O dia 19 do Mundial-2014 em cinco pontos:

1.
Todo o mérito para a Nigéria por ter sonhado com o prolongamento. Quem viu a França goleadora dos dois primeiros jogos (o nulo com o Equador no terceiro foi de gestão) e quem a viu hoje... Os gauleses partiram para o duelo com a Nigéria com enorme dose de favoritismo. Deschamps optou pelo regresso ao esquema que garantiu a goleada à Suíça (com Giroud, Benzema e Valbuena no ataque), mas desta vez as coisas foram bem mais complicadas. A Nigéria foi melhor até ao intervalo, teve mais bola, criou melhores oportunidades, até fez um golo que foi anulado por fora de jogo tirado com pinças (corretamente sancionado) e ainda se pode queixar de uma grande penalidade por assinalar (Evra travou Odemwingie na área gaulesa). Os franceses demoraram a entrar no jogo, só criavam perigo em saídas rápidas, valendo-se da velocidade de Valbuena e do jogo inteligente de Pogba. Mas a França «imperial» da fase de grupos quase desapareceu no duelo com a Nigéria. O segundo tempo mostrou uma França mais ofensiva, a carregar, mas revelou, essencialmente, uma Nigéria coletiva, arrumada, bem fechada, a causar tremendas dificuldades à equipa de Deschamps. Benzema teve momentos próximos do desespero, o golo nunca mais aparecia. Cortes nigerianos sobre a linha, alívios milagrosos, 0-0 a prolongar-se. Até que Pogba, após canto, aproveitou de cabeça um dos pouquíssimo erros da defesa africana. O 2-0 foi excessivo e chegou em altura em que a eliminatória estava atribuída. A França mereceu, mas sofreu… e de que maneira.

2. Não foram surpresa assim tão grande as dificuldades que a Alemanha sentiu para eliminar a Argélia. Com o Gana e os EUA, a equipa de Low já não tinha sido brilhante. Facilidades, só mesmo na goleada com Portugal. A Argélia, notável, não teve medo do favoritismo alemão e assinou, em Porto Alegre, uma belíssima exibição. Podia, de resto, ter chegado ao intervalo a vencer: oportunidades não lhe faltaram, entre o golo anulado a Slimani (ligeiramente em fora de jogo no momento do centro) e o remate de Ghoulami, após passe de Soudani. A Alemanha nunca conseguiu ser dominante, perdia muitas bolas, era demasiado previsível, só conseguir criar perigo em remates potentes de longe ou nas bolas paradas. Boa primeira parte, daquelas que provam que um 0-0 pode conter um jogo interessante. A Alemanha parecia entrar mais perigosa no segundo tempo, mas o essencial não mudou: a Argélia continuava a sair com muito perigo no contra-ataque, os germânicos sem conseguirem massacrar. Longe disso. Em várias fases da segunda metade, a Argélia esteve mais perto de marcar. Com a saída de Mustafi por lesão, Lahm foi para lateral-direito e a Alemanha passou a criar muito mais perigo. Muller teve três grandes ocasiões para marcar, mas na baliza estava um M’Bolhi gigante. Prolongamento, justíssimo, Argélia não merecia cair nos 90, de forma alguma. O prolongamento «começou» com o golo de Schurrle e, a partir daí, tudo ficou mais fácil para a Alemanha. Mas muito poucos terão previsto que, nos 90, se assistiria a um dos melhores 0-0 dos últimos anos: competitivo, bem jogado, aberto, com duas equipas a poderem passar. Alemanha a passar no prolongamento, essencialmente por aquele golo aos 92 de Schurrle. Mas a Argélia nunca caiu, acreditou sempre, ainda foi ao 2-1 logo a seguir ao 2-0. Jogo excelente, intenso, aberto, com dois grandes guarda-redes (Neuer fundamental a sair dos postes, M'Bolhi gigante).  Que grande Mundial.

3. Holanda-Costa Rica é o chamado duelo improvável para uns quartos de final do Mundial. Talvez nem o mais otimista adepto costa-riquenho imaginasse chegar tão longe, sobretudo depois do sorteio ter colocado os «Ticos» num grupo com italianos, uruguaios e ingleses. Mas a equipa de Jorge Luís Pinto justificou quase por inteiro chegar tão longe na prova: organização, qualidade, talento não muito abundante, mas aproveitado ao máximo. Joel Campbell excelente com o Uruguai e menos vistoso a partir daí, porque já «identificado» pelos adversários; Bryan Ruiz o líder, toque refinado de uma seleção não muito artística; Bolaños, Tejeda e, claro, o guarda Keylor Navas a merecerem também destaques especiais. Não se pode, por isso, falar em «milagre costa-riquenho», bem pelo contrário.
T em sido um sucesso sustentado em boas exibições, não em mera «sorte» (raramente se ganha «por sorte» no futebol, quase nunca aliás),

4. Os «oitavos» do Brasil-14 terminam esta terça com dois embates que perspetivam jogos bem diferentes: em São Paulo, no Arena Corinthians, quase todas as fichas vão para a Argentina, no duelo sobre a Suíça. Os helvéticos passaram num dos grupos mais acessíveis (Equador e Honduras pelo caminho), mas aquela goleada sofrida com a França pôs a nu algumas fragilidades. A Argentina ainda não convenceu por completo, demonstra falhas defensivas preocupantes para quem quer ser campeão do Mundo (basta rever os dois golos que sofreram com a Nigéria), mas Messi está a resolver e só isso já daria ao conjunto das Pampas uma vantagem considerável. À partida, pelo menos. Mais à noite, o Bélgica-EUA faz-nos recordar que poderíamos estar a discutir com os belgas um lugar nos «quartos». No campeonato do talento, a Bélgica golearia os EUA. Mas num jogo de «mata-mata» a qualificação dos europeus está longe de ser dado adquirido. Estes EUA de Klinsmann são frios, táticos e pragmáticos. De novo com Altidore, as hipóteses norte-americanas são um bocadinho maiores. É eliminatória de «tripla», talvez só decidida no prolongamento.

5. Neste belo Mundial, em que já se marcaram mais cinco golos que em todo o África do Sul-10 (e ainda faltam dez jogos!), os emparelhamentos que se desenham para os «quartos» prometem ainda mais emoção e qualidade. Depois das «folgas» de quarta e quinta (dois dias sem futebol, como será possível?), a próxima sexta oferece-nos dois duelos aliciantes: Brasil-Colômbia e França-Alemanha. Deste ramo sairá um dos finalistas (os respetivos vencedores defrontam-se nas meias-finais) e, atendendo à qualidade dos quatro contendores, é provável que saia, também, o próximo campeão mundial. Mas até 13 de julho teremos muito tempo para desenvolver a ideia…

«Do lado de cá» é um espaço de opinião da autoria de Germano Almeida, jornalista do Maisfutebol, que aqui escreve todos os dias durante o Campeonato do Mundo, sempre às 23.30h. Germano Almeida é também responsável pelas crónicas «Nem de propósito» e pela rubrica «Mundo Brasil», publicadas na MFTotal. Pode segui-lo no Twitter ou no Facebook.