Convidado pelo ISPA (Instituto Superior de Psicologia Aplicada) a dar uma aula aberta, no âmbito da pós-graduação em treino de liderança e desenvolvimento de equipas, Paulo Bento decidiu revelar à audiência aqueles que são os quatro princípios em que assenta a sua vida de treinador.

O Seleccionador Nacional começou por destacar a importância do « respeito por todos os intervenientes do processo», lembrando que «liderar uma equipa é lidar com vários departamentos, e não apenas com os jogadores».

Depois a frontalidade, que não deixa de estar relacionada com o aspecto anterior. «Aquilo que comunicamos é aquilo que pretendemos», é a filosofia assumida. «Um jogador perdoa mais facilmente um erro táctico do que uma falha nos princípios», defende Paulo Bento. Este valor foi mais tarde defendido novamente. Assumindo que «factores externos podem colocar em causa a liderança», Paulo Bento revela que em certos momentos «soube que ia fazer asneira», mas com «o conforto de dizer a verdade».

A solidariedade é outro aspecto do qual o técnico não prescinde, procurando sempre dar o exemplo. «Há sempre momentos negativos, e o primeiro a mostrar este sentimento deve ser quem lidera.»

Por fim, a flexibilidade. Ou a capacidade de adaptação. «Um treinador não pode querer marcar logo todo o terreno. É preciso valorizar quem está. Faz-nos chegar à nossa ideia e fazer com que os outros cheguem à nossa ideia», sustenta.

A solidão do treinador

Embora seja um acérrimo defensor do colectivo, Paulo Bento assume algum isolamento. «Um líder precisa de alguma solidão. Enquanto homem não gosto dela, mas como treinador preciso dela. Tenho de a procurar para ter uma reflexão diferente», assume, sem deixar de declarar que «uma das virtudes de um líder é saber ouvir». «Se não decidirmos só por nós, temos mais hipóteses de decidir bem. O líder também erra, e é preciso também lidar com isso com naturalidade.»

O capitão é visto como «a continuidade do técnico dentro do campo», ainda que esse papel seja «exacerbado muitas vezes», até porque «ter muitos líderes torna a missão mais fácil, para gerir momentos de insucesso».

Paulo Bento reconheceu ainda que prepara todas as conferências de imprensa em que participa. Não só através da habitual leitura diária dos jornais, mas também em colaboração com os departamentos de comunicação do Sporting, anteriormente, e agora com o da Federação Portuguesa de Futebol. «Temos de colocar-nos um pouco do outro lado, no papel de jornalista.»