Depois de uma carreira de jogador «mediana», como o próprio classifica, Marco Silva tornou-se, em pouco tempo, um treinador muito valorizado. Em entrevista ao Maisfutebol diz-se pronto para outros voos.

O Marco Silva treinador já superou o Marco Silva jogador?

Claramente. Estamos a falar de durações diferentes, mas a minha carreira de jogador foi mediana. Joguei na Liga, mas a maior parte do tempo foi passado na II Liga. Sou treinador apenas há dezanove meses. Acho que um treinador não deve ser avaliado apenas pelos resultados, mas estou muito orgulhoso com o que tenho conseguido. Conseguimos coisas fantásticas. Se percebemos o estado em que o Estoril estava há dois anos, e como está agora, com um apuramento europeu histórico e a vender jogadores como está a vender, para clubes grandes do futebol português, são realidades completamente diferentes. E só passaram dezanove meses.

Ainda enquanto jogador já sentia que estava mais vocacionado para ser treinador?

Não sentia que estava mais vocacionado para treinador, mas era algo que me fascinava desde os 26 ou 27 anos. Comecei a tentar perceber o porquê das coisas, e não fazer por fazer. Nessa altura já tinha o II nível do curso. Com o passar dos anos fui alimentando mais esta paixão pelo treino e pelo jogo. Percebi que era algo que queria fazer no futuro e apareceu uma oportunidade que agarrámos.


Sente-se preparado para treinar um «grande»?

A minha carreira tem sido construída, nada foi dado de mão beijada. Deram-me uma oportunidade num momento difícil do clube, quando estava perto da linha de água. Estou eternamente grato pela oportunidade, e sinto que a agarrei, fazendo história neste clube. Sinto-me preparado e com ambição para treinar a outro nível, mas tudo será feito de uma forma sustentada, de uma forma tranquila, como gosto de estar no futebol. Quando os responsáveis de outros clubes acharem que o Marco deve estar a esse nível, cá estarei para conversar. Não faço planos. Não tem que ser amanhã, ou daqui a um ano, ou dois. É quando as pessoas entenderem que é o momento certo.

Mas se esse convite surgir amanhã está preparado?

Por que não? Sinto-me preparado, e sinto que a cada dia que passa estarei mais preparado. Sou muito exigente comigo, tenho ambição. Daqui a cinco ou seis anos terei de ser melhor, pois sou muito exigente.

Ao longo da época escusou-se sempre a comentar arbitragens. Foi uma filosofia do clube que passou para si, foi algo que passou para si para a equipa, ou foi uma estratégia conjunta?


Acredito que os jogadores têm muito a seguir as ideias do líder, neste caso do treinador. É uma questão pessoal minha. Não digo que nunca vou falar, mas tenho esse princípio. Não faz sentido comentar o trabalho do árbitro todos os jogos. Se eu erro, e os jogadores também, os árbitros também têm esse direito. Não acredito que o façam de propósito. Não é fácil perceber erros que influenciam um resultado, mas devemos ter o bom senso e a calma para não comentarmos logo, para não passarmos a semana a falar disso. E percebo que os jogadores sigam isso. É muito mais lógico trabalhar em cima do que fizemos, do que a primeira desculpa ser o trabalho do árbitro. Isto passa para os jogadores. Não obriguei ninguém a seguir isto, mas se calhar seguiram esse exemplo.

Mas num «grande» haverá uma pressão maior para falar dos árbitros? Será mais difícil manter esse princípio lá?

É possível. Não passei por essa experiência. Se chegar lá, cá estaremos para ver. O meu comportamento não irá fugir muito disto, mas tenho de perceber, a nível estrutural, aquilo que o clube pretende, qual a forma de estar do clube. Eu, por princípio, não desculpo o meu trabalho e da minha equipa com o árbitro.