O dia 13 do Mundial-2014 em cinco pontos:

1.
Uruguai, a prova de que um mau primeiro jogo não é condenação, mesmo numa fase de grupos tão curta, de apenas três jornadas. O que se transformou na celeste, daquele péssimo começo perante a Costa Rica para as vitórias sobre Inglaterra e Itália? Primeiro, Luis Suarez, mas mais no encontro com os britânicos. Depois, a alma, essa alma imensa de uma seleção que representa o país menos povoado dos 32 representados no Brasil, mas com o fervor pelo futebol e pela sua bandeira absolutamente incrível. O modo como o conjunto de Oscar Tabarez renasceu deveria servir de exemplo para outras equipas que também começaram mal e ainda não souberam renascer (sim, estou a pensar em Portugal). Com Inglaterra, num dos dois melhores jogos do Mundial até agora (o outro é o Alemanha-Gana, mais pela segunda parte), o Uruguai foi brilhante. Galvanizador. Hoje, não. Hoje jogou menos, mas foi sagaz na forma como anulou os intentos italianos e aproveitou a vantagem numérica depois da expulsão de Marchisio.

2. Chegar ao Brasil com o rótulo de «patinho feio» do tal «grupo da morte» que tinha três campeões do Mundo e terminar essa fase como vencedor destacado é notável. A Costa Rica é, por direito próprio, a grande história do Mundial-2014 até agora. Ganhar à Itália e ao Uruguai e empatar com a Inglaterra é extraordinário. Atingir os oitavos não é facto inédito para a formação da América Central, mas fazê-lo desta maneira entra, claramente, para a galeria dos feitos mais significativos da história dos Campeonatos do Mundo. Enorme expetativa de ver o que irá ainda fazer o conjunto de Jorge Luis Pinto neste Mundial. Tejeda, Bryan Ruiz e Joel Campbell, os principais destaques individuais de equipa que vale pelo equilíbrio e pela inesperada maturidade tática. Em contraponto, a Inglaterra (que nos dois primeiros jogos fez grandes exibições, apesar de ter perdido) selou a desilusão, em vez de fazer como a Espanha (que ainda teve ânimo de vencer o terceiro jogo). Hodgson continua, muito bem, mas será importante apontar objetivos já para o Rússia-2018, com o França-2016 como ensaio geral de uma equipa com muito talento, mas ainda muito verde.

3. Que Colômbia estimulante! Uma das seleções que mais prazer dá ver jogar, neste Mundial. Argumentos ofensivos impressionantes, talvez só comparáveis aos da Alemanha e da Holanda. Segunda parte arrasadora perante o Japão, depois primeira metade equilibrada no marcador. Jackson, relegado para o banco nos dois primeiros jogos, explodiu finalmente na prova, com dois golos, ambos assistidos por James. O ex-portista não só assinou dois passes para golo como fez o 4-1, num golo fantástico. A Colômbia tem alma, poder de fogo, raça e ainda a vantagem «geográfica», que parece estar a ser tão decisiva neste Mundial. Candidata ao título? Calma. Mas a sonhar com as meias-finais, pelo menos. Já seria uma festa na terra do café.

4. Fernando Santos conquistou hoje, por direito próprio, um lugar no Olimpo do futebol grego. A Grécia nos oitavos é feito notável para seleção com recursos nitidamente limitados, mas explorados ao limite por quem tem clara identificação com os jogadores e com o que podem dar. A Costa do Marfim era mais talentosa, parecia jogar mais, mas já na partida com o Japão a Grécia, jogando grande parte do duelo com menos um, tinha mostrado princípios sólidos de jogo. A sorte esteve com os helénicos, mas há muito, muito mérito de quem acreditou sempre, mesmo depois de levar três da Colômbia no primeiro jogo. Mais uma prova de que um mau arranque não condenação definitiva. Parabéns, engenheiro. Merecidíssimo. Enorme expetativa pelo Grécia-Costa Rica nos oitavos!

5. O Brasil é favorito com o Chile, mas os «oitavos» vão ser, sem dúvida, o primeiro teste de fogo à real capacidade do escrete sonhar com o hexa. Sim, com o México, na segunda jornada, isso já aconteceu um pouco, e dias depois dessa partida, fica ainda mais claro que o empate 0-0 nem foi assim tão mau para o Brasil. A equipa de Scolari dá a sensação de ir em crescendo neste Mundial, depois de um jogo inaugural em que precisou de «ajudinha» do árbitro para dar a volta frente à Croácia. Mesmo sem convencer por completo, o Brasil já dá mostras de ser mais dominante, embora por vezes acuse demasiada previsibilidade nos seus processos. Problema principal: o seu maior trunfo. Não é contradição, não. É só mesmo a constatação de que se Neymar não estiver bem num dos jogos de decisão, o Brasil pode mesmo cair perante uma Alemanha, uma Holanda ou uma França. E essa ideia é preocupante para quem era suposto assumir-se como favorito número um. Não é: está no lote dos maiores favoritos, mas precisa de crescer ainda mais durante a prova para se assumir do modo autoritário como muitos imaginavam. E que apetitoso será o duelo entre Holanda e México: um dos melhores ataques da prova, e nos oitavos outra vez com Van Persie é claro, frente a uma das melhores defesas, fruto de um guarda-redes soberbo (Ochoa) e de uma organização coletiva admirável. O México é qualidade, sim, mas é muito mais do que isso. A alma enorme do seu histriónico selecionador, Miguel Herrera, sente-se em campo e redunda em junção temível, de disciplina tática com enorme coração. Holanda favorita nos oitavos? Não sei, não.

«Do lado de cá»
é um espaço de opinião da autoria de Germano Almeida, jornalista do Maisfutebol, que aqui escreve todos os dias durante o Campeonato do Mundo, sempre às 23.30h. Germano Almeida é também responsável pelas crónicas «Nem de propósito» e pela rubrica «Mundo Brasil», publicadas na MFTotal. Pode segui-lo no Twitter ou no Facebook.