Há quem diga que o problema da seleção brasileira está no dia, ali mais ou menos pelo ano de 1994, em que trocou o futebol de rua pelas pernas grossas.

É certo que, nos Estados Unidos, o Brasil até foi campeão mundial, mas também é verdade que um meio-campo com Dunga, Mauro Silva e Mazinho marcou para sempre o futebol do escrete. Que os críticos garantem que nunca mais foi igual depois desse Mundial.

Nem sequer quando a seleção brasileira voltou a ser campeã em 2002.

Ora por isso não deixa de ser assinalável que Tite mantenha as pernas grossas de Casemiro e Paulinho no onze, mas entregue o ataque ao talento de quatro jogadores franzinos, ágeis e habilidosos como são, no caso, Neymar, Philippe Coutinho, Willian e Gabriel Jesus.

No fundo este Brasil é um bocadinho mais brasileiro.

Pelo menos esta noite, quando foi necessário dar uma resposta eficaz, voltou a ser um bocadinho mais brasileiro: uma equipa talentosa e perspicaz, rápida e criativa, inteligente e ousada.

Confira a ficha e as notas dos jogadores

É verdade que também tremeu, no início da segunda parte tremeu muito, o que obrigou Tite a lançar para dentro de campo mais quatro pernas grossas: primeiro Fernandinho e depois Renato Augusto. Mas foi coisa de cinco, talvez dez minutos, até que Thiago Silva fez o segundo golo.

Antes e depois disso, o Brasil dominou o jogo, criou as melhores oportunidades e espalhou magia em meia dúzia de pormenores de pura classe. Por exemplo, naquela assistência de Coutinho que isolou Paulinho para o primeiro golo. Ou numa outra abertura de Neymar que isolou Gabriel Jesus.

Neymar foi, aliás, o mais criativo em campo, tendo voltado a deixar a marca de talento que o acompanha. Quase fez um golaço, na primeira parte, e viu Stojkovic negar-lhe o golo por duas vezes no segundo tempo. Quando o camisa 10 do Brasil está inspirado, tudo muda na equipa.

Sobretudo porque a seleção tem, para além de Neymar, Coutinho e Willian, dois jogadores que sabem também tratar bem a bola. O futebol dos três pode ser um problema para qualquer adversário.

Neymar e Coutinho, os génios são assim: confira os destaques do jogo

Ora, provavelmente por isso, a Sérvia entrou em campo com uma ideia muito clara: defender bem, com uma ocupação exemplar dos espaços, para depois esticar o jogo com saídas rápidas para o ataque.

A estratégia tirou algum espaço aos criativos do Brasil e aguentou o nulo pouco mais de meia hora.

Até que Paulinho abriu o marcador.

Depois disso, e sobretudo na segunda parte, alguma coisa tinha que mudar. Foi então que a Sérvia subiu em bloco, ganhou bolas no meio campo ofensivo e pressionou o Brasil. Nessa altura, e no espaço de menos de dez minutos, ficou perto de marcar em duas finalizações de Mitrovic, num cruzamento de Tadic e num remate de Milinkovic-Savic. Mas a verdade é que foi só mesmo isso.

No resto do tempo mandou o Brasil, que voltou a ganhar e deixou os adeptos desta vez mais contentes: a seleção canarinha continua neste Mundial para alimentar o sonho de ser campeão.

A única má notícia foi mesmo a lesão de Marcelo: pelo choro do jogador, parece ser grave. Mas enfim, o Brasil ganhou bem na mesma.

Para já segue para os oitavos de final e cai para o lado de Portugal, o que significa que se as duas equipas vencerem sempre acabarão por se encontrar nas meias-finais. O que é irrelevante nesta altura.

Mais significativo, de facto, é que o Brasil mostrou que pode ser um caso sério.