PLAY é um espaço semanal de partilha, sugestão e crítica. O futebol espelhado no cinema, na música, na literatura. Outros mundos, o mesmo ponto de partida. Ideias soltas, filmes e livros que foram perdendo a vez na fila de espera. PLAY.

SLOW MOTION:

«GREEN STREET HOOLIGANS» – Lexi Alexander.
É possível que o problema seja meu. Peço-vos, por isso, uma sincera ajuda: qual é o interesse, a piada, o desígnio capaz de levar uma centena de tipos a vestir de negro, tapar a cara e provocar desacatos à porta de um estádio?

Acrescento uma questão: onde mora o prazer numa chuva de pedras e garrafas partidas? Ainda outra: os bastões da PSP têm a capacidade secreta de decifrar zonas erógenas ou pontos G? Chamem-me ingénuo, mas creio que a resposta é não.

Trago esta triste introdução porque vi da primeira fila o que ocorreu antes do Clássico. A selvajaria e o desrespeito daquelas tristes almas, por tudo e todos, levou-me a questionar as suas motivações e impulsos.

Tentei encontrar uma ponta de lógica, uma causa pertinente, por muito sensível que fosse, e nada. Nada.

Numa destas noites revi até este filme. O argumento é simples: Elijah Wood, Frodo para os amigos e entusiastas da saga Senhor dos Anéis, é um estudante de Harvard. Apanhado com cocaína no quarto, é castigado e vai ter com a irmã a Londres.

Aí chegado, conhece o cunhado, membro de uma claque violenta do West Ham. Passa a frequentar pubs, a ser tatuado, a andar à pancada apenas porque sim. E a beber cerveja, muita. É o lado insalubre do jogo, perturbadoramente patológico.

Fiquei na mesma. Não entendo, nunca entenderei esta violenta insuportável e gratuita a aproveitar-se de um desporto mágico.

Eu vi o Frodo no Dragão, sem anel e vestido de negro. My precious futebol.



PS: «About Time» - Richard Curtis.
Doce, intenso, inteligente. Se tivéssemos a possibilidade de voltar ao passado, mudávamos muita coisa na nossa vida? Curtis parte desta questão para explorar a relação de um jovem desadaptado com a família, a potencial namorada, a primeira paixão, o chato do colega de trabalho e um senhorio irascível.

Saímos da sala de cinema reconciliados com o mundo e ansiosos por telefonar ao pai. O homem escreve, realiza e é um génio. Mesmo para quem normalmente boceja em/com comédias românticas.

SOUNDCHECK:

«MUNICH AIR DISASTER» - Morrisey.
«We love them
We mourn for them
Unlucky boys of Red

I wish I'd gone down
Gone down with them
To where Mother Nature makes their bed(...)»

Ao ler a fantástica entrevista do meu colega Pedro Calhau a Harry Gregg, um dos nove jogadores do ManUtd a sobreviver à tragédia de Munique, lembrei-me desta música de Morrisey. Além de ser uma homenagem sentida aos Busby Babes, é uma melodia lindíssima, arrepiante.



PS: «Reflektor» - Arcade Fire.
Agosto de 2005, Paredes de Coura. Mergulhos no rio, soneca num relvado, final de tarde de fino numa mão e bifana na outra. O sol bem alto, a queimar, e uns desconhecidos canadianos no palco. Bocas sideradas de espanto, «quem são estes gajos?». Conheci-os ali, há oito anos, e tornaram-se na minha segunda banda (Radiohead, nunca vos trairei).

Prestei-lhes os meus sentimentos para Funeral (2004), tornei-me leitor compulsivo de Neon Bible (2007) e fui um vizinho prestável em The Suburbs (2010). Com Reflektor, acabadinho de sair, prometo ser um espelho do que tenho sido com a turba de Win Butler.



VIRAR A PÁGINA:

«OPEN» - Andre Agassi.
Só por ficar a saber que a farta cabeleira de Agassi era, afinal, uma peruca (ou um composto de cabelo artificial) e que em 1990 se desintegrou no duche, na véspera da final de Roland Garros, senti ter valido a pena ler esta autobiografia.

Há mais coisas boas. A relação próxima com as drogas na fase inicial da carreira, a pressão do pai maníaco, a passagem pelo glorioso campo fortificado de Nick Bolletiteri, o doido Jeff Tarango e a inveja por Pete Sampras. O livro foi editado em 2010.

«PLAY» é um espaço de opinião/sugestão do jornalista Pedro Jorge da Cunha. Pode indicar-lhe outros filmes, músicas, livros e/ou peças de teatro através do e-mail pcunha@mediacapital.pt. Siga-o no Twitter.