O elogio ao Sp. Braga e ao Sporting, clubes que representou ao longo da carreira. Abel Ferreira não esconde a ligação emocional aos dois emblemas e diz, de resto, que o título nacional dos leões fará «bem ao futebol português». A concretizar-se, claro. 

A passar um período de férias em Portugal, semanas após ter levado o Palmeiras à vitória na Taça Libertadores e na Taça do Brasil, o treinador de 42 anos juntou a comunicação social portuguesa e durante mais de uma hora conversou sobre todos os temas propostas. 

E nem a famosa e polémica conferência de imprensa de 2019, ainda no Sp. Braga, ficou de fora.


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Pergunta – Mencionou o nome de António Salvador depois de ganhar a Libertadores.

Abel Ferreira – Eu sou muito espontâneo e o António Salvador foi o primeiro presidente de que me lembrei. Não me posso esquecer dos outros, mas ele merecia esse agradecimento. Poucos sabem disto. Eu era treinador do Sp. Braga B e [entre a saída de José Peseiro e a entrada de Jorge Simão] estive três/quatro dias a treinar a equipa do Sp. Braga para um jogo em Alvalade. Foi um jogo mágico, em que tudo saiu bem, em que tudo o que eu previ acabou por acontecer. Muitas pessoas viram-me a rir quando o Wilson Eduardo fez golo e pensaram que era por estar a ser contra o Sporting. Não foi. O que se passou é que o Wilson falhou um golo na primeira parte e ao intervalo disse-lhe que ele tinha mais uma [oportunidade] guardada para a segunda parte. E ele marcou. Disse-lhes que íamos marcar e depois íamos defender com uma linha de cinco. Assim foi. Foi um dia mágico. Esse jogo vai ficar para a história, bateu tudo certo, foi perfeito. O presidente no fim deu-me um abraço e disse-me ‘um dia vais ser treinador do Sp. Braga’. Uns meses depois isso tornou-se real. Foi espetacular trabalhar com o António Salvador. O Sp. Braga cresceu imenso nas infraestruturas, ele tem uma visão muito clara e faz as coisas acontecerem. Vivi anos espetaculares no clube e contribuí para um clube que queria desenvolver os próprios jogadores.

P - Como é que tem visto a época do Sp. Braga à distância?

AF - O Sp. Braga está a fazer uma campanha espetacular, a jogar um bom futebol. Esteve bem na Liga Europa, vai à final da Taça de Portugal e tem um treinador [Carlos Carvalhal] que me treinou no Sporting. Lembro-me que ele era muito metódico na estratégia de jogo. Este Braga tem uma variabilidade na sua forma de jogar que me agrada muito. É um clube sólido a todos os níveis, vende jogadores e treinadores. O presidente Salvador tem dedo para o negócio, é extraordinário.

P – No fim do Sp. Braga-Benfica o presidente disse que o clube continua a ser prejudicado pelas arbitragens em relação aos três grandes. Partilha da mesma ideia?

AF – [Abel bate na mão, repetindo uma cena que se tornou famosa AQUI] Fui muito criticado por ter feito isto na sala de imprensa. Senti-me envergonhado quando vi estas imagens depois, a gritar e bater na mesa. A tecnologia é fantástica quando é bem utilizada e má quando é mal utilizada. Não podemos passar mensagens de ódio. Sou humano, cometo erros. Não quero defender ninguém. Estamos à espera de eliminar o erro, mas o erro estará sempre presente, por muito que nos custe. Entendo a revolta, o penálti não assinalado, o golo ilegal. A vida ensina-me e percebi que não adianta nada estrebuchar e criar conflitos. Não vamos ganhar nada. O erro faz parte e a emoção também. Quando estamos com essa emoção e o sangue a fervilhar, batemos na mesa e fazemos a figura que eu fiz. A minha vida é um livro aberto, mas se pudesse rasgar quatro ou cinco páginas rasgava.

P – Recebeu algum convite depois do sucesso no Palmeiras?

AF – Só da minha mulher (risos). Convidou-me a voltar para Portugal, porque já não me via há muito tempo. Tenho tido sorte e tenho tentado ser um exemplo para os outros. Há uma história que vos quero contar. Na segunda parte da final da Libertadores estava a sentir-me impotente no banco. Meti as mãos nos bolsos e fiz uma oração. Deus não se mete no jogo, todos rezamos. Só posso agradecer, mas naquele momento senti-me sem saber o que fazer, tinha de fazer alguma coisa e fiz essa oração. Esse foi um jogo de emoções.

P – Passou dez anos no Sporting. Está a torcer pelo sucesso do clube este ano?

AF – A nossa vida são momentos. Tive grandes momentos no Sporting como jogador e como treinador. Não me lembro de ver o Sporting com uma vantagem tão grande, têm sido extremamente competitivos e têm ganho. Isto é fruto do grande trabalho da estrutura, do treinador, dos jogadores. As pessoas conhecem a minha ligação ao Sporting. A brincar, estive lá dez anos. Foi lá também que sofri uma lesão grave e deixei de jogar, foi lá que me convidaram a ser treinador. O Sporting tem tudo para ser campeão e é bom para o futebol português.