CAMINHOS DE PORTUGAL é uma nova rubrica do jornal Maisfutebol que visita o dia-a-dia de determinado clube dos escalões não profissionais. Tantas vezes na sombra, este futebol em estado puro merecerá cada vez mais a nossa atenção. Percorra connosco estes CAMINHOS DE PORTUGAL.

LUSITÂNIA DE LOUROSA, 1ª DIVISÃO DA A.F. AVEIRO

Em Lourosa é assim: as pessoas são conhecidas pelas alcunhas da família, passadas de geração em geração. O atual treinador do Lusitânia é Martelinho, o capitão é Polícia.

«A família da minha mãe é conhecida como os Martelos. A do meu pai, como Marretas. Quando comecei no Feirense, o meu primeiro treinador perguntou-me o nome e eu, como não gostava de Joaquim, disse Martelinho. Serve de homenagem à família e ficou até hoje», explica o técnico.

Hugo Silva, central, é capitão e Polícia. «A alcunha já vem dos tempos do meu falecido avô, que era conhecido como Polícia. Talvez por ser uma pessoa severa, não sei. A verdade é que ficou assim e a família passou a ser conhecida como os polícias. Nesta zona é assim.»

«Vim treinar à experiência e não me quiseram»

Voltemos a Martelinho, campeão nacional. Aos 38 anos, o antigo extremo do Boavista vai reforçando o seu currículo como técnico. Assumiu o comando técnico do Lourosa durante a época passada e quer continuar a crescer.

«Sou de cá, embora nunca tenha jogado pelo clube. Isto porque vim treinar à experiência e não me quiseram. Mas foi coisa da altura. Sou filho da terra e gostava de subir o Lourosa. Para além disso, também quero continuar a evoluir como treinador», frisa.

Martelinho iniciou-se como treinador na formação do Feirense, passando depois para os juniores do Boavista. «Comecei pela formação porque achei que era um passo importante. Entretanto, tive o convite do Lourosa. Deixei o Boavista no 5º lugar, peguei no Lourosa, ficámos no 3º lugar na época passada e agora lutamos pelo 1º.»

Treinador, presidente e jogador

Técnico do Lusitânia de Lourosa, presidente e jogador do Futsal Clube Cidade de Lourosa. «Fundei o Martelinho SC mas entretanto mudou de nome. Estamos na III Divisão, sou o presidente mas também jogo!»

«Já tenho alguma idade mas ainda sou rápido. Se dantes corria a 180 kms/hora, agora corro a 130 kms/hora. Jogo futsal há cerca de cinco anos, é uma forma de matar saudades e tentar não engordar. Olho em volta e vejo vários ex-jogadores gordinhos, enquanto eu tinha 70 quilos e agora tenho 72», salienta, entre sorrisos.

Joaquim Pereira da Silva, conhecido desde sempre como Martelinho, é um homem feliz. Faltou-lhe apenas ser internacional português. «Fui campeão pelo Boavista, venci uma Supertaça, fui às meias-finais da Taça UEFA e participei em duas Champions. Seria difícil pedir mais.»

«Faltou-me ser internacional, foi pré-convocado por três vezes mas é preciso ser realista, havia grandes jogadores nessa época para a minha posição. Tive uma carreira boa e hoje sinto que os meus jogadores e os adeptos me dão valor por isso», conclui.

O capitão que tem jogado pouco

Hugo Silva, o capitão Polícia, também caminha para o final da carreira. Tem 36 anos e passa por um período de utilização pouco regular. Satisfeito, ainda assim. «Acabei a época com uma lesão, foi mal curada nas férias e ressenti-me. Esteve dois/três meses parado e perdi o comboio. Nas outras épocas, joguei sempre mas também é sinal que a equipa está bem.»

«O mais importante é ver o Lourosa vencer esta corrida que será decidida ao pormenor com a Sanjoanense. Espero que seja o Lourosa mas será sempre uma tremenda injustiça para a equipa que ficar em segundo. Merecem as duas subir. Mas é a vida, o futebol não é feito de justiças», conclui o central.