Ora então onde é que íamos, antes de sermos interrompidos pela febre das seleções e do Euro? A pergunta faz sentido para muita gente, ou não tivesse havido pelo meio 11 dias com os clubes em serviços mínimos e com as festividades da Páscoa a diluírem as memórias. Bom, acabou-se a vida fácil: nesta sexta-feira está de volta a Liga, com o Benfica-Sp. Braga, grande cartaz da 28ª jornada. Faltam sete para o fim, os três primeiros estão separados por seis pontos e há mais uma série de curiosidades que vale a pena relembrar. Sim, isso do Euro é muito bonito mais ainda vem longe. Agora é tempo de retomarmos o fio à meada.

Paulo Fonseca vs. Rui Vitória

No jogo da primeira volta, em Braga, o duelo de treinadores nas salas de imprensa até foi lançado por uma frase bem-humorada de Paulo Fonseca. Depois, aconteceu o que nunca tinha acontecido no futebol sénior – uma equipa de Rui Vitória ganhar a uma orientada pelo atual treinador do Sp. Braga. Até esse dia 30 de novembro, em que o Benfica se impos com dois golos nos primeiros 15 minutos, o saldo era inteiramente favorável a Paulo Fonseca, que – no Desp. Aves, no Paços de Ferreira e no FC Porto - somava quatro vitórias e cinco empates nos nove jogos com o antigo técnico do V. Guimarães.

À décima, inverteu-se a tendência – e a vitória benfiquista em Braga embalou os encarnados para a recuperação que lhes permitiu chegar ao topo da Liga, depois de uma falsa partida com três derrotas nas sete primeiras jornadas.

Quebrado o enguiço, naquela que foi, até ao momento, a única derrota caseira do Sp. Braga, é sem surpresa que Rui Vitória surge, agora, como favorito no 11º frente a frente com Paulo Fonseca – que nunca venceu na Luz, somando por derrotas os três jogos que aí efetuou para a Liga, ao serviço de Paços de Ferreira e FC Porto. A única vez que não perdeu foi na meia final da Taça de 2012/13 (empate 1-1), numa eliminatória que já estava praticamente sentenciada com o triunfo encarnado em Paços na primeira mão.

De resto, o Sp. Braga não tem conseguido replicar na Luz as dificuldades tradicionais que cria ao Benfica na pedreira: nas últimas sete visitas para a Liga, somou apenas um empate, com Peseiro aos comandos, na jornada inaugural de 2012/13. Alargando um pouco mais a pesquisa, a única vitória do Sp. Braga em casa do Benfica, em 1954 (0-1, golo de Imebloni), data de um tempo em que os encarnados ainda nem jogavam no estádio da Luz. Um cenário totalmente diferente do que se verifica se considerarmos os jogos disputados em Braga – onde, nos últimos dez anos, a balança se inclinou ligeiramente a favor dos minhotos.

Alargando a todas as competições, então sim, há registo para uma vitória recente dos minhotos – em dezembro de 2014, para a Taça (1-2) – na caminhada dos homens então comandados por Sérgio Conceição rumo ao Jamor. Mas mesmo aí é difícil encontrar paralelismos já que dos 14 jogadores utilizados pelo Sp. Braga apenas quatro estão atualmente às ordens de Paulo Fonseca (no Benfica, há sete que permanecem).

Sporting: o melhor rendimento desde 1980

À espera de um deslize encarnado, que lhe permitiria reforçar a candidatura a um título que lhe escapa desde 2002, o Sporting só joga na segunda-feira, diante de um Belenenses que tem saldo zero nos cinco jogos com os grandes, esta época (1-18 em golos, embora tenha criado grandes dificuldades ao Sporting em Alvalade).

A verdade é que, nesta altura, os leões já não dependem apenas deles próprios para chegarem ao primeiro lugar – isto apesar de apresentarem o melhor rendimento dos últimos 46 anos, no que se refere a pontos conquistados.

Desde 1971, ano em que o campeonato passou a ter um mínimo de 30 jornadas (antes terminava na ronda 26), só por uma vez o Sporting chegou à 27ª jornada com melhor rendimento do que na época em curso. Foi em 1979/80, quando contava 21 vitórias e quatro empates que, equivalendo à vitória a três pontos, corresponderiam atualmente a 67 pontos, mais dois do que os conseguidos até agora com Jorge Jesus.

Quer isto dizer que o atual Sporting, mesmo correndo o risco de terminar a época sem outro troféu para além da Supertaça, tem por esta altura um rendimento pontual superior ao conseguido pelas equipas que venceram os títulos de 1982, 2000 e 2002. Curiosamente, embora nessa época de 1979/80 o Sporting tenha acabado por ser campeão também estava, à 27ª ronda, em segundo lugar, um ponto atrás do FC Porto. A diferença, significativa, é que então, tratava-se de um campeonato a 30 jornadas e a meta estava muito mais à vista do que na atualidade – e o calendário era bem menos exigente do que nesta época.

Arouca é quem mais sobe

Contabilizando as perdas e ganhos de pontos em relação à época passada, o Sporting é o único dos grandes a melhorar registo (+ 8 pontos), enquanto Benfica soma menos um e o FC Porto menos quatro do que em igual fase da época 14/15. Deixando de fora Tondela e U. Madeira, sem termo de comparação, há seis equipas que melhoram o rendimento e nove que perdem pontos. Apenas uma equipa – o Sp. Braga – mantém exatamente o desempenho da época passada, com os mesmos pontos e a mesma posição (4º).

No capítulo das perdas, é o V. Guimarães quem lidera, somando menos nove pontos e caindo cinco lugares. Belenenses (-6) e Boavista (-5) completam o pódio, com FC Porto, Moreirense e Académica logo atrás (-4).

Já nos ganhos, a subida de rendimento do Sporting, como já vimos, impressiona. Mas, ainda assim, não tem comparação com a registada pelo Arouca, que sob o comando de Lito Vidigal soma mais 18 pontos e subiu 11 posições em relação à época passada (de 16º para 5º). O Estoril completa o pódio das equipas que melhoram (também mais 8 pontos e cinco posições ganhas) enquanto V. Setúbal, Rio Ave e Nacional registam melhorias menos significativas.

Dragão: três em linha, finalmente?

Depois das vitórias sobre o U. Madeira e em Setúbal, o FC Porto tem a oportunidade de conseguir algo que ainda não fez em 2016. A última série de três vitórias consecutivas do Dragão foi ainda com Lopetegui ao comando, em dezembro de 2015, com a terceira dessas vitórias, sobre a Académica, a valer mesmo a subida episódica ao primeiro lugar da tabela – perdida logo depois em Alvalade.

Diante do Tondela, José Peseiro tem uma oportunidade de ouro para dar alguma estabilidade a uma equipa que já perdeu oito vezes desde a viragem do ano. E por falar em Tondela, lanterna vermelha destacado, com dez pontos a separá-lo da salvação, refira-se que a equipa de Petit, em ano de estreia no escalão principal, tem um dos rendimentos mais baixos dos últimos quarenta anos. Mas mesmo com a despromoção anunciada há várias semanas, há quem tenha feito pior, apesar de tudo: os 14 pontos em 27 jornadas, correspondenes a três vitórias e cinco empates, estão acima dos desempenhos de Gil Vicente, em 1996/97 (12 pontos, duas vitórias), do E. Amadora (2003/04) e do Penafiel (2005/06), ambos com 13 pontos e, ainda, do U. Leiria de 2007/08, que punido na secretaria terminou a época sem jogadores e com apenas 13 pontos em 30 jornadas.