A relação entre Carlos Queiroz e Pepe deteriorou-se nos últimos meses, mas a notícia aqui é que a zanga é recente. Durante muito tempo, aliás, o treinador foi o maior defensor do central. Defendeu-o por exemplo quando agrediu violentamente Casquero. Defendeu-o também quando estava lesionado.

Duas semanas depois de Pepe ter perdido a cabeça num jogo do Real Madrid com o Getafe, e já depois de ter sido castigado com a pena máxima (dez jogos de suspensão), Queiroz saiu em defesa do luso-brasileiro. «Aproveito para avisar desde já que Pepe está convocado, e vai jogar», disse.

«Normalmente não faço comentários em relação à vida dos jogadores fora dos relvados, mas é pertinente dizer que já falei com ele, enquanto seleccionador nacional. Aceitamos a posição da Federação Espanhola e a postura posterior do jogador, que já veio a público pedir desculpas», adiantou.

Um mês depois convocou Pepe para um estágio de dois dias. Em Agosto voltou a ser convocado, foi titular e respondeu com o golo da vitória na Hungria. «Queiroz sabe o que eu sou e o que represento como pessoa. O apoio dele foi importante e agradeço-lhe, porque não é fácil», retribuiu o central.

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Pepe continuou sempre a ser convocado e a jogar como titular, até que se lesionou a 12 de Dezembro. O diagnóstico: rotura do ligamento, operação e paragem de seis meses. O central deixou de ser notícia na Selecção Nacional, até Abril. A cerca de um mês de divulgar os convocados, Queiroz falou dele.

«Tenho recebido boas notícias sobre ele, mas neste momento não faço comentários, se vai ou não ser convocado. Até ao dia da decisão vamos acompanhar a sua evolução de uma forma exaustiva, em contacto com o clube onde faz tratamento. Depois, no dia 10, tomaremos uma decisão», explicou.

Um mês depois, o central integrava mesmo a lista de 24 jogadores para o Mundial. «Desenvolvemos um conjunto de iniciativas com os médicos do Real Madrid e com o médico que operou o jogador. Entre nós tomámos decisões concertadas. Agora vamos a ver como o Pepe reage», justificou.

A lista ainda não era final, teria de ser reduzida a 23, mas quando o foi, saiu Zé Castro e não Pepe. Aliás, a chamada de 24 atletas teve muito a ver com a observação de Pepe. No fim o central viajou para a África do Sul, onde durante duas semanas desenvolveu um trabalho especial de recuperação.

Pelo meio fez treinos de conjunto com os juvenis do Bid Vest Wits, que revelaram até uma ordem curiosa. «Disseram-nos que estávamos proibidos tocar no Pepe», revelou o jovem Brad Bark. A 25 de Junho Pepe jogou com o Brasil, estreando-se a titular. Dias depois voltou a ser titular na eliminação com a Espanha.

Até aqui tudo bem, portanto. As zangas começaram após o regresso a Portugal. No dia 5 de Agosto, numa entrevista a Record, Pepe deixa as primeiras críticas. «O ambiente perfeito não era. Aconteceram algumas coisas que não eram normais e acabámos por pagar caro por isso», referiu Pepe.

Mais do que isso, Pepe não quis especificar. «O futebol é feito de pequenos detalhes, e às vezes esses pequenos detalhes fazem as vitórias ou as derrotas.» Um mês depois, e após a demissão de Queiroz, disse tratar-se «de uma decisão mais do que aceitável por uma questão de prestígio da selecção.»

Pepe haveria ainda de voltar à carga. Para criticar Queiroz pelas críticas a Deco. «Todos nós admiramos o Deco pelo profissional que foi na selecção. Se ele estava tão mal, então não o convocava. Há uma contradição, Deco foi exemplar e faz falta. É um profissional e sentimos a falta dele», disse.

A partir daqui os dois estavam completamente de costas voltadas.