Jan Oblak vai disputar o seu primeiro dérbi e Rui Patrício reencontra o Benfica após um afastamento doloroso da Taça de Portugal. O guarda-redes do Sporting falhou no lance que deu a vitória aos encarnados.

Do outro lado estará Oblak, também ele a lidar com fantasmas. O primeiro golo sofrido na baliza encarnada, ao sexto jogo como titular, motivou críticas justificadas. O esloveno podia ter feito melhor na abordagem ao lance, acabando por consentir o golo de Vítor Gonçalves. Empate em Barcelos (1-1).

Haverá naturalmente um foco de pressão sobre os dois guarda-redes. Rui Patrício não mais falhou desde esse 9 de setembro mas o palco e o adversário são os mesmos. Jan Oblak apresenta-se num duelo de exigência máxima com a credibilidade ligeiramente beliscada.

Como lidar com isso? Carlos Pires, treinador de guarda-redes que trabalhou com Leonardo Jardim, deixa alguns indicadores.

«O Oblak falhou em Barcelos e sabe que falhou. Trabalhei com ele e é o tipo de guarda-redes que assume logo os seus erros, é forte psicologicamente e não se esconde. Vem de uma escola diferente da portuguesa, é muito frio na baliza e não demonstra stress com essas situações», diz Carlos Pires, atualmente no Desportivo de Chaves.

Jan Oblak abordou mal o lance: «É um erro técnico. Se ele fosse com o braço esquerdo, desviava a bola por cima da trave. Talvez o posicionamento tenha sido um pouco errado, mas não sabemos se viu a bola partir, se esta mudou de trajetória. Enfim, pela televisão é fácil. Mas tenho a certeza que, se acontecer a mesma coisa, Oblak irá abordar o lance de outra forma.»



Quanto a Rui Patrício, terá de se agarrar ao erro da Luz e transformá-lo em fator de motivação. «Não o conheço tão bem por não ter trabalho com ele. Não sei como interioriza o erro. Mas notou-se que depois do golo do Luisão ficou um pouco perturbado. Aliás, isso notou-se nos primeiros lances frente à Suécia, no play-off. Mas depois passou e seguiu em frente.»

Carlos Pires trabalhou com Leonardo Jardim no D. Chaves, Beira Mar, Sp. Braga e Olympiakos. Por isso, sabe como o técnico terá lidado com o tema. «Acredito que o Leonardo falou com o Rui Patrício, não para o criticar mas para lhe passar uma mensagem positiva. Ele aposta num guarda-redes e dá-lhe toda a confiança e tranquilidade. Terá sido ele a falar do erro ou deu liberdade ao treinador de guarda-redes, o Nélson, para o fazer.»

«É possível que esse erro pese no inconsciente do Rui Patrício nos primeiros minutos, mas terá de ser ele a usar isso como motivação extra. Acredito que o fará. Para mim, é o melhor guarda-redes português, não esquecendo outros bons nomes, como por exemplo o Ricardo (Académica)», acrescenta, em conversa com a Maisfutebol Total.

Jan Oblak: tudo começou com Leonardo Jardim

Voltemos a Jan Oblak. Afinal, o ponto de partida para esta conversa. O guarda-redes esloveno chegou a Portugal em 2010 e foi encaminhado pelo Benfica para o Beira Mar. Seria Leonardo Jardim a estrear o jovem no futebol luso.

Carlos Pires trabalhava com o atual treinador do Sporting e não esquece os meses de convivência com Oblak. «O grande problema dele era a comunicação, algo muito importante num guarda-redes. Devia ter tido desde logo um professor de português. Ainda para mais, foi para Aveiro, sem conhecer nada. Foi com a família mas claro que os primeiros tempos não foram fáceis.»

«Na altura tínhamos quatro guarda-redes. Era o ano de confirmação do Rui Rego, que fez uma época excelente, e havia ainda o Bruno Conceição e o Vicente Paes. Criou-se ali uma grande união e o Oblak acabou por ser utilizado na Taça de Portugal. A estreia foi em Mirandela», recorda o técnico de guarda-redes.



17 de outubro de 2010, 3ª eliminatória da Taça. O Mirandela força o prolongamento, que o Beira Mar enfrenta com apenas nove jogadores. A equipa aveirense aguenta até às grandes penalidades e aí brilha um jovem guarda-redes esloveno. Trava dois castigos máximos.

«Ele já tinha grande qualidade, fazia quase tudo perfeito. Percebeu-se logo que podia ir muito longe. Fez apenas mais um jogo na Taça, pois perdemos depois frente à Académica. Entretanto, nós saímos do clube», explica Carlos Pires.

Após vários períodos de empréstimo, Jan Oblak chegou à baliza do Benfica. «Fico feliz por o ver ali e vamos lá ver se conserva o lugar. Sinceramente, tenho dúvidas se não será o Artur a defender no dérbi. Vamos ver. O Artur também deu muito ao Benfica, teve uma fase menos boa mas só saiu da equipa por lesão. Agora será a altura de Jesus dar o sinal de quem será o seu guarda-redes até final da época», conclui o treinador de guarda-redes.

Montero a treinar a finalização como Lima?

Encerra-se o capítulo dedicado aos guarda-redes. Do outro lado estarão os avançados. Para Fredy Montero, este será um dérbi para alimentar o desejo de regresso aos golos. O colombiano não marca há sete jogos.

Curiosamente, Leonardo Jardim enfrentou a mesma situação no Sp. Braga. Na altura, a sua referência ofensiva chamava-se Lima. Esse mesmo. «Em Braga, o Lima começou bem a época mas depois teve um período de seca de sete jogos. Lembro-me que ficava eu, o Leonardo e o Lima no final dos treinos, em trabalho-extra. Era um exercício simples. Passávamos a bola, Lima dominava e marcava na baliza deserta. Servia quase como terapia, para lhe transmitir serenidade. Acredito que Leonardo Jardim esteja a fazer o mesmo com Montero agora.»

«Ainda assim, o Leonardo Jardim não se concentra no número de golos. Quer que o avançado trabalhe para a equipa, que crie espaços, que faça passes, que não pare. Desde que isso aconteça, está satisfeito», salienta Carlos Pires.

O treinador de guarda-redes do D. Chaves fica a torcer pelo sucesso do antigo companheiro. «Sabe, um dia disse-lhe: o Sporting só vai ser campeão quando eu e tu formos para lá. Eu não fui porque está no Sporting o Nélson, mas não guardo mágoa. Claro que gostava de ter ido, mas fico a torcer por eles. O Leonardo merece o sucesso», remata.