DESTINO: 80's é uma nova rubrica do Maisfutebol: recupera personagens e memórias dessa década marcante do futebol. Viagens carregadas de nostalgia e saudosismo, sempre com bom humor e imagens inesquecíveis. DESTINO: 80's.
MAPUATA: BELENENSES, 1986 a 1988
A Torre do Restelo na década 80 era de ébano e chamava-se Richard Mapuata. Ponta-de-lança poderoso, autor de 21 golos no campeonato nacional entre 1986 e 1988.
«No balneário eu era o Matateu», atira ao
Maisfutebol, nos primeiros minutos de uma conversa que saltita entre o francês e o português, foge à marcação do jornalista e termina quase sempre num pedido de Mapuata: «envie os meus cumprimentos à malta toda do Restelo».
Aos 48 anos, Mapuata é diretor comercial de uma empresa de telecomunicações na cidade de Lyon, França. «E também treino uma equipa da IV Divisão», acrescenta o antigo goleador belenense, nascido no antigo Zaire.
Mapuata tem saudades «do sol, do peixe e das cervejinhas ao fim da tarde». Tem saudades «do maluco do Jorge Martins» e do «grande capitão Zé António». Tem saudades «do Mladenov, um craque dos pés à cabeça» e das «conversas com Djão».
«Tenho saudades do Belenenses e de Portugal», resume. «Foi o senhor Henri Depireux a levar-me para Lisboa. Ele tinha sido colega de equipa do presidente do meu clube no Zaire e quando me viu nem queria acreditar.
Em África ninguém vai conhecê-lo. O Mapuata vem comigo para Portugal».
E Mapuata foi. O Belenenses, importa recordar, lutava olhos nos olhos com os três grandes e cumprimentava com familiaridade as provas da UEFA. «No campeonato fomos sextos em 86/87 e terceiros no ano seguinte», sublinha Mapuata. Tudo certo, as perguntas param e o avançado fala, fala, fala.
«No Restelo vou ter de te marcar um golo»
16 de setembro de 1987, Camp Nou. De um lado, o Barcelona de Zubizarreta, Schuster, Lineker e Carrasco. Do outro, o Belenenses de Richard Mapuata, treinado já por Marinho Peres. Até aos 87 minutos, tudo controlado. «Estava zero a zero e o Barça aflito», ri-se Mapuata.
Num ápice, dois golos [Moratalla e Victor Muñoz]. «Acabei esse jogo a chorar. O Zubizarreta veio ter comigo, abraçou-me e eu disse-lhe:
no Restelo vou ter de te marcar um golo». Assim foi.
Caros leitores, o Barcelona caiu no Estádio do Restelo. Seguiu em frente na Taça UEFA, sim, mas perdeu e sofreu até ao derradeiro instante. Mapuata, naturalmente, cumpriu a promessa feita ao histórico guarda-redes catalão.
«O Mladenov ganhou uma bola na esquerda, entrou na área e fez-me um passe perfeito. Eu corri uns bons 30 metros e só tive de encostar. No final o Zubizarreta quis trocar de camisola comigo e disse-me a rir que um golo não fazia mal nenhum».
«Sabe que nunca marquei ao FC Porto?»
Mapuata não era um jogador qualquer. Pernas longas, musculadas, imponente no ar, viciado no remate e nas balizas opostas. «Eu acho que só o Fernando Gomes e o Madjer eram melhores do que eu nessa altura», declara, em tom amistoso.
«Foi por isso que o Benfica me quis. Mas o Marinho Peres estragou tudo». Mapuata trava e nós também. Não queremos interromper-lhe o discurso. «O meu amigo Depireux foi embora por uma estupidez e o Marinho Peres mudou muita coisa. Trouxe vários jogadores [Baidek, Zé Mário, Chiquinho Conde] e eu passei a jogar menos vezes».
No final da segunda época, Mapuata saiu do Belenenses. Jogou na Bélgica, na Suíça e radicou-se no país helvético. Tem uma família de desportistas e há alguns anos mudou-se para França.
«Um dos meus filhos, o Cedric (Makiadi), joga no Werder Bremen e os outros são basquetebolistas». Mapuata está bem, estável e feliz. Continua apaixonado pelo Belenenses e pelas «coisas boas da vida lisboeta».
Sábado, vai ver o clássico, sim o clássico, contra o FC Porto na televisão. «Às 18 horas? E temos hipóteses? Sabe que nunca marquei ao Porto?»
Um golo de Mapuata ao Sporting:
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2 nov 2013, 10:35
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