O Marítimo desperdiçou uma oportunidade para chegar ao pódio da Liga e saiu mesmo derrotado do Bonfim, com três golos consetidos nos últimos dez minutos. Os madeirenses ainda chegaram em vantagem ao intervalo, num lance de bola parada, depois de uma primeira parte aborrecida, com muitas faltas e escassas oportunidades, mas depois não tiveram braços para travar a reação dos sadinos na segunda parte. Os visitantes ainda seguraram a vantagem até perto do final mas, depois de terem ficado reduzidos a dez, consentiram três golos de rajada.

Foi um Marítimo paciente, inteligente e matreiro que se apresentou no Bonfim para lutar pelos três pontos que o podiam catapultar para o pódio da Liga, sem assumir riscos, permitindo que o Vitória tivesse mais bola, para depois tirar proveito dos erros e, aí sim, imprimir velocidade ao jogo e procurar o golo. O Vitória, por seu lado, viu-se surpreendido com tanta bola nos pés, mas sem espaços para surpreender os madeirenses em contra-ataque como gosta de jogar. Foi, assim, uma primeira parte aborrecida, com escassas oportunidades, muitas faltas e um ritmo de jogo a puxar ao bocejo.

Confira a FICHA DO JOGO

O Marítimo até entrou forte, procurando pressionar à frente, com Edgar Costa e Piqueti bem adiantados nas alas, no apoio direto a Rodrigo Pinho. Um início de jogo em que o Vitória sentiu tremendas dificuldades para sair a jogar e ultrapassar a pressão alta dos madeirenses que contavam ainda com Jean Cléber e João Gamboa bem adiantados. Uma pressão que durou poucos minutos, uma vez que o Vitória acabou por encontrar uma porta de saída sobre a direita, onde Arnold Issoko tinha muito espaço, para fugir à pressão. O Marítimo acabou por recuar em toda a linha para tentar fechar essa porta por onde os sadinos faziam fluir o seu jogo.

A partir daqui o Vitória passou a ter mais bola, mas demasiados adversários pela frente até chegar à área de Charles. Foi nesta altura que o jogo se tornou feio, com faltas atrás de faltas, a impedir que o jogo ganhasse ritmo ou mesmo uma tendência. O Vitória, aparentemente, mandava no jogo, mas o Marítimo continuava à espreita, como é bom exemplo uma surpreendente arrancada de Piqueti que terminou com um choque com Trigueira na área. O Vitória procurava profundidade pelas alas, quase sempre pela direita, mas o melhor que conseguiu foi um remate à meia-volta de João Amaral.

O Marítimo voltava a criar mais perigo numa recuperação de bola de Jean Cléber que fuzilou Trigueira que veio a seu encontro. Já em tempo de compensação, o Marítimo acabou mesmo por chegar à vantagem, num lance de bola parada. Livre de Rodrigo Pinho, com a bola a sair tensa e rasteira. Trigueira, num primeior momento, defendeu para a frente e João Gamboa, mais rápido do que a defesa sadina, marcou na recarga. Um balde de água fria para o Vitória que parecia ter o jogo controlado, mas um golo que só podia fazer bem ao jogo.

Reação sadina, Marítimo sem braços

De facto, o Vitória entrou mais determinado na segunda parte, mais determinado em imprimir velocidade ao jogo, mais disponível para arriscar e o jogo melhorou a olhos vistos. Mas o Marítimo, desta vez, não entregou o jogo. Os madeirenses subiam linhas para obrigar o adversário a abdicar dos pontapés longos e a jogar de pé para pé, com menos velocidade e com mais probabilidades de cometer erros. O Vitória carregava com tudo o que tinha e Couceiro empurrava a própria equipa, prescindindo de Arnold [Costinha ficou a tomar conta da ala] para juntar Edinho a João Amaral e Gonçalo Paciência na frente. O jogo estava mais aberto do que nunca, mas foi o Marítimo que voltou a estar perto do golo, numa rápido contra-ataque conduzido por Cristiano a culminar com um cruzamento a que nem Rodrigo Pinho, nem Jean Cléber conseguiram desviar para as redes. A verdade é que a persistência sadina acabou por fazer mossa no adversário. Fábio Pacheco, com duas faltas em dois minutos, viu dois amarelos e acabou expulso.

Faltavam pouco mais de vinte minutos para o final e o Vitória carregou ainda mais, apoiado pelos adeptos que acreditavam num empate. Afinal de contas, dos quatro jogos que o Vitória fez em casa, três tinham terminado 1-1, o resultado que era perseguido no imediato. A pressão acentuou-se até que o balão rebentou mesmo, a dez minutos do final, num remate imparável de João Teixeira à entrada da área. Um golaço com a bola a ir à trave e ao solo antes de passar a linha fatal.

O Vitória, agora moralizado, queria mais do que empate e continuou a carregar diante de um Marítimo com menos um e cada vez mais apertado. O jogo passou a ter banda sonora. Assobios quando o Marítimo tinha a bola, palmas e gritos quando o Vitória atacava. Já em tempo de compensação, tal como na primeira parte, o Vitória acabou mesmo por consumar a reviravolta, com André Sousa a cruzar da direita para a cabeçada certeira de Gonçalo Paciência. Já não havia muitas vozes nas bancadas, mas o golo foi festejado como se tivesse sido marcado por todos.

Já com o cronómetro a dar as últimas, João Amaral, lançado por Edinho, ainda fez o terceiro do Vitória na conclusão de um rápido contra-ataque. Quem diria? Depois de uma primeira parte a puxar o bocejo, animação a rodos na segunda, com três golos a salpicar a festa sadina.