«Não há fome que não dê em fartura.»

Talvez seja este o provérbio popular que melhor se aplica a este jogo da Taça da Liga, que marca a despedida do FC Porto do Estádio do Dragão em 2017.

Os azuis e brancos venceram o Rio Ave por 3-0 e colocaram-se em posição privilegiada para discutir o apuramento para a final four da Taça da Liga, definindo a vaga no próximo dia 29 em Paços de Ferreira.

Ao 1053.º dia sem vencer nesta competição, apareceu um dragão esfomeado, voraz, devorador. Agora também em versão Taça da Liga.

O FC Porto mostrou ao que vinha logo ao segundo minuto. Soares de baliza aberta falhou um golo cantado, após assistência esmerada de Marega. Faltou um Tiquinho assim… Mas o brasileiro acertaria aos 11’, numa recuperação de bola portista com toque refinado de Herrera de calcanhar.

Soares, o mais azarado portista desta época (em que já teve duas lesões), marcou num lance que, juntamente com o do segundo golo, é o mais perfeito paradigma do que foi o apetite portista neste jogo.

Pressão bem alta lá na frente a obrigar à má reposição de Cássio – quando não era Cássio, o turnover era cometido por um dos defesas ou até um dos médios, se a bola lá chegasse – recuperação de bola, assistência e remate em zona de tiro.

TL: FC Porto-Rio Ave, 3-0: ficha e jogo «Ao Minuto» 

Em alternativa, o FC Porto deixava o Rio Ave esticar-se um pouco no terreno para em seguida desferir o golpe numa transição rápida.

Foi precisamente numa perda de bola entre Rúben Ribeiro e Francisco Geraldes que a equipa de Sérgio Conceição ampliou o marcador: Brahimi recupera e isola Marega, que contorna Cássio e atira para o 2-0.

Este Rio Ave de bola no pé, que tantas vezes chega a encantar, estava mais do que desconfortável com a pressão portista. Estava em choque com a intensidade que o dragão aplicava em cada bola, cada lance dividido. E mais aturdido parecia com a simplicidade notável com que os avançados surgiam na cara de Cássio (que saiu lesionado ao minuto 34’) ou de Rui Vieira.

As oportunidades sucediam-se em catadupa. Soares, duas vezes na cara do golo, Marega, outras duas, Herrera, com um drible estonteante antes do remate, Danilo, de cabeça, ao poste… Do outro lado, apenas um livre perigoso de João Novais. Isto tudo antes do apito para o intervalo, que podia ter chegado com quatro ou cinco no marcador.

No regresso dos balneários, voltou a sofreguidão draconiana, um futebol arrebatador e de processos fluídos. De novo, Soares e Marega na pressão e três oportunidades nos três primeiros minutos.

Estaríamos aqui até ao Natal para descrever cada lance de golo portista.

TL: FC Porto-Rio Ave, 3-0: destaques

Se o Rio Ave adornava, o FC Porto cavalgava sobre a presa ferida. Se o Rio Ave queria bola, o FC Porto desejava a baliza.

Só a meio da segunda parte os vila-condenses sacudiram a pressão e até visaram com perigo a baliza de Casillas, seguríssimo neste regresso à titularidade, num remate de Pelé, aos 74’. Seria, porém, o dragão autoritário a sentenciar o resultado final aos 90’, numa grande penalidade por falta precisamente de Pelé sobre Aboubakar, que seguia isolado, com o camaronês a converter.

Apesar da falta evidente neste lance, o árbitro algarvio Nuno Almeida esteve mal a decidir noutros: falhou ao anular um lance em que Marega seguia isolado para a baliza, voltou a falhar ao não assinalar grande penalidade para o FC Porto numa mão de Nadjack na área, teve excesso de zelo ao expulsar Danilo, por um protesto contido, e falta dele ao deixar escapar com um amarelo uma tesoura de Soares a Novais.

Tudo somado, a pior das três equipas desta noite no relvado do Dragão foi a de arbitragem.

Ao Rio Ave resta o consolo de até ter tido mais posse de bola estéril (62%-38%) contra um adversário que ganhou em toda a linha no choque de estilos.

Lembram-se daquele FC Porto que era a equipa da Liga que há mais tempo não vencia na competição? Daquele que esteve oito jogos e mais do que largos mil dias sem vencer na Taça da Liga? Têm ainda vaga ideia daquele futebol lateralizado e inseguro, em vez da confiança, da verticalidade e simplificação de processos?

Pois bem. Esse FC Porto não é sequer parente afastado deste. Não passam sequer o Natal juntos.

Em vésperas de consoada, o Dragão teve direito a um banquete. E à promessa de um 2018 cheio de prosperidade em perspetiva.

Veja aqui o resumo do FC Porto-Rio Ave, 3-0: