A «vergonha» e o «desastre» da Alemanha alimentam o ego português no Europeu Sub-21. «Schokolade» (Chocolate) escreveu o Maisfutebol em manchete, minutos após a aplicação de um corretivo nunca antes provado pelos germânicos nesta categoria: 5-0.

21 anos depois – cada vez gostamos mais deste número -, Portugal volta à final do Campeonato Europeu de «esperanças», e do outro lado estará uma Suécia perfeitamente avaliada pela equipa técnica de Rui Jorge.

Terça-feira, pois, o nosso país volta a tentar conquistar um troféu internacional e só uma vitória fará com que o percurso absolutamente brilhante desta geração (de ouro?) faça sentido por completo. O favoritismo é óbvio e assumido pelo próprio Rui Jorge.

O primeiro objetivo, qualificação para os Jogos Olímpicos, foi alcançado com distinção.

Estes 23 rapazes parecem (pre)destinados à glória, queiram e saibam manter os elevados níveis competitivos dos quatro primeiros jogos. Concentração, altruísmo, qualidade, tudo misturado em perfeitas doses de orgulho pela camisola portuguesa.  

Com a imprensa internacional e centenas de observadores rendidos à qualidade dos nossos meninos, é hora de olhar o tempo de utilização de cada um deles.

Fala-se muito de William Carvalho e Bernardo Silva, mas o que dizer do rendimento de José Sá, Paulo Oliveira, Sérgio Oliveira e Ricardo? E das respostas dadas por Gonçalo Paciência e Ricardo Horta depois de saírem do banco de suplentes?

Fernando Nélson, vice-campeão europeu em 1994 e amigo próximo do selecionador Rui Jorge, confessa-se «emocionado» com a resposta dada pela representação nacional na Rep. Checa.

«O grupo é fantástico a todos os níveis. Não podemos estar com falsas modéstias: temos muito mais futebol do que a Suécia e temos de ganhar a final. É mesmo para ganhar».

Nélson tem estado particularmente atento a Ricardo Esgaio, sucessor no lugar de lateral direito.

«Ele não é um lateral de raiz, mas adaptou-se bem ao lugar e tem estado certinho, sem oscilações exibicionais. Há tanta qualidade na frente que o Esgaio não precisa de se aventurar muito no ataque. Pode vir a ser um defesa direito de muito bom nível».  

Nélson partilha com Rui Jorge e o adjunto deste, Romeu, uma peladinha semanal. Pedro Barbosa (comentador do Maisfutebol na TVI24), Paulo Madeira, Bruno Basto e Pauleta são outras presenças assíduas, como se pode confirmar nas seguintes imagens:


Uns jogam mais tempo do que outros, mas todos têm um papel a cumprir. No final sobrarão muitas histórias para contar «aos filhos e aos netos».

Vamos aos números.

Os 23 de Rui Jorge no Europeu:

GUARDA-REDES

. Bruno Varela (Benfica), não utilizado
. Daniel Fernandes (VFL Osnabruck), não utilizado
. José Sá (Marítimo), 4 jogos/360 minutos

DEFESA
. João Cancelo (Valência), 1 jogo/26 minutos
. Ricardo Esgaio (Académica), 4 jogos/360 minutos
. Frederico Venâncio (V. Setúbal), não utilizado
. Paulo Oliveira (Sporting), 4 jogos/360 minutos
. Tiago Ilori (Bordéus), 3 jogos/209 minutos
. Tobias Figueiredo (Sporting), 2 jogos/151 minutos
. Raphael Guerreiro (Lorient), 4 jogos/334 minutos

MÉDIOS
. William Carvalho (Sporting), 4 jogos/360 minutos
. Rúben Neves (FC Porto), 1 jogo/5 minutos
. Tozé (Estoril), 1 jogo/9 minutos
. Bernardo Silva (Mónaco), 4 jogos/308 minutos
. João Mário (Sporting), 4 jogos/346 minutos
. Rafa (Sp. Braga), 2 jogos/94 minutos
. Sérgio Oliveira (P. Ferreira), 4 jogos/360 minutos

AVANÇADOS
. Ricardo Pereira (FC Porto), 3 jogos/243 minutos
. Carlos Mané (Sporting), 2 jogos/101 minutos
. Iuri Medeiros (Arouca), 3 jogos/45 minutos
. Ivan Cavaleiro (Deportivo), 3 jogos/176 minutos
. Ricardo Horta (Málaga), 1 jogo/45 minutos
. Gonçalo Paciência (FC Porto), 2 jogos/68 minutos

GOLOS:
. João Mário: 2
. Bernardo Silva, Gonçalo Paciência, Ivan Cavaleiro, Ricardo Horta e Ricardo: 1

PORTUGAL NOS EUROPEUS SUB21

1994: finalista vencido
1996: eliminado nos quartos de final
2002: eliminado na fase de grupos
2004: terceiro lugar
2006: eliminado na fase de grupos
2007: eliminado na fase de grupos

Nélson: «Em 1994, Portugal foi vítima de uma experiência sem sentido»

20 de abril de 1994, Montpellier. Portugal cai com estrondo com o Golo de Ouro apontado por Pierluigi Orlandini. O avançado italiano, então na Atalanta, aproveita uma perda de bola na primeira fase de construção e à entrada da área arranca um extraordinário remate. Fernando Brassard nada pode fazer e a Itália é campeã de Sub-21. 

Rúben Neves, por exemplo, nem sequer era nascido. O selecionador Rui Jorge era o dono do lado esquerdo da defesa do FC Porto treinado por Bobby Robson. Portugal nunca mais voltaria a estar na final, até agora.

«Não merecemos perder esse jogo, de modo algum», recorda Fernando Nélson, o defesa direito escolhido por Nelo Vingada para a final de 94.

«A primeira parte não foi bem jogada, houve muito respeito mútuo e poucas oportunidades. Na segunda parte, Portugal cresceu e teve duas grandes oportunidades. Numa delas, o Toni cabeceou à barra».

«No prolongamento fomos vítimas de uma experiência sem sentido, o tal Golo de Ouro. A Itália fechou-se sempre bem e saiu com qualidade através do Benito Carbone e do Orlandini. Não merecíamos a derrota»


Nessa final de muito má memória, Portugal e Itália apresentam equipas repletas de nomes fortes. Nelo Vingada aproveita, essencialmente, a Geração de Ouro campeão do mundo de Sub-20, três anos antes. Apenas Sá Pinto, lançado para o lugar de Toni no segundo tempo, falhara essa competição.

PORTUGAL: Brassard; Nélson, Jorge Costa, Rui Bento e Paulo Torres; Abel Xavier, Rui Costa e Figo; Capucho, Toni (depois Sá Pinto) e João V. Pinto.

No banco: Costinha (GR), Paulo Santos (GR), Álvaro Gregório, Tulipa, Bino, João Oliveira Pinto, Jorge Soares e Gil.
Selecionador: Nelo Vingada

ITÁLIA: Toldo; Panucci, Cannavaro, Colonnese e Cherubini; Berretta, Marcolin e Carbone; Scarchilli, Inzaghi (depois Orlandini) e Muzzi.

No banco: Visi (GR), Delli Carri, Galante, Negro, Tresoldi, Bigica, Rossitto e Vieri
Selecionador: Cesare Maldini
 

Pierluigi Orlandini, o grande herói desse torneio em 1994, nunca veio a confirmar as expetativas criadas sobre o seu futebol. 

Após o golo a Portugal salta da Atalanta para o Inter de Milão, mas acaba por sair em 1996, tornando-se um verdadeiro nómada dentro do futebol transalpino. Seguem-se Verona, Parma, AC Milan (dois jogos), Veneza, Brescia e uma mão cheia de clubes secundários numa trajetória apenas razoável.

Orlandini não tem nenhuma internacionalização pela seleção principal italiana.