O dia 4 do Mundial-2014 em cinco pontos:

1.Fechar uma rubrica diária às 23.30 tem destes problemas: por vezes tenderei a falar dos jogos da véspera que acabaram a horas especialmente tardias. Hoje, então, seria um
pecado não cair nessa tentação: o Inglaterra-Itália, que terminou em Manaus quase à uma da manhã, foi dos melhores espetáculos que vi em Mundiais de futebol. Muito bem jogado. Tático e técnico. Físico e estratégico. A Inglaterra perdeu, mas derramou qualidade: tem tudo para ainda fazer um grande Mundial, desde que consiga passar o dificílimo grupo D. Sterling tem um talento imenso e será, certamente, um dos jogadores a olhar com mais atenção nos próximos anos. E Sturridge, que avançado! A Itália, sem Buffon, teve curiosamente no guarda-redes (Sirigu) elemento crucial para segurar o 1-2. Pirlo é, todo ele, um hino ao futebol nos seus aspetos mais nobres. O empate seria mais justo, tão bem estiveram as duas seleções. Foi um duelo de tamanha qualidade que dá vontade de perguntar: o Mundial tão no início e já era a final?

2. Não vi o Costa do Marfim-Japão em direto (começou às duas da manhã), mas já sei que fiz mal: mais uma reviravolta no resultado, dimensão imensa de Drogba, que pode até nem ter gostado de começar no banco, mas entrou e foi decisivo no triunfo africano. Muitos e bons golos (34 nos primeiros dez encontros), jogos interessantes e emotivos, heróis imprevistos e reviravoltas no marcador: as notícias do fracasso antecipado do Brasil-2014 revelaram-se manifestamente exageradas. Esperemos que o problema das más arbitragens venha a ser corrigido à medida que o torneio avance para a fase decisiva. Mas que temos Mundial, disso já poucos duvidarão.

3. A tese segundo a qual este Mundial no Brasil iria favorecer os sul-americanos e colocaria grandes problemas às seleções europeias teve, hoje e ontem, exemplos que a desmontam. O Uruguai, campeão sul-americano, apresentou-se muito mal e deixou-se surpreender pela Costa Rica (América Central…). Inglaterra e Itália, europeias de gema, proporcionaram exibição de gala no calor húmido de Manaus. França e Suíça mostraram qualidade. Ainda é cedo para o sentenciar com clareza, mas não me surpreenderia se os franceses chegassem bem longe. Quanto à Suíça, esteve mal na primeira parte, mas soube dar a volta a desvantagem e aquele 2-1 a 15 segundos do fim é lance de estudo para se treinar o contra-ataque. Está visto: nunca é bom fazer generalizações. Antecipá-las, então, é ainda menos avisado.

4. Ainda sobre os triunfos da Suíça e da França: muito interessante reparar que neste arranque de Mundial uma grande percentagem dos golos marcados tem acontecido de bola parada ou de contra-ataque. O fantástico lance do 2-1 da Suíça a 15 segundos do fim prova que uma seleção que explore bem o contra-ataque pode ter nessa arma um trunfo decisivo.  

5. O Argentina-Bósnia «começou» com
tremenda infelicidade de Kolasinac, a oferecer vantagem à Argentina. Até à meia-hora de jogo (momento da publicação desta crónica), os argentinos não tinham verdadeiramente entrado no encontro, mas mantinham vantagem de 1-0. A Bósnia, apesar do péssimo arranque, mostrava
boa organização  e justificava, no mínimo, o empate. Mas uma seleção que tem Messi e Di Maria e que se dá ao luxo de deixar Enzo Perez, Higuain e Lavezzi no banco (e Tevez fora dos convocados...) só pode ser fortíssima candidata ao título.

«Do lado de cá» é um espaço de opinião da autoria de Germano Almeida, jornalista do Maisfutebol, que aqui escreve todos os dias durante o Campeonato do Mundo, sempre às 23.30h. Germano Almeida é também responsável pelas crónicas «Nem de propósito» e pela rubrica «Mundo Brasil», publicadas na MFTotal. Pode segui-lo no Twitter ou no Facebook.