Num Clássico que teve um pouco de tudo e emoção até ao final, o Benfica venceu o FC Porto (2-0) e teve uma entrada à campeão… ainda que só na segunda parte.

Campeões nacionais, os encarnados chegaram à Supertaça já sem o goleador da época passada, mas Roger Schmidt recusou-se a usar um avançado e optou pelo ataque móvel. Já Sérgio Conceição, não surpreendeu com o onze que montou, nem com a equipa que lançou em campo, aguerrida e intensa, bem à sua imagem.

Só que esses pergaminhos mantiveram-se apenas no primeiro tempo, porque o alemão leu bem o jogo ao intervalo e mexeu no tempo e peças certas para catapultar o Benfica para outro nível e dar uma resposta aos críticos da sua abordagem em jogos grandes.

FILME DO JOGO

A receita não é nova, mas as duas equipas já estão habituadas a ela. O FC Porto costuma entrar muito pressionante e agressivo nos Clássicos e desta vez não foi diferente. A equipa de Sérgio Conceição começou melhor do que os comandados de Roger Schmidt e, logo no primeiro lance do jogo, ameaçou o golo.

Tal como os sinais dos últimos testes de pré-época demonstraram, o Benfica voltou a ter dificuldades em lidar com a pressão intensa dos portistas junto à área encarnada e o corredor esquerdo dos dragões virou uma autêntica avenida.

Di María não ajudava Bah nas tarefas defensivas, o dinamarquês ficou muito exposto a Galeno e o extremo brasileiro ficou com muito espaço para correr nas costas, entrar na área adversária e… desperdiçar. Só mesmo por falta de acerto na definição – um problema que já não é de agora – é que Galeno não conseguiu ferir o campeão nacional.

Se, defensivamente, o Benfica parecia não conseguir travar a velocidade portista, na frente a estratégia também não surtia efeito. Sem Gonçalo Ramos, os atacantes encarnados pareceram algo desconfortáveis nos novos papéis que tiveram de desempenhar, tiveram dificuldades em complicar a saída de bola do FC Porto (ter Diogo Costa a jogar com os pés ajuda, e muito!) e forçaram as combinações interiores com preservação da posse de bola, por falta de uma referência ofensiva que pudesse atacar os cruzamentos.

Ler, mexer e vencer

O Clássico estava «quentinho», já tinham sido distribuídos sete amarelos e o FC Porto por cima. Schmidt entendeu que tinha mesmo de mexer e fê-lo logo ao intervalo. E, aí, o mérito tem de ser dado ao alemão. Se na temporada passada, no Clássico da Luz, revelou-se impotente para dar a «machada» no título, em Aveiro foi da sua mente que saiu um triunfo que pode embalar a equipa para o arranque de época.

Ristic e João Mário (mais uma exibição apagadíssima) já tinham amarelo e Schmidt lançou Jurásek e Petar Musa. O Benfica voltou a jogar com um ponta de lança e agora até tinha um mestre nos cruzamentos para o servir.

O croata, de resto, entrou com toda a vontade para agarrar os segundos 45 minutos. Toda a equipa do Benfica, diga-se, pareceu rejuvenescida. Os índices de intensidade subiram, a equipa adiantou-se no terreno e colocou o FC Porto em dificuldades ainda no seu meio-campo.

Foi nesse sentido que surgiu o 1-0. Num momento de pressão alta dos encarnados, Pepê falhou um passe em zona proibida, Kökcü recuperou a bola no corredor central e serviu Angel Di María, para o argentino voltar a marcar numa final, como já é seu apanágio (61m). A finalização do campeão do mundo foi de craque, mas Diogo Costa também não ficou bem na fotografia.

Mas não nos esqueçamos de Musa. O croata enviou um recado a todos aqueles que duvidaram de si antes deste jogo e fez questão de o vincar, sete minutos depois de Di María ter aberto o marcador. Após passe de Rafa, o ponta de lança dos encarnados ficou na cara de Diogo Costa e finalizou de forma irrepreensível, tendo forçado os adeptos a lerem as quatro letras que traz nas costas da camisola.

Um final ainda mais «quentinho»

Porém, estamos a falar de um Clássico e a emoção não pode terminar a mais de 20 minutos do fim.

O Benfica esteve mais forte, recuperou várias bolas quando o FC Porto estava desequilibrado, mas, talvez pelo conforto da vantagem, relaxou e vacilou na hora de «matar o jogo».

Já em cima do minuto 90, Pepe foi expulso após alerta do VAR por agressão sobre Jurásek, contudo, ainda havia mais por contar.

O vídeo-árbitro teve de intervir de novo dois minutos depois, quando Galeno fez um golo de levantar o estádio e que ameaçou relançar a discussão pelo resultado: uma mão de Gonçalo Borges no início da jogada manteve os dragões a zero.

No (prolongado) tempo de descontos, Diogo Costa negou o 3-0 com duas defesas seguidas de alta categoria e Sérgio Conceição também recebeu ordem de expulsão, embora tenha demorado vários minutos a acatá-la.

O Benfica sai de Aveiro com a nona Supertaça da sua história, de confiança reforçada para encarar 2023/24 e dá um golpe duríssimo no principal rival das últimas décadas. Uma entrada à campeão… ainda que só na segunda parte.