra.

Contou os homens, limpou as armas, definiu uma estratégia. Pressionava forte, defendia bem e saía rapidamente, quase sempre privilegiando a direita do ataque, por onde Renato Santos ameaçava ser um soldado de infantaria corajoso e arrojado em cima de Zeegelaar.

Durante vinte minutos a coisa funcionou bem e os axadrezados não foram inferiores ao Sporting. Mas foram apenas vinte minutos.

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Depois surgiu um imponderável: os danos colaterais. Ou neste caso os danos com os laterais.

Este Sporting já aprendeu que na guerra vale tudo, não há cavalheirismos, nobrezas ou cortesias. Por isso foi letal a aproveitar as baixas do adversário e a construir uma vantagem que se tornou essencial no desembrulhar da história.

Quantas vezes não lhe faltou ser assim letal durante a época?

Enfim, em frente. Para dizer que Talocha fez um passe mal medido que permitiu a Podence recuperar a bola, lançar Schelotto e esperar que Alan Ruiz marcasse o primeiro.

E para dizer também que Bruno César foi inteligentíssimo a perceber o passe atrasado de Edu Machado, a interceptar a bola e a servir o golo numa bandeja a Bas Dost.

Entre um e outro golo passaram nove minutos, que foi o tempo que o Boavista demorou a entregar-se. Sem capacidade para reagir, não lhe restou outra opção que não a rendição.

O Sporting, apoiado por mais de 42 mil pessoas nas bancadas, embalou então para uma das noites mais agradáveis dos últimos tempos.

Uma noite de inteligência, audácia e, também neste caso, estratégia.

Recuou ligeiramente as linhas para perto da linha de meio campo, obrigou o adversário a subir no terreno, pressionou forte e saiu rapidamente para o contra-ataque. Apanhando quase sempre o adversário fora das posições em que devia estar.

Podence e Bas Dost ficaram então muito perto do golo, sobretudo o primeiro que surgiu isoaldo na cara de Micka Meira, com tempo para tudo, até para falhar um golo certo.

Ora por falar em Bas Dost, interessa dizer que a segunda parte foi dele, que fez dois golos e voltou ao primeiro lugar da corrida à Bota de Ouro, em igualdade com Lionel Messi e à frente de Aubameyang e Lewandowski. O holandês não desiste do sonho, portanto.

Bruno César, o melhor amigo de Bas Dost: veja os destaques do jogo

O Boavista, esse, perdeu em toda a linha.

Começou o jogo com uma má notícia, com a lesão de Vagner que obrigou Michael Meira a saltar para a titularidade. Durante os noventa minutos não conseguiu fazer mais do que um remate à baliza de Rui Patrício. No final, claro, saiu vergado a uma goleada.

O Sporting, por outro lado, igualou a melhor série da época, registando quatro vitórias seguidas. Curiosamente a outra melhor série tinha sido logo no arranque da época, nas primeiras quatro jornadas. Entre uma e outra o Sporting perdeu o comboio do título.

Provavelmente porque não soube ser letal como hoje a aproveitar os danos com os laterais. Perdão, colaterais.