Tinha 11 anos quando a Portuguesa foi a São José dos Campos, no Vale do Paraíba, para enfrentar o São José. Jogo válido pelo Paulistão de 1999. Oportunidade única para ver de perto um dos maiores nomes da história do futebol brasileiro: Mário Jorge Lobo Zagallo.

O único tetracampeão mundial com a seleção brasileira dirigia uma Lusa que tinha nomes conhecidos, como Pintado, Didi e Leandro Amaral, além do icônico Márcio Mixirica. A figura indiscutível, no entanto, era aquele senhor baixinho de cabelos brancos à beira do gramado.

Morador local e torcedor fanático do Corinthians, fui ao Estádio Municipal Martins Pereira para desfrutar do espetáculo, acompanhado de familiares e alguns amigos. Sentamos mesmo na arquibancada logo atrás do banco de reservas da equipe visitante.

Aos 67 anos, Zagallo era um personagem ímpar. De pé, gritava e gesticulava sem parar. Obviamente, alvo de provocações e insultos a todo instante pela torcida da casa. A juventude à flor de pele me fez prontamente participar do coro até então engraçado contra o Velho Lobo.

Passei minutos e mais minutos a xingá-lo. Conheci ali, ainda no primeiro tempo de uma partida sonolenta, os palavrões mais sujos e estúpidos que o ser humano foi capaz de produzir. Descarreguei naquele momento toda a minha raiva injustificável. Meu pai Silvio notou o comportamento, mas esperou a hora certa para agir.

Ao meio do intervalo, me puxou de canto e deu a maior repreensão pública da minha vida. Não levantou qualquer dedo para atingir o objetivo. Um sermão tamanho que provavelmente até Zagallo ouviu. Prontamente, me fechei num limbo de insignificância e pura vergonha.

Cabisbaixo, aprendi que não valia tudo para ganhar e que o futebol é a coisa mais importante entre as coisas menos importantes. Acima de tudo, aprendi que um estádio tranquilamente pode ser o impulsionador do pior que temos dentro de nós.

Direta ou indiretamente, obrigado Mário Jorge Lobo Zagallo. Descanse em paz.

*Bruno Andrade escreve a sua opinião em Português do Brasil