Tirambaço: substantivo masculino; Chute violento em direção ao gol (Brasil)

É uma das frases batidas e dois dos maiores protagonistas do nosso futebol bateram-na mais uma vez: «Só talento não chega.»

Jorge Jesus na sala de imprensa e Cristiano Ronaldo numa entrevista lembraram o que ambos sabem bem. É preciso trabalho, dedicação. E também sorte.

Lá por onde cresci sempre ouvi a história de uns rapazes que jogavam à bola em Viseu.

Primeiro, umas linhas para a equipa. O Clube Futebol «Os Repesenses» - qualquer semelhança com o emblema de Belém não é coincidência - sempre foi uma referência em Viseu nas camadas jovens. Sobretudo nos anos 80 e 90.

Andou pelos nacionais de jovens várias vezes e de lá saíram alguns nomes que chegaram ao topo do futebol nacional.

Indo ao particular, daqueles rapazes contavam-me assim: que naqueles anos de 80 eram uma equipa muito talentosa e que chegaram a defrontar na fase final o FC Porto, o Guimarães e, se bem me recordo do que me disseram, o Boavista (vou deixar a recordação escrever em vez de ir confirmar, porque a memória às vezes é melhor do que a realidade, assumo).

Eram juvenis, eram talentosos. Tanto que três deles rumaram a Lisboa logo de seguida. Um para o Sporting, dois para o Benfica.

O talento ia levá-los a enormes vitórias, a grandes dérbis, a campeonatos nacionais e, quem sabe, a títulos europeus e à Seleção Nacional.

Mas o talento não chega. É preciso ter tudo aquilo que Ronaldo disse. E sorte.

Um para o Sporting, dois para o Benfica. Nos anos 80. Juvenis.

De Feijão, que era guarda-redes e foi parar ao Sporting, não sei o paradeiro. Tenho ideia de que nunca o vi jogar.

E a última vez que vi Rogério Rebelo estava no GD Oliveira de Frades. Não sei o que é feito desde então, a não ser que na altura mudou-se para o Fornos de Algodres.

Ninguém tem dúvidas de que Gelson Martins é um dos futebolistas mais talentosos no panorama europeu. E está já num patamar ao qual Rogério Rebelo nunca chegou.

Reza a lenda que, dos três de Repeses, Rebelo era o craque. Até Eusébio o aconselhava na Luz. Mas dizia-se que não teve a dedicação devida.

E é por isso que hoje só sei do paradeiro do terceiro do Repesenses.

Está em Itália.

Treina a Fiorentina.

Talvez tivesse menos talento, mas teve o trabalho, a força mental e a dedicação que Rebelo não terá tido. E a sorte, porque as lesões também jogam nas carreiras desportivas.

Gelson não pode controlar estas. As outras sim. Talento tem, terá ainda de saber ouvir. Porque por muito que uma frase seja batida, não perde validade.

O Tirambaço é um espaço de opinião do jornalista Luís Pedro Ferreira. Pode segui-lo no Twitter.