Um é treinador, experiente, conhecedor de todos os palcos e labirintos do futebol português; o outro é guarda-redes, produto das escolas de formação do Sporting, resgatado ao Recreativo Huelva a tempo de ser importante na subida do Clube Desportivo Feirense.

José Mota, 52 anos, substituiu Pepa no comando técnico do clube da Feira a um mês e meio do fim. A tempo, muito a tempo, de passar as suas ideias. Em nove jogos conseguiu quatro vitórias, quatro empates e uma só derrota.

Luís Ribeiro, 24 anos, foi o dono da baliza do Feirense também em nove jogos. Recuperou no Marcolino de Castro de um empréstimo traumatizante - «só recebi um salário em Huelva» - e foi o escolhido para substituir o gigante Makaridze, lesionado durante quase dois meses.

Ao Maisfutebol, em plena fruição dos prazeres da subida de divisão, treinador e guarda-redes abrem a alma e falam de «justiça» e da necessidade da I Liga ter «mais clubes como o Feirense», «cumpridor, organizado e com condições de trabalho perfeitas».

JOSÉ MOTA: «Se fosse para não descer, não aceitava o convite»

Como encontrou o balneário do Feirense? A equipa vinha de um ciclo negativo.
«Sabia que era um risco, tínhamos de ultrapassar vários adversários: Freamunde, Famalicão, Portimonense, Chaves e FC Porto B estavam à nossa frente. Era um risco, mas o projeto tinha um objetivo aliciante que era subir de divisão, embora soubesse que a situação na altura era difícil. Era um risco e o risco ajuda a crescer. E o futebol é um desafio. O risco faz parte. Gosto de correr riscos e de ganhá-los. Se fosse para lutar pela manutenção tinha recusado o convite».

Teve uma derrota em nove jogos. A equipa assimilou facilmente as suas ideias?
«É importante perceber que tinha um grupo de jogadores inteligentes e com qualidade. O trabalho que vinha a ser feito com o Pepa era um trabalho de valor, embora os últimos resultados não tivessem sido os melhores [quatro derrotas em sete jogos]. Dentro do conhecimento que tinha dos jogadores e da sua qualidade, dei o meu cunho pessoal, libertei-os em termos mentais, convenci-os de que era possível. Houve também alterações em termos do alinhamento da equipa que normalmente era titular. Tudo isto fez com que as coisas acabassem por acontecer».

A reviravolta nos descontos frente ao Gil Vicente foi a chave?
«Esse jogo foi importantíssimo como todos os outros. Perdemos frente ao FC Porto, depois de uma caminhada que até estava a ser interessante, mas perdemos. Os nossos adversários diretos ganharam e ficaram a uma distância assinalável. E nós, grupo de trabalho, acreditamos que, se vencêssemos os quatro jogos que faltavam, subíamos de divisão. Foi esse o nosso lema, a nossa força. Os jogadores perceberam a mensagem, comungaram das mesmas ideias e a partir daí vencemos a Oliveirense, fomos vencer a Viseu, ganhámos ao Gil e empatámos em Chaves no último jogo. Nesse jogo com o Gil percebemos que só dependíamos de nós para subir».

O plantel tinha 14 jogadores da formação. É para manter a aposta?
«É uma referência. Tem que se ter sempre atenção à formação, sem dúvida, mas também é preciso perceber que para o ano se vai estar na I Liga. Ainda assim, é sinónimo que há uma boa formação no Feirense e há que aproveitar as mais-valias e jogadores que possam aparecer».

Vai continuar a ser o treinador do Feirense?
«Não sei, vamos conversar sobre isso e a seu tempo tudo se vai saber».
 

LUÍS RIBEIRO: «Poucas equipas da I Liga têm estas condições»

Em Huelva as coisas não correm bem. Como chegou até ao Feirense?
«Informei-me com colegas do futebol. Falaram-me muito bem do clube e confirmei tudo. Não imaginava que fosse um clube assim, tão organizado. Oferece muito boas condições aos atletas, o presidente está sempre próximo, é muito querido na cidade. Senti uma grande empatia com o clube».

Que condições encontrou?
«Temos um complexo desportivo com dois excelentes relvados para treinar, por exemplo. Poucas equipas na I Liga têm estas infraestruturas. Os salários são pagos a tempo e horas, a rouparia tem tudo pronto a tempo e horas. Há condições concretas para estar muito tempo na I Liga».

Consegue escolher a sua melhor exibição com a camisola do Feirense?
«Sim, o primeiro jogo que fiz, contra o Famalicão. Perdemos 1-0, mas já não jogava há muito tempo e acho que fiz uma excelente exibição. Vai ficar marcado na minha mente. Além desse, o empate em Penafiel, depois de jogarmos com menos durante muito tempo».

O que falhou em Huelva?
«Fui para lá a convite do mister José Dominguez. Comecei mais tarde, entretanto ele saiu e só recebemos um mês de salário. Só me pagaram um mês, era impossível continuar».

Acompanhou de perto a troca do Pepa pelo José Mota. Como viveu essa mudança?
«O presidente achou que era o melhor. Sou profissional, só tive de aceitar e trabalhar. São muito diferentes, mas ambos têm muita qualidade. Os dois ajudaram imenso o Feirense e ficam na história desta subida. Agradeço ao Pepa por ter aprovado a minha contratação e agradeço ao José Mota por me ter dado a titularidade quando o Makaridze se lesionou».

Está emprestado pelo Sporting. Vai continuar na Feira?
«Tenho mais dois anos de contrato com o Sporting. Não sei rigorosamente nada nesta altura. Ficar era uma boa hipótese, claro. Agrada-me a ideia. Estou ligado ao Sporting há muitos anos, já joguei pela equipa principal em jogos amigáveis na fase do Marco Silva e tenho o objetivo de voltar. Não sei, vamos aguardar».