Esta é uma das Ligas mais desequilibradas dos últimos anos? É bem capaz de ser.
 
Os cinco primeiros (Benfica, FC Porto, Sporting, V. Guimarães e Sp. Braga) são claramente melhores que os restantes.

Os candidatos ao título entram para os jogos perante equipas teoricamente mais fracas com uma dose de favoritismo muito elevada: fica-se com a sensação de que, correndo tudo dentro da normalidade, o triunfo da equipa mais forte não deixará de acontecer.
 
Quer isto dizer que o Benfica já é campeão? Mais devagar.
 
O deslize da águia no Estádio Capital do Móvel mostrou que o Benfica, sendo até agora a melhor equipa da prova, tem fragilidades e pode voltar a ter noites inglórias como a de Paços. Mesmo depois do triunfo no clássico, que lançou a equipa de Jorge Jesus para uma vantagem de seis pontos (que, afinal de contas, ainda se mantém tantas jornadas depois), chamei a atenção nesta rubrica para o facto de «nem o Benfica estar assim tão bem nem o FC Porto estar assim tão mal».

Muita gente caiu na tentação de dizer que o título estava precocemente atribuído, depois da escorregadela (de todo inesperada) do FC Porto nos Barreiros. A seis pontos do Benfica, uma derrota colocava o dragão a nove pontos virtuais do rival. 
 
«O Benfica não falha em Paços e tem a coisa garantida até ao fim», muita gente terá dito, entre domingo ao início da noite e segunda à noite, nos cafés, transportes públicos, escritórios e lares deste país.
 
Mas é por essas e por outras que o futebol é mesmo um desporto especial. Se há máximas que raramente falham, esta é uma delas: nada é garantido no desporto-rei.

O grau de imprevisibilidade é, até, maior do que noutras modalidades. Lopetegui até usou desse argumento depois da derrota no clássico com o Benfica: «No futebol, ao contrário de outras modalidades, pode jogar-se muito melhor e mesmo assim perder».

Favoritos com fragilidades

Venha, já agora, outra expressão que se usa com frequência ao longo de uma época: nesta ronda, o Sporting «ganhou em cinco campos»: venceu o seu jogo com a Académica (com dificuldades, mas venceu); viu FC Porto e Benfica perderem na Madeira e em Paços; o V. Guimarães empatar, a muito custo, com o Gil Vicente; e o Sp. Braga perder no Bessa.

Pois é: não foi só o Benfica que desperdiçou ocasião rara de ficar com nove pontos de avanço, já na segunda volta (isso sim, um dado que, historicamente, seria difícil de reverter).

O que esta jornada 18 mostrou foi bem mais do que isso: recolocou o Sporting na rota do título (está a um ponto do FC Porto e sete do Benfica); tornou bem mais acesa a luta pelo segundo lugar; reduziu diferenças dos cinco primeiros para o «escalão» seguinte (Belenenses, Paços e Estoril ficaram menos longe do "top5")

Sendo as duas melhores equipas do campeonato, Benfica e FC Porto são, também, equipas com fragilidades que ainda não conseguiram resolver.

O FC Porto sabia que «não podia» cair na Madeira. Mesmo tendo jogado mais que o Marítimo, não foi capaz de mandar. Não foi capaz de aproveitar a inferioridade numérica do adversário.

E continua a não ter solução ideal para a «posição 6». Casemiro, sendo um bom jogador, não é aquele estilo de médio-defensivo de destruir quando é preciso e construir também quando a equipa pede isso. E Quintero não foi boa escolha para o onze, como Lopetegui identificou, tentando corrigir ao intervalo.

O FC Porto tem um bom plantel, tem várias soluções de qualidade mas, já entrado na segunda volta, ainda tem questões essenciais a resolver como equipa.

Quanto ao Benfica, a falha em Paços foi mais no plano da atitude. O aliciante dos possíveis nove pontos de vantagem não deram ao conjunto de Jorge Jesus o instinto dominador que mereciam.

É certo que a primeira volta da águia teve um número de pontos perdidos muito baixo, mas mesmo em algumas vitórias (em casa com o Gil Vicente, por exemplo), a exibição foi preocupante.

Com as fichas todas no campeonato (ou quase todas, pronto, ainda há a Taça da Liga), o Benfica pode começar a sentir o síndrome da «obrigação de ser campeão».

Conclusão a tirar dos Barreiros e de Paços: o Sporting, mesmo depois da disparatada tempestade Bruno de Carvalho/José Eduardo/Marco Silva que entreteve os jornais e os programas de comentário televisivo no período das festas, ainda tem uma palavra a dizer na luta pelo título.

Nunca é prudente decretar o fim de um campeonato a quatro meses do final no calendário.

Mesmo quando parecia haver razões para uma exceção.

«Nem de propósito» é uma rubrica de opinião e análise da autoria do jornalista Germano Almeida. Sobre futebol (português e internacional) e às vezes sobre outros temas. Hoje em dia, tudo tem a ver com tudo, não é o que dizem?