PLAY é um espaço semanal de partilha, sugestão e crítica. O futebol espelhado no cinema, na música, na literatura. Outros mundos, o mesmo ponto de partida. Ideias soltas, filmes e livros que foram perdendo a vez na fila de espera. PLAY.

SLOW MOTION:

«THE GREATEST FOOTBALLER YOU NEVER SAW» – Paolo Hewitt e Julian Stone.
«Se George Best foi a primeira pop star do futebol, Robin Friday foi a primeira rock star». A frase é de Paolo Hewitt, um dos responsáveis pela biografia de Friday (o outro é Paul «Guigsy» McGuigan, ex-baixista dos Oasis) e admirador indefetível do malogrado avançado.

Robin Friday. É provável que jamais tenha ouvido falar dele. Muito possivelmente nunca o viu jogar. É uma personagem intrigante, acredite. Tanto assim é que um filme sobre a sua vida desregrada está na fase final de produção, em Inglaterra.

Falo já sobre Friday porque li episódios inacreditáveis sobre ele. Demasiado bons para guardar só para mim. Posso começar pelo dia em que chegou embriagado a um treino do Reading. Embriagado e com um ganso vivo ao colo.

Há quem prefira outra história. Num dos últimos jogos pelo Cardiff, Friday viajou de comboio desde Londres, mas não comprou bilhete. Foi intercetado e detido pela polícia. Chegou algemado ao estádio, mas ainda a tempo de jogar e fazer dois golos.

Robin Friday tornou-se uma personagem de culto. Foi profissional só três temporadas (1974 a 1977) e terá feito alguns dos melhores golos de sempre. Era um provocador, um alcoólico incorruptível, machista assumido e consumidor regular de drogas pesadas.

Desequilibrado ou genial? Provavelmente, ambos. Leia bem o que fez no último jogo profissional, em dezembro de 1977. Marcado em cima por um tal de Mark Lawrenson, defesa do Brighton, Robin perdeu a cabeça e agrediu-o com uma patada.

Expulso, saiu a correr em direção ao balneário adversário. Lá chegado, descobriu o lugar de Lawrenson e defecou nos pertences do rapaz.

Robin Friday foi encontrado morto aos 38 anos. Resistiu a tudo, menos a um ataque cardíaco. O filme sai em janeiro.



PS: «Blue Jasmine» - Woody Allen.
A magnífica Cate Blanchett é uma socialite caída em desgraça. Foge de Nova Iorque, refugia-se em San Francisco e arruma a um canto as malas Louis Vuitton. O luxo de outrora é trocado pelas tropelias da irmã divorciada, do ex-cunhado traído, do novo namorado e de um dentista apaixonado. É o filme menos woody-alleniano do realizador norte-americano nos últimos anos, mas não o pior. Au contraire: a película é forte, intensa, e Blanchett oficializa desde já a candidatura a um Oscar.

SOUNDCHECK:

«THE MAN DON'T GIVE A FUCK» - Super Furry Animals.
O single é dedicado a Robin Friday, estrela do PLAY desta semana. Na capa surge o avançado a provocar o guarda-redes do Luton, depois de mais um golo. A composição tornou-se um hit de contestação a tudo e a todos.

Uma boa homenagem, pois, a um dos mais truculentos jogadores britânicos. A música foi lançada em dezembro de 1996, mas não é uma melodia de Natal. Basta olhar para o título e perceber porquê.



PS: «Bloodsports» - Suede.
Brett Anderson y sus muchachos abandonaram a pré-reforma e fizeram um bom disco. Em novembro vêm ao Porto e aproveito já para dizer que gosto muito do que tenho ouvido. Despedi-me dos Suede em 1996, depois do álbum Coming Up. Estou disponível para lhes dar uma oportunidade. É provável que vá beber um copo com os rapazes depois do Coliseu. Estão de parabéns por este novo som.



VIRAR A PÁGINA:

«STILLNESS AND SPEED – My Story» - Dennis Bergkamp.
Quando penso em Bergkamp, penso em quê? Penso no corajoso que sou por andar de avião; no golo absolutamente mágico que o holandês marcou ao Arsenal; noutro golo tremendo que fez à Argentina no Mundial de 1998; nas discussões surdas com Wenger, principalmente na fase em que já jogava menos nos «Gunners». Tudo isto e muito mais em 200 páginas de uma autobiografia digna do futebolista que a escreveu.



PS: «As Crónicas de Gelo e Fogo» - George R. R. Martin.
Assumir um problema é o primeiro passo para solucioná-lo, dizem. Não concordo. Comprar livros é a melhor forma de lidar com o meu vício (esperem, estou a assumi-lo?). Bem, seja como for, o que se passa é isto: a série Game of Thrones regressa só em março. Março! Felizmente, a obra da vida de George R. R. Martin começou nos livros e só depois chegou à televisão. Decidi investigar e estou agarrado. Aos livros. À série televisia também. Pronto, assumo, tenho um problema. Mas não pensem que o resolvo.

«PLAY» é um espaço de opinião/sugestão do jornalista Pedro Jorge da Cunha. Pode indicar-lhe outros filmes, músicas, livros e/ou peças de teatro através do e-mail pcunha@mediacapital.pt. Siga-o no Twitter.