«Vendo as repetições desfruta-se ainda mais do lance»

Jackson Martínez chegou de bicicleta aos 20 golos na Liga. A barreira das duas dezenas foi novamente alcançada, pelo terceiro ano consecutivo, e com ela, como Luís Mateus já escreveu, cresce a sensação de vazio

É este o ciclo natural de um futebol português que encontrou formas de subsistência em constantes fluxos de compra e venda. Nada de novo aqui.

O que inquieta, por outro lado, é a falta de espaço para despedidas nos clubes da nossa praça.

Por isso aqui vai, antes que seja tarde: muito obrigado e até breve, Jackson e Gaitán.

Não sabemos por esta altura se as maiores figuras de FC Porto e Benfica partirão no final da presente temporada. Mas amanhã pode ser tarde demais.

Contaremos malas nos aeroportos, ouviremos palavras de circunstâncias e pouco definitivas, apreciaremos o talento na Copa América. E em julho, estarão de volta? Os adeptos do bom futebol esperam que sim, embora saibam que é improvável.

No fundo são como os pais que vêm os filhos emigrar por absoluta necessidade. Despedem-se com um até breve repleto de esperança e regressam a casa com a consciência de que poderá ser um até sempre.

Fica a saudade, esse sentimento tão português.

Di María, David Luiz, Fábio Coentrão, Pablo Aimar; Hulk, Falcao, James Rodríguez, Lucho González. Todos partiram sem aviso e sem espaço para despedidas.

É a lei do mercado, de negociações silenciosas, de comunicados frios, sem alma. Sem espaço para agradecimentos.

Os ingleses mantém um saudável vício de Testimonials Matches, encontros de reconhecimento para jogadores com dedicação inequívoca.

Por norma são dedicados a atletas com dez anos de clube, mas esse é um número difícil de atingir no cenário atual dos grandes, com a saudável exceção do Sporting.

Ainda assim haveria espaço para um Testimonial dedicado a Luisão (no Benfica desde 2003) ou Hélton (no FC Porto desde 2005). E ambos mereceriam.

Seja pela reta final da carreira ou a reta final de uma estadia, certos jogadores justificam uma despedida à medida, um reconhecimento em ‘vida’, não a ‘título póstumo’.

Nicolas Gaitán tem 27 anos e termina a quinta temporada da águia ao peito com uma influência crescente na manobra encarnada. É por esta altura um jogador completo, refinado, dotado de uma inteligência acima da média. Será o principal ativo do Benfica para o próximo mercado de transferências.

No FC Porto não parecem restar grandes dúvidas. Depois de Danilo (tem acordo com o Real Madrid), Jackson Martínez é o grande nome da montra. Três anos de clube, 91 golos e um profissionalismo incontestável, a justificar a braçadeira de capitão. A cláusula baixará para 35 milhões de euros e Pinto da Costa já admitiu que «é natural» que o colombiano saia no verão.

O futebol português continuará a existir. Surgirão outros, por certo. Mas nenhum como Gaitán ou Jackson.

Para os adeptos ficarão as repetições, as memórias e as saudades.

Termino como comecei: não é certo que Jackson e Gaitán partam no verão.

Se ficarem será uma boa notícia para Benfica, FC Porto e, acredito, para os amantes do bom futebol. Mas pode não surgir uma nova oportunidade para escrever isto com ambos por cá: obrigado, muito obrigado. E até breve. Ou até sempre.