Paulo Futre foi um dos oradores do congresso The Future of Football, que o Sporting organiza, tendo por isso subido ao palco para contar histórias e arrancar gargalhadas.

No fundo foi Paulo Futre sendo Paulo Futre.

Tanto que a meio da palestra tocou um telemóvel. Paulo Futre parou e sorriu. «Sócio, estou concentrado» atirou, arrancando uma gargalhada.

Foram quinze minutos cheios de sorrisos, de resto, que começam com os elogios do antigo internacional português.

Primeiro a Jorge Jesus.

«Fui Bola de Prata, como sabem. Se tivesse sido treinado por ele, tinha sido o melhor do mundo.»

Depois a Manuel Fernandes.

«É um mito, uma lenda do futebol português. Sem os teus conselhos eu não conseguiria estar aqui hoje. Manuel Fernandes, foste muito grande como jogador e como capitão.»

Paulo Futre foi falar de como os rumores podem afetar a vida de um jogador de futebol e contou várias histórias relativas à carreira dele. A primeira aconteceu em 1987, quando chegou a Madrid e foi levado de imediato para uma discoteca cheia gente.

Futre era a bandeira eleitoral de Gil y Gil, que o avisou para estar preparado porque à meia-noite ia ter de falar às rádios.

«Mas porquê às rádios?, perguntei. ‘Tem de ser, aqui toda a gente fala às rádios, se não matam-te. Aquela rádio ali à meia-noite é ouvida por três milhões de pessoas, a outra por dois milhões, enfim, ao falares às quatro vais estar a ser ouvido por oito milhões’.»

A reação de Futre foi de espanto.

«Oito milhões a ouvir quatro rádios?! Em Portugal somos nove milhões e à meia-noite estamos todos a dormir», respondeu.

Outra história diz respeito a um jogo com o Trabzonspor, para a Taça das Taças. Antes da viagem para a Turquia, um jornalista turco foi a Espanha para falar com e perguntou-lhe o que conhecia do futebol da Turquia. Futre diz que foi honesto.

«Do futebol turco não sei nada, nunca vi um jogo vosso, mas vi o filme Expresso da meia-noite e não gosto de vocês. Aquilo que fizeram não é correto», respondeu.

«Bem, foi de doidos. Quando cheguei à Turquia, os guarda-costas do Gil y Gil deixaram-no para me proteger, não pude subir ao relvado para treinar, no hotel era uma loucura, ganhámos o jogo e eu só pensava que tinha de sair dali rapidamente...»

A terceira e última história diz respeito a uma proposta da Roma para o contratar, que Gil y Gil recusou por considerar que o português era inegociável. Futre não gostou da resposta do presidente do At. Madrid e por isso convidou o presidente da Roma, Dino Viola, para uma reunião em casa dele, para arranjar uma maneira de pressionar Gil y Gil.

«No dia seguinte estava tudo no jornal Marca. Fotos de nós a falar no jardim, quatro páginas do encontro, estava lá tudo. Tive de fazer uma conferência de imprensa a pedir desculpa aos adeptos, tive de esquecer a transferência, enfim. Como é que eles conseguiram as fotos? Entraram pelo jardim do meu vizinho. Uns anos mais tarde perguntei ao jornalista da Marca quanto tinha pagado ao meu vizinho, disse que não tinha pagado nada: ‘Ele é adepto do Real Madrid, odeia-te.’»

No palanque, e com a atenção da audiência, Paulo Futre consegue ser o melhor do mundo.