346 jogos na I Divisão. Dez campeonatos juntos não chegavam para congregar todos os jogos feitos por Pedro Reis no escalão principal do futebol português. Sempre com uma camisola ¿ a do Salgueiros. 

Em Paranhos, todos o conhecem: olham-no como um pai olha para um filho. Com carinho e com respeito. O estilo é inconfundível. Discreto, tanto em campo como fora dele, Pedro foi dono de um dos lugares no centro da defesa do Salgueiros durante 13 anos. Com uma enorme regularidade, muito poucas ausências. O arrumar das botas deu-se há poucos meses, mas a ligação ao clube era demasiado forte para se quebrar assim do pé para a mão.  

Agora adjunto de Vítor Manuel, Pedro aceitou o desafio do Maisfutebol e abriu o livro das recordações. E logo com uma conclusão para iniciar a conversa: as coisas boas são em muito maior número do que as más. Não é isso o mais importante? 

Pedro esteve na única presença do Salgueiros nas competições europeias. Uma experiência que nunca esquecerá: «Foi em 91/92. Fizemos um bom campeonato, num ano muito estranho. Ficámos em quinto, mas apenas a três pontos... da descida! Foi um campeonato muito equilibrado, no ano em que participaram 20 clubes». «Nessa altura», recorda Pedro, «tínhamos uma equipa muito completa: o Nicolic, o Milovac, o Jorge Plácido, o Álvaro Gregório, o Álvaro Soares. Depois, na época seguinte em que participámos na Europa, tínhamos o Pedrosa, o Abílio...» 

Uma comparação entre a equipa que foi à Europa e esta que está em segundo lugar é algo que Pedro se recusa a fazer. E explica porquê: «Tudo é diferente. O futebol é diferente, as equipas são diferentes, este clube é diferente. São dois plantéis totalmente diferentes, mas ambos com grande qualidade». 

A Europa foi um marco, mas Pedro não vê essa questão como crucial. Destaca a regularidade salgueirista nos últimos anos e até recorda que em 96/97 a aventura podia ter sido repetida: «Estivemos a um passo de voltar à UEFA. Foi quando o Abílio falhou a grande penalidade em Faro. Fizemos um excelente campeonato nessa época. Ganhámos nas Antas e ganhámos na Luz...» 

«Temos que manter dinâmica de vitória» 

A experiência de Pedro leva-o a encarar a actual classificação do Salgueiros com grande tranquilidade: «Não nos podemos deslumbrar. Este plantel vai ter que aguentar pressões e responsabilidades que advenham desta posição. Há que manter este ritmo de trabalho, este nível de qualidade. Vamos tentar prolongar este período o máximo de tempo possível. Acho que temos capacidade para isso». 

A mudança tão radical nos resultados tem, na perspectiva de Pedro, uma explicação: «Quando se começa a ganhar, tudo fica diferente. As pessoas ganham confiança e vêem as coisas de maneira diferente. A dinâmica de vitória adquire-se e ajuda muito as equipas. Há que não perder essa dinâmica».  

«Mudaram, sobretudo, as mentalidades»  

Pedro chegou ao Salgueiros há 20 anos. Era um miúdo com 13 anos, tentando ser alguém no futebol. O que mudou desde aí? Pedro sorri e admite a dificuldade da resposta: «Acho que mudou tudo... As estruturas eram mais frágeis, trabalhava-se com menos profissionalismo. Acho que o mais importante foi mesmo a mudança de mentalidades. As pessoas neste clube passaram a encarar as coisas de maneira diferente». 

O facto de o Salgueiros ser um clube pequeno tem, para Pedro, uma dupla vertente. Se em termos de condições, há coisas que deviam estar muito melhor, no ponto de vista desportivo e humano isso traz vantagens: «Há muitos jogadores que preferem o Salgueiros a clubes com melhores condições, porque sabem que aqui se aposta nos jovens, que aqui há bom ambiente. Isso é muito importante. Mesmo jogadores de outros clubes sabem disso».  

A aposta nos jovens é, pois, um trunfo ganho. Não por acaso, o Salgueiros já actuou de início só com portugueses em quatro partidas deste campeonato (Alvalade, Faro e em casa com Alverca e Guimarães). Pedro vê isso com bons olhos, mas garante que não se tratou de uma situação forçada: «Aconteceu com naturalidade. O nosso plantel tem muitos jogadores portugueses e foram escolhidos os que, na altura, nos pareceram mais indicados. Mas claro que é um bom sinal que isso suceda neste clube».  
 

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