Às vezes o futebol encarrega-se de nos dizer que não tem segredos. E é por isso que começamos pelo final. E no final – sim, sabemos que já se escreveu de todas as formas possíveis – ganha a Alemanha. E se essa lógica pode falhar uma vez, como mostrou o México, dificilmente se baralha duas vezes.

Toni Kroos mostrou-o no último minuto de descontos do jogo com a Suécia – mesmo no finalzinho -, a Alemanha venceu e baralhou todas as contas do grupo F. Até mesmo as do sensacional México que até pode acabar por não se apurar para os oitavos de final, apesar de ter duas vitórias nos dois primeiros jogos.

Mas já lá vamos. Porque quem está decidida a ficar longe de todas as contas é a Bélgica, que voltou a dar mostras de grande consistência e poderio ofensivo capaz de assustar. Que o diga a Tunísia, que perdeu 5-2. E já nem são só os nomes que atemorizam. De Bruyne, Hazard, Mertens e Lukaku por si sós, são sonantes, sim. Mas têm feito questão de ecoar também naquilo que importa.

Lukaku, por exemplo, bisou pelo segundo jogo consecutivo e apanhou Cristiano Ronaldo na liderança da lista de melhores marcadores. Hazard achou que as assistências não eram suficientes e apontou também dois golos. E a servir, estiveram os belgas de sempre, aos quais parece haver sempre mais gente a querer juntar-se.

Nesta segunda jornada, podemos juntar à orquestra de Roberto Martinez os nomes de Batshuayi e Meunier, por exemplo. Mas como esses, podiam ser outros que a música continuaria a soar bem. É verdade que os Diabos Vermelhos hoje mostraram que ainda desafinam na defesa, mas com o arsenal de soluções ofensivas de que dispõe isso até pode não ser muito grave.

E para confirmar o apuramento, a Bélgica só precisa que o Panamá não vença a Inglaterra, para, depois, decidir quem vence o grupo na última jornada, frente aos Três Leões. Mas para isso é preciso que a lógica prevaleça e quando a Alemanha não está metida ao barulho é menos certo que isso aconteça.

Quem também continua a dar boa nota de si é o México. Depois de vencer a Alemanha na estreia, a equipa de Juan Carlos Osorio tentou repetir a receita. Começou por ter dificuldades em consegui-lo, mas depois de chegar à vantagem graças a uma grande penalidade, teve o espaço que precisava para vencer (1-2) uma interessante Coreia do Sul, que mostra muito mais futebol do que os zero pontos mostram.

Heung-Min Son, a estrela da companhia coreana ainda deu um ar da sua graça, mas o golaço do jogador do Tottenham foi insuficiente para impedir o triunfo do belo coletivo que o México tem mostrado ter.

Mas há também aquelas equipas que quando o coletivo não consegue solucionar os problemas, contam com talentos individuais para as resgatar de momentos de aflição. E nem estamos a falar outra vez de um tal de Cristiano Ronaldo, mas de alguém que tem convivido com ele, ainda que num papel mais secundário, quase de guarda-costas: Toni Kroos.

Esse é o nome do herói que salvou a Alemanha de um provável afastamento humilhante na fase de grupos, com um a marcação exímia de um livre direto no último de cinco minutos de compensação do jogo com a Suécia.

Contudo, apesar de o resultado tenha sido o mesmo na prática – a lengalenga de que no final, ganha aquela que todos sabem – a Mannschaft experimentou diante da Suécia sensações que não lhe são habituais. Acima de todos, o de não ter o controlo da situação. O de parecer tudo perdido, mas ser resolvido não com a força do coletivo, mas com o golpe de um herói solitário. A Alemanha até pode partir da reviravolta com a Suécia para um Mundial convincente, mas, neste sábado, as coisas pareceram muito complicadas.

Isto, apesar de uma entrada forte que só foi travada por alguma infelicidade e por uma eficácia quase total da Suécia na primeira parte, que fez a equipa de Janne Andersson ir para o intervalo sem vantagem. Os germânicos voltaram a mostrar a frieza que se lhes conhece logo na abertura do segundo tempo, Marco Reus fez o empate logo no terceiro minuto, mas depois foi sofrer até ao fim.

Uma coisa muito pouco alemã, insistimos, desfeita na última oportunidade para tal por Toni Kroos. E aí temos uma Alemanha ainda a tempo de fazer dos dois primeiros jogos deste Mundial um percalço. Porque nisto do futebol, todos sabemos como funciona. Ou não.

FIGURA DO DIA: Lukaku. Ao fim de dois jogos, o avançado belga tem quatro golos marcados e mostra-se fundamental na estratégia de uma Bélgica que promete muito. Nesta quarta-feira tornou-se o primeiro jogador belga a marcar quatro golos numa fase final de um Mundial e tem uma quota-parte muito alta do respeito que esta Bélgica tem imposto nos adversários.

FRASE DO DIA: «Este foi provavelmente o pior final de jogo da minha carreira.» No último suspiro do jogo com a Alemanha, a Suécia passou de quase apurada para os oitavos de final para um cenário em que o apuramento fica dependente de um triunfo com o máximo de golos possível frente ao México, o que justifica a tirada de Janne Andersson. E é por isso que o final deste jogo vale mais do que apenas o final de 90 minutos para o técnico de 55 anos. Pode valer o final da participação da sua equipa na competição. Ou seja, o final deste Alemanha-Suécia ainda se pode estender até à próxima jornada.

IMAGEM DO DIA: Dois países em suspenso. Na expectativa para perceber qual a direção que uma bola vai dar ao futuro futebolístico de duas nações. O arco de Kroos terminou em sucesso para a Alemanha e em desilusão para a Suécia. Tendo em conta o historial – e o poder da Alemanha – só daqui a algum tempo se vai perceber a repercussão que este momento ainda pode ter no desfecho do Mundial da Rússia.