Quarta-feira. René entra em campo, veste de negro da cabeça aos pés. Leva a bola debaixo do braço e o apito pendurado ao pescoço. Para o árbitro é mais uma noite exigente no campeonato regional do distrito de Karlsruhe.

Domingo. René calça as luvas, avança para o aquecimento e dirige-se para a baliza. No segundo escalão da Bundesliga, o Karlsruhe luta pela promoção e o guarda-redes não desiste desse sonho.

Não há confusão. O René-árbitro é o René-guarda-redes. Profissional no Karlsruhe, amador na arbitragem. Duas funções, jura, perfeitamente compatíveis. Um caso raríssimo no futebol contemporâneo.

«Sou muito emocional e chateava-me muito com os árbitros», explica ao Maisfutebol, no inglês possível. «Pensei que tinha de conhecer o outro lado. Perceber a origem e a razão dos erros da arbitragem. É uma terapia que aconselho a todos os futebolistas profissionais».

René Vollath acumula desde outubro a arbitragem com o compromisso no Karlsruhe. Garante perceber agora «muito melhor o jogo» e até aproveita para «evoluir na parte física do treino».

«Só posso arbitrar quando não tenho compromissos a meio da semana. E corro muito, como nunca corri como guarda-redes. Os jogos dos regionais são duríssimos, exigentes. Felizmente, a maior parte dos jogadores reconhece-me e sou respeitado por todos. Estou a adorar».

René Vollath numa entrevista:

 

Em conversa com a revista 11 Freunde, uma publicação alemã, Vollath conta mais alguns detalhes sobre esta opção interessante de carreira. Conta, por exemplo, como reagiu o plantel do Karlsruhe assim que soube da decisão de René.

«Riram-se. Riram-se todos. Nenhum dos meus colegas acreditava que eu ia levar isto a sério. Enganaram-se (risos). Estou a adorar e alguns deles até já me foram ver a arbitrar».

René diz que a principal referência no mundo da arbitragem é Pierluigi Collina - «controlava os jogadores só com o olhar» - e sugere às federações nacionais que comecem a aproveitar o seu exemplo para atrair mais futebolistas para a arbitragem.
 

René Vollath num jogo dos distritais de Karlsruhe

«Só fazia bem a alguns. Perceber o que sente um árbitro. Nós nunca pensamos nisso quando estamos a jogar. Eu era dos piores. Recebi 12 cartões amarelos ao longo da minha carreira, só por protestos. Estou diferente e agora sou eu a acalmar os meus colegas de equipa»
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René Vollath tem 24 anos e dará sempre «prioridade» à vida como guarda-redes. Nesta altura é normalmente o suplente do Karlsruhe. Fez dois jogos na II Bundesliga, depois de ter feito três na anterior campanha.

Internacional sub20 pela Alemanha, René começou a jogar no Nuremberga e completou a formação no Hoffenheim. Em 2010 transferiu-se para o Wacker Burghausen (III Bundesliga) e a sua qualidade chamou a atenção do Karlsruhe.

«Amo o futebol e compreendo-o melhor depois de ter decidido ser árbitro. Acho que sou melhor guarda-redes também por causa disso».