O cardeal Gianfranco Ravasi, responsável pelo Conselho Pontifício da Cultura, apelou hoje, em Fátima, para a «fraternidade operativa» nestes tempos de crise, sublinhando a importância do verbo «fazer».

A mensagem foi transmitida perante milhares de peregrinos, cerca de 300 mil segundo estimam as autoridades, naquela que parece ser a maior enchente dos últimos anos no Santuário.

«Não devemos ter medo de sujar as mãos, ajudando os miseráveis da terra», disse o cardeal italiano, questionando: «para que servirá ter as mãos limpas, se as temos no bolso?».

Perante muitos milhares de peregrinos que encheram o recinto do Santuário de Fátima para as cerimónias do 13 de maio, alertou também para os problemas morais da sociedade atual, afirmando que a cultura contemporânea «é muitas vezes fluida, inconsistente, semelhante a uma neblina que não conhece pontos firmes morais e luzes de verdade».

Para o presidente das cerimónias da peregrinação de hoje, «o corpo não é só um aglomerado de células, um organismo biológico, mas é a sede da alma, da consciência, da mente».

O corpo «é a via para comunicar a alegria e o amor, mas também a dor e o ódio (...) um santuário que pode ser dessacralizado pelo pecado», afirmou o cardeal Ravasi, acrescentando que «infelizmente, na sociedade contemporânea, são os corpos sem alma a dominar, tornando-se carne sem espírito, ora adorada ora desprezada».

Na homília da eucaristia principal da peregrinação, o responsável pelo Conselho Pontifício da Cultura referiu-se ainda aos «terríveis habitantes» de cada canto do mundo, como a «morte, luto, lamento, ânsia».

Segundo o cardeal Ravasi, é esta «bagagem de sofrimentos, de doenças, de mal, de pecado, de solidão, de incompreensões» que os peregrinos apresentam à Virgem de Fátima.

A peregrinação de hoje ao Santuário da Cova da Iria está a ser uma das mais concorridas dos últimos anos - à exceção de visitas papais -, com as autoridades a estimarem em cerca de 300 mil o número de católicos presentes.

As cerimónias desta peregrinação, que tiveram início no sábado, assinalam os 95 anos da primeira aparição mariana aos três videntes de Fátima: Jacinta, Francisco e Lúcia.