Opinião de Henrique Mateus, jornalista e pivot da CNN Portugal que acompanhou de perto, profissionalmente, a carreira de José Mourinho

Enquanto houver um clube que o queira, José Mourinho não vai ficar em casa a ver futebol pela televisão. O homem que conheci antes de ganhar notoriedade com o FC Porto em 2003 mantém intacta a paixão pelo jogo e renasce sempre. Foi ao que assisti desde que me lembro e vai voltar a acontecer.

A Roma, sem os recursos dos clubes de topo para as ambições de Mourinho, não tinha mais nada para lhe oferecer e revelou ingratidão na decisão de o despedir. Mourinho devia ter saído no final da época passada, mas a oportunidade que ele esperava não surgiu.

Mourinho tornou popular a periodização tática no ano em que levou os ‘dragões’ à vitória na Liga dos Campeões. À ideia do professor Vítor Frade, que colocou em prática com sucesso, acrescento a definição que o professor Manuel Sérgio fez dele: «quem só percebe de futebol, nada percebe de futebol».

Mourinho é isso mesmo, vai muito para além do futebol. Um pai para os jogadores e um gestor de egos de futebolistas, neste caso com Pogba como o maior exemplo que o prejudicou.

Durante mais de 20 anos acompanhei de perto, em reportagem e com entrevistas para a TVI, o homem que levou longe o nome de Portugal e que abriu portas a outros técnicos portugueses em novos mercados. Assisti às conquistas, às dificuldades e às desconfianças sobre a suas capacidades.

Em maio de 2004, acompanhei em reportagem Mourinho e Villas-Boas a Londres, onde observaram a segunda mão da meia-final da Champions entre o Chelsea e o Mónaco. Entrevistei adeptos dos ‘blues’ com dúvidas sobre o nome dele para substituir Ranieri - e todos sabemos o que alcançou em Inglaterra.

Após o episódio do primeiro despedimento do Chelsea, Mourinho reergueu-se em Itália, onde voltou a conquistar a Champions com o Inter de Milão. Disse-me no documentário ‘O toque de Mourinho’, que realizei para a TVI em 2012, que «nenhum clube me deu a mesma felicidade que o Inter».

Depois de ganhar o segundo ‘scudetto’, em Siena, enquanto os jogadores festejavam no balneário, deu-me uma entrevista no autocarro do clube, com Silvino e o vice-presidente para o futebol a assistir e só interrompida pela chegada de Moratti. Estava a preparar-se para chegar ao Real Madrid onde ganhou o campeonato ao melhor Barcelona de sempre com a marca histórica dos 100 pontos.

Surpreendentemente voltou ao Chelsea onde continuou a ganhar, mas voltou a deixar mais cedo Stamford Bridge.

Não sei como conseguiu estar quase um ano em casa, sem treinos nem jogos.

Em 2019, quando o entrevistei à saída de um hotel em Londres, onde tinha feito uma sessão de fotografias oficiais para o Manchester United, estava felicíssimo. Ia voltar ao ativo noutro gigante com fome de títulos, com a sombra do sucesso de Fergusson. O United estava em decadência e cada dia era mais difícil que o outro para Mourinho.

Um dos episódios que revelou mais falta de respeito para Mourinho foi ser despedido do Tottenham a uma semana da final da Taça da Liga.

Às desclassificações a que foi sujeito nestes dois últimos clubes ingleses respondeu com coragem, ao assumir uma Roma adormecida e a quem Mourinho ofereceu o seu primeiro título europeu.

Mas isso não foi suficiente para quem pensa pequeno.