*Enviado-especial ao Brasil

O mercado brasileiro é, de longe, o preferido em Portugal, há vários anos, na hora de contratar jogadores. A segunda nacionalidade mais presente na Liga é a brasileira, mas num país que é quase um continente, os emigrantes acabam por ser esquecidos pelos locais, sobretudo os que saíram antes de construir uma carreira na terra natal.

A própria organização do futebol brasileiro, com grande enfoque nos campeonatos estaduais, faz com que adeptos de um estado tenham mais dificuldade em identificar jogadores de equipas de outros estados. Nesta constatação ficam, de fora, naturalmente, as grandes figuras.

Ora, por isso mesmo, esta reportagem do Maisfutebol não representará, nem de perto nem de longe, a opinião da população do Brasil ou até de Belo Horizonte. Mas dá umas luzes.

Passeámos um pouco nas ruas da capital de Minas Gerais à procura de adeptos de futebol que conheçam a Liga portuguesa. Falámos com alguns, mostrámos fotografias dos craques (só jogadores dos três grandes) e escutámos quase sempre...silêncio.

Algumas respostas erradas foram atiradas. Rómulo, adepto do Atlético Mineiro, uma das grandes equipas da cidade, olhou para a foto de Fernando, do FC Porto, e atirou de primeira: «Dedé? Não? Parece mesmo o Dedé que jogou aqui no Atlético…»

A polémica da naturalização do médio parece ter passado ao lado dos brasileiros, ao contrário do que aconteceu, por exemplo, com Diego Costa, bem mais mediático.

Érica, outra adepta do «Galo», olhou para a foto, abanou a cabeça e limitou-se a dizer: «Não sei». Luís comentou um pouco mais: «É brasileiro e tentou naturalizar-se? Ah, não sei. Há muitos brasileiros a fazer isso.»

Veja como se saiu Érica:



«Humm..não sei…não faço ideia…não estou a ver»

As respostas não variavam muito. Sentados a uma mesa numa esplanada, Luís e Henrique garantiram gostar de futebol mas conhecer pouco de Portugal.

«Jogadores portugueses? Conheço o Cristiano Ronaldo, claro, e o Pepe, que foi expulso agora», diz Luís. Henrique acrescenta: «E que era brasileiro». «Era brasileiro? Não sabia…», responde o amigo.

Há casos mais difíceis ainda. Jardel, do Benfica, passou ao lado de toda a gente, tal como Lima ou Maurício, este do rival Sporting. «Este parece o William que jogou no Coritiba», atirou Nélson, um dos taxistas que tentaram a sua sorte neste pequeno teste. 

Alex Sandro, do FC Porto, também não foi identificado. Vanderley, ao seu lado, continuava a apostar nas semelhanças: «Parece o Maicosuel».

O taxista parecia até chateado com um questionário tão difícil. Afinal ele era o craque do futebol do grupo. «Tudo o que é futebol ele sabe, mostra aí as fotografias que ele diz-te tudo», dizia Nelson. Não foi bem assim, claro.

Aliás, quando Vanderley não consegue identificar Maicon, jogador formado no Cruzeiro, Nélson vai provocando o amigo: «Jogou no Cruzeiro e você não sabe?»

O desempenho de grupo de taxistas:



E Danilo? Rómulo diz que não conhece. Érica alinha na mesma resposta: «Não faço a menor ideia. Está muito ruim…(Risos) Danilo? Nunca ouvi falar.» Vanderley hesita, atira uma ao lado e faz golo a seguir: «Jogou no Santos? É o Giovani..não…o Danilo!»

Ao olhar para a foto de Jefferson do Sporting, Rómulo atira um desabafo: «Piorou! Não faço nem ideia. Conheço o Sporting, sim, mas este jogador não.»

Artur Moraes, que passou pelo Cruzeiro, é reconhecido por Vanderley. Érica não conhece. Queixa-se da foto. «Parece que levou um soco. Está muito feio», atira, entre risos.

Para o final fica o mais reconhecido de todos. Luisão. «Esse aqui até você conhece», diz Rómulo para a esposa que estava ao seu lado. «Foi campeão no Cruzeirão», diz Vanderley orgulhoso.

Rómulo falhou quase todos:



Na hora de fazer o balanço, Rómulo explica que só reconheceu Luisão porque «deve ter saído do Brasil mais velho do que os outros». Nélson, o taxista, partilha a opinião.

«Há jogadores aí que, de certeza, não chegam a estar nem nos juniores de uma equipa daqui. Vão logo para a Europa. É cedo de mais», comenta. 

Érica, que confessa ser admiradora de Raul Meireles e adepta da Juventus, dá outra justificação: «Acabamos por ver poucos jogos europeus porque passam em horário de trabalho aqui. É mais os jogos da Champions.»

À boleia com Luisão depois de um Brasil-Argentina



Ora, se para uns os brasileiros que jogam em Portugal são completos desconhecidos há outros que conhecem bem de mais. Pelo menos um. Eduardo, que chegou pouco depois da conversa com Érica para se juntar à amiga, tem uma história curiosa com Luisão.

«Conta aí o dia em que você dividiu um táxi com o Luisão», diz Érica. Quisemos saber, naturalmente.

«Foi em 2008, talvez. Fui ver um Brasil-Argentina aqui no Mineirão e o Luisão tinha jogado. No final estava à espera de um táxi e aparece o Luisão. Ele disse-me: está à espera de táxi? Disse que sim e ele respondeu logo: se conseguires, vamos juntos então», conta.

Luisão ia para o aeroporto de Confins e tinha pressa. «Disse ao taxista: corre que se não perco o voo. (risos) A melhor parte é que foi ele a pagar...», atira, para fim de conversa.