Nos últimos 25 anos o FC Porto tentou «comprar golos» na Liga por 17 vezes. Soares é o 18.º passageiro, a última de uma longa lista de apostas em que o insucesso da maioria traz um peso maior para as costas do reforço. De facto, foram muitos mais os casos falhados do que os casos de sucesso entre os goleadores que os dragões descobriram na Liga.

Para esta análise incluímos não só os pontas de lança puros, mas também os avançados. Homens que poderiam jogar no centro do ataque, sozinhos ou acompanhados, como Derlei ou Edmilson, ficando apenas de fora os extremos à antiga, os homens das assistências, como Drulovic ou Clayton, que também se destacaram no campeonato português antes de vestir de azul e branco. De fora também ficaram aqueles avançados que, destacando-se na Liga, fizeram uma incursão no estrangeiro antes de serem contratados pelo FC Porto, como Liedson por exemplo. Em suma, apenas consideramos mudanças diretas para chegar a este grupo que Soares faz aumentar para 18.

Uma lista que começa, então, em 1991/92, há 25 anos, quando o FC Porto olhou para o vizinho Boavista e encontrou Jorge Andrade. E que termina, então, em Soares, a aposta que leva ainda um gigante ponto de interrogação nas costas, mas que em maio poderá começar a resultar numa opinião mais fidedigna.

A aposta em Soares confirma, ainda, a norma de que são os brasileiros que o FC Porto mais escolhe quando contrata avançados na Liga. Com o ex-V. Guimarães são nove os avançados brasileiros descobertos em clubes portugueses nos últimos 25 anos. Metade da soma total, portanto.

Em traços gerais, os avançados contratados na Liga perfazem um bolo total de 603 jogos com 162 golos apontados, o que dá uma média de 27 por cento de aproveitamento. Ou seja, marcam pouco mais de um golo em cada quatro jogos, em média. Claro que os números de homens como Derlei, Edmilson, Adriano ou Artur ajudam a compor a média, mas isso também é a lógica do mercado: umas vezes acerta-se, outras erra-se.

De qualquer forma, a questão que fica é: vale a pena, então, procurar golos na Liga? Vamos ver o que diz a história.

-Jorge Andrade (contratado ao Boavista em 1991/92)

Nos últimos três anos no Boavista, sobretudo, Jorge Andrade, um avançado móvel, mostrara dotes de goleador: foram 35 golos nessas épocas. O FC Porto contratou-o mas nunca conseguiu ultrapassar a dupla Domingos-Kostadinov: quatro vezes titular na Liga, seis vezes suplente utilizado, uma dúzia de jogos em todas as provas e um golo para amostra. Saiu no ano seguinte para o Marítimo onde voltou a ser feliz: em dois anos, 22 golos. Números: 12 jogos/2 golos (17 por cento de aproveitamento)

Jorge Andrade não confirmou créditos que trazia do Boavista

-Vinha (contratado ao Salgueiros em 1993/94)

Contratação surpreendente e que, sem surpresa, não resultou. Tinha marcado três golos nas últimas duas épocas no Salgueiros (sete na primeira, a melhor de sempre da carreira), quando se mudou para as Antas onde fez 19 jogos e cinco golos, o que até nem dá uma média má. De qualquer forma, voltou ao Salgueiros na época seguinte onde ficou mais quatro épocas sem nunca mais repetir os cinco golos de azul e branco... Números: 15 jogos/5 golos (34 por cento de aproveitamento)

-Sergei Iuran (contratado ao Benfica em 1994/95)

Contratação «bomba» do defeso, por vir do rival Benfica com o colega Kulkov, mesmo sendo um jogador bastante útil na única época em que representou o FC Porto não ficou sequer perto dos números que tinha no Benfica. Na Luz fez 96 jogos em três épocas, marcando 13 golos na primeira, depois 11 e na última 6. No FC Porto ficou-se pelos cinco golos em 28 aparições. Números: 28 jogos/5 golos (18 por cento de aproveitamento)

-Edmilson (contratado ao Salgueiros em 1995/96)

Brilhante aposta. Vinha de uma época muito boa no Salgueiros (34 jogos, 15 golos) e pegou de estaca no FC Porto. Mesmo não sendo um ponta de lança foi um avançado goleador: 14 golos em 42 jogos na primeira época; 16 no mesmo número de encontros na temporada seguinte, antes de sair para o Paris Saint-Germain. Números: 84 jogos/30 golos (36 por cento de aproveitamento)

Edmilson foi uma boa aposta, vindo do Salgueiros

-Artur (contratado ao Boavista em 1996/97)

Outra aposta positiva, provando que a meio da década de 90 o FC Porto escolhia com rigor os avançados contratados na Liga. Já era uma figura da Liga pelo que fazia no Boavista, pois foram mais de 50 golos em quatro anos nos axadrezados. No FC Porto teve a enorme sombra de Mário Jardel sobre si, mas ainda fez 20 golos em dois anos, um deles icónico, no Jamor, frente ao Sp. Braga. Números: 92 jogos/20 golos (22 por cento de aproveitamento)

-Cajú (contratado ao Alverca em 1999/00)

Um fracasso. Marcou 20 golos no ano de estreia do Alverca, ainda na II Liga, ao lado do amigo Deco, que reencontrou nas Antas. O fulgor que perdeu nos anos seguintes (8 golos em 30 jogos em 98/99 e 7 golos em 18 jogos em 99/00, antes da mudança de ares), confirmou-se no FC Porto onde fez apenas dois jogos, ambos a titular, e não marcou qualquer golo. Voltou ao Alverca no ano seguinte. Números: 2 jogos/ 0 golos (aproveitamento nulo)

-Edgaras Jankauskas (contratado à Real Sociedad, mas tinha jogado no Benfica, em 2002/03)

Apesar de os seus direitos pertencerem à Real Sociedade, foi pela meia época no Benfica que cativou os responsáveis do FC Porto. Fez 8 golos em 12 jogos, mas o clube da Luz não avançou para a contratação definitiva e os dragões aproveitaram. Chegou para ser titular, mas acabou, várias vezes, na sombra de Hélder Postiga, em ano de explosão. Porém, foi extremamente útil como comprovam os 14 golos marcados nessa época, reduzindo para 5 na seguinte, a última de dragão ao peito. Números: 82 jogos/19 golos (23 por cento de aproveitamento)

-Derlei (contratado à U. Leiria em 2002/03)

A melhor de todas as contrações de avançados feita na Liga, neste período. Depois de 42 golos em três épocas na U. Leiria, mudou-se para o FC Porto e explodiu, fosse como extremo ou avançado centro. Foram 39 golos em dois anos e meio, intervalados por uma grave lesão. Dois deles deram a primeira Taça UEFA ao clube, outro colocou-o na final da Liga dos Campeões do ano seguinte. Está na história do clube. Números: 92 jogos/39 golos (42 por cento de aproveitamento)

Derlei veio da U. Leiria para ficar na história do FC Porto

-Tomo Sokota (contratado ao Benfica em 2005/06)

O FC Porto tentava recriar o efeito Jankauskas mas as lesões nunca permitiram que Sokota fosse útil ao plantel de Co Adriaanse. No Benfica, onde nunca foi indiscutível, fez 28 golos em quatro épocas. No FC Porto fez...três jogos. E nem um golo. Números: 3 jogos/0 golos (aproveitamento nulo)

-Adriano (contratado ao Cruzeiro, mas tinha jogado no Nacional, em 2005/06)

Um caso ligeiramente diferente. Na verdade, Adriano teve uma curta passagem pelo Cruzeiro, clube que detinha o seu passe, entre a saída do Nacional e o acerto com o FC Porto, mas o que é facto é que jogou uma época nos insulares e na seguinte estava de azul e branco, embora só em janeiro. E foi bastante útil, sobretudo nessa segunda metade em que fez 8 golos em 18 jogos. E mais 12 em 24 já com Jesualdo Ferreira. No melhor ano do Nacional, porém, em 2003/04, chegou aos 21 golos e só não foi o melhor marcador da Liga porque no FC Porto havia um tal de Benny McCarthy. Números: 64 jogos/22 golos (34 por cento de aproveitamento)

-Edgar (contratado ao Beira-Mar em 2007/08)

Ponta de lança clássico, alto e possante, destacou-se com seis golos no Beira-Mar. Era ainda jovem, com potencial e o FC Porto avançou para a contratação. Encontrou Lisandro López na melhor época de sempre a nível de golos e o útil Ernesto Farías. Fez apenas três jogos, nem um golo e partiu sem deixar saudade. Números: 3 jogos/0 golos (aproveitamento nulo)

-Rabiola (contratado ao V. Guimarães em 2007/08)

Aposta de futuro, que não o teve. Tinha apenas quatro jogos na Liga (e só um a titular) e um golo marcado quando o FC Porto o contratou, em janeiro de 2008. Nesse ano só teve uma oportunidade em jogo da Taça de Portugal. Na época seguinte até deu uma vitória na Taça da Liga, frente ao V. Setúbal, mas só teve direito a cinco minutos, divididos por dois jogos na Liga. Entrou em sucessão de empréstimos até rescindir. Números: 6 jogos/ 1 golo (17 por cento de aproveitamento)

Rabiola veio do V. Guimarães, como Soares, mas não vingou

-Orlando Sá (contratado ao Sp. Braga em 2009/10)

Tal como Rabiola foi encarado como um jogador para crescer no grupo, mas também ele não teve tempo nem oportunidades para isso. Tapado por Falcao e Farías fez pouco mais de 20 minutos na Liga, um golo na Taça da Liga e um total de 11 encontros num ano em que o FC Porto falhou o penta. Despediu-se para não mais voltar. Números: 11 jogos/1 golo (9 por cento de aproveitamento)

-Kléber (contratado ao Atl. Mineiro, mas tinha jogado no Marítimo, em 2011/12)

O FC Porto enamorou-se por ele depois de uma reta final estonteante no Marítimo em 2009/10, com oito golos, mas a sua contratação foi tão difícil que demorou mais uma época a concretizar-se. Fez outros oito golos nesse ano, mas no FC Porto, lançado às feras ainda muito jovem e com a herança de Falcao muito fresca, acabou por desiludir. Fez 10 golos, três deles no último jogo da Liga. No ano seguinte marcou mais um, na Taça, e acabou por ser emprestado ao Palmeiras. Números: 43 jogos/11 golos (26 por cento de aproveitamento)

Kléber não conseguiu fazer esquecer Falcao

-Nabil Ghilas (contratado ao Moreirense em 2013/14)

Figura no Moreirense, protagonista secundário no FC Porto. A época correu mal a toda a equipa e Ghilas, que tinha marcado 16 golos numa equipa que desceu de Divisão, afundou-se também. Marcou quatro golos, dois deles na Liga Europa, mas não chegou para convencer Julen Lopetegui que, na época seguinte, nem o observou antes de ordenar a dispensa. Números: 35 jogos/4 golos (11 por cento de aproveitamento)

-Hyun-Jun Suk (contratado ao V. Setúbal em 2015/16)

Entre Marítimo, Nacional e V. Setúbal, nunca tinha feito mais de cinco golos numa época, antes de 2015/16 quando explodiu no Bonfim e chegou aos 11 em meio ano. Com Aboubakar longe de fazer esquecer Jackson Martínez, o FC Porto precisava de um avançado e tentou o sul-coreano mas a aposta falhou. Fez dois golos, um na Taça e outro na Liga, mas não convenceu e acabou emprestado ao Trabzonspor onde já leva 16 jogos...sem marcar. Números: 14 jogos/2 golos (14 por cento de aproveitamento)

-Moussa Marega (contratado ao Marítimo em 2015/16)

Tinha feito 15 golos em ano e meio de Marítimo mas era também o feitio difícil, que lhe valeu alguns dissabores internos, que fazia correr muita tinta. No FC Porto foi um rotundo falhanço. Marcou um golo na Taça da Liga, fez 13 jogos no total e saiu, emprestado ao V. Guimarães, onde renasceu a ponto de ser, durante um largo período, melhor marcador da Liga. Está com 10 golos. Números: 13 jogos/1 golo (8 por cento de aproveitamento)

Marega não rendeu o que o FC Porto esperava

Jogadores por percentagem de golos por jogo:

1. Derlei, 42 por cento de aproveitamento

2. Edmilson, 36

3. Adriano, 34

4. Vinha, 34

5. Kléber 26

6. Jankauskaus, 23

7. Artur, 22

8. Iuran, 18

9. Jorge Andrade, 17

10. Rabiola, 17

11. Suk, 14

12. Ghilas, 11

13. Orlando Sá, 9

14. Marega, 8

15. Cajú, 0

16. Sokota, 0

17. Edgar, 0