Joga bem, conquista adeptos e também sabe ser implacável. É assim este Paços de Ferreira, de vento em popa no campeonato português, num ritmo 100 por cento vitorioso no novo ano e com mais um triunfo, o segundo em Braga, depois da Taça da Liga, aproveitando os «tiros no pé» do rival. A equipa de Domingos Paciência desaproveitou a dupla jornada caseira. Em 6 pontos possiveis, não conquistou nenhum e o 4º lugar, ironicamente ostentado pelo velho rival V. Guimarães, já está a cinco pontos.

Numa altura em que Benfica e F.C. Porto se digladiam para ver quem dá mais espectáculo ou quem é mais forte, é bom que algum do foco de atenção também possa cair neste Paços de Ferreira. A equipa de Rui Vitória não teve o mais brilhante dos inícios de temporada, quem sabe pelas lesões que fustigaram o grupo, sobretudo na defesa, mas em 2011 é, claramente, a equipa da moda.

Apoiados em dois laterais de franco pendor ofensivo, com André Leão a varrer tudo (que grande jogo!), Leonel Olímpio para as sobras e David Simão a pautar o que se passa lá frente, os «castores» só precisam de boas decisões no último terço para brilhar. Rondon, Manuel José e Nélson Oliveira têm-no conseguido.

E neste aspecto das decisões, para usar uma tirada ao melhor de La Palice, para além das boas, há as más. Como a de Guilherme, que esteve na génese do inaugurar do marcador. A entrada em campo do jovem esquerdino já tinha sido pautada por dois passes à queima-roupa, que arrepiaram as bancadas do Municipal bracarense. Mas o caldo, que foi resistindo, entornou mesmo aos 10 minutos. Se viu os filmes, deveria saber que Rondon é uma carraça em forma de jogador. Não há um lance perdido e foi assim que aproveitou o desleixo inocente de Guilherme para ganhar o penalty, que Manuel José transformou.

Domingos Paciência, que tinha apostado em Keita no ataque, deixando Lima no banco, começava a ver a estratégia ruir. Sem grande capacidade de resposta, viu o prejuízo dobrar. O cruzamento de Manuel José foi excelente, Rondon desviou ao primeiro poste e Sílvio confirmou um golo feito. Nem vinte minutos de jogo e as bancadas ensaiavam os assobios.

Ukra, mais Ukra e só Ukra

Resultado penalizador nesta altura, note-se. O pragmatismo tinha vencido a vontade, numa altura em que tudo parecia correr mal aos minhotos. A instabilidade defensiva, de resto, é cartada fulcral para o desfecho. Falta Miguel Garcia, falta Paulão, falta Elderson. Até apetece acrescentar: falta Moisés.

Apesar da tremedeira lá atrás, havia algum discernimento na frente. Ukra corria, tentava e contagiava os companheiros. Domingos, obrigado a trocar Custódio por Meyong, deu a ordem que faltava: para a frente, que ainda há tempo para a «remontada».

Ukra quis dizer que sim. E fê-lo com estilo. Brilhante o golo do extremo português a premiar a combatividade na frente. Se Maykon não atacou mais (e o Sp. Braga pode agradecer isso...), em grande parte foi pela atenção que tinha de ter no jovem cedido pelo F.C. Porto.

Uma mão cheia de nada

45 minutos. Terminado o carrossel da primeira parte, era o tempo que o Sp. Braga tinha para, pelo menos, empatar a partida. A uma equipa que joga para a Europa, pedia-se inteligência nos processos, rapidez de raciocínio e garra. Houve vontade, é certo. Houve pressão, também. Houve, até, algum risco, pois o veneno do contra-ataque pacense poderia ser a estocada final.

Faltou o resto. Faltou descobrir o caminho para a organizada defensiva do Paços, uma antítese clara da realidade arsenalista. Faltou, é bom dizer, criar oportunidades de golo. Depois de uma primeira parte onde Cássio teve de brilhar, no segundo tempo, apesar da vontade, caiu a produção. Mesmo com o Paços reduzido a dez. No final, uma bola no poste num lance fortuito, foi o que de mais perigoso se viu.

O «castor» segue implacável e ultrapassa o Sp. Braga na tabela. Rui Vitória diz que não quer saber da Europa para nada. Apetece perguntar: nem a jogar assim?