Descida ao clube de combate, clássico do sofrimento, jogado de cara fechada e maus fígados. Atmosfera escura, bafienta, imprópria para um futebol oxigenado e fresco, positivo e saudável. Meia-final da Taça da Liga resolvida nos penáltis, naturalmente, como se a marca dos 11 metros fosse a arena do Fight Club. Ganhou o Sporting, com Rui Patrício e Ruiz a decidirem, depois de San Iker ter salvo dois match points.

Bryan ainda tinha uma vida.

A primeira regra do Fight Club é: não se fala sobre o Fight Club. A segunda regra é: não se fala sobre o Fight Club. A terceira regra é: se alguém gritar «pára!» ou fraquejar, a luta está terminada. A quarta regra é: apenas dois tipos em cada luta. A quinta? Uma luta de cada vez.

Com a devida licença do génio de Chuck Palahniuk, entramos no Clássico avisando, desde já, que cumpriu escrupulosamente este regulamento. Fogo e fúria, choque e conflito, futebol quase sempre pobre e sofrido. Do início ao fim, até aos decisivos penáltis.

Sábado há, assim, Vitória de Setúbal-Sporting. Um deles vencerá a Taça da Liga.  

FICHA DE JOGO E AO MINUTO DO CLÁSSICO
 

Mais do que intenso, tumultuoso: Danilo lesionado bem cedo, já depois de ter cometido grande penalidade sobre Bas Dost – nem o árbitro de baliza, nem o VAR viram; Gelson lesionado no primeiro tempo, ainda antes do VAR anular um golo a Tiquinho Soares – nenhuma imagem é capaz de provar a posição irregular do avançado e, em caso de dúvida, deve-se deixar jogar (lembram-se do golo de Bas Dost em Vila do Conde?).

Por falar em Soares, a má reação à substituição deixou Sérgio Conceição furioso. 

Mais do que apaixonado, desesperado: tantos passes errados de lado a lado, tantas decisões importantes mal tomadas, de um e de outro lado. Sérgio Oliveira a arriscar um pontapé impossível numa transição prometedora; Rúben Ribeiro a falhar mais passes numa noite do que em toda a época; Aboubakar a tentar um golo de longa distância quando tinha tempo e espaço para cavalgar sobre Rui Patrício; William constantemente batido pela agressividade dos dragões.


DESTAQUES DOS LEÕES: Rui Patrício mostrou o caminho a Bryan

Mais do que indefinido, mal decidido: os melhores executantes, os artistas, sofreram agruras. Brahimi no FC Porto, Rúben Ribeiro no Sporting, Óliver nos dragões, Bruno Fernandes (demasiado tempo encostado à direita) nos leões. Nenhum espaço, inspiração, lucidez, nesta noite de descida ao grau zero do espetáculo.

Bom futebol? As mais de 50 faltas – um recorde na temporada! – não permitiram. Houve um cabeceamento forte de Coates ao poste esquerdo de Iker Casillas (bom regresso do espanhol), uma arrancada fantástica de Ricardo Pereira bem parada por Rui Patrício, mas quase tudo o resto foi feito em esforço desconfortável.


DESTAQUES DOS DRAGÕES: Alex Telles, a eficiência habitual

O Sporting entrou mais forte, o FC Porto reagiu com 20 minutos melhores antes do intervalo, devidamente continuados no arrancar da etapa complementar. E depois novamente mais Sporting, até a uma fase de indefinição, com o FC Porto mais perigoso. Nada feito, o clássico foi para grandes penalidades.     

Outro Sporting-FC Porto sem golos, mais um combate tático Jesus/Conceição sem vencedor claro nos 90 minutos. Jogo feio, insistimos, com a bola a ser mais saco de pancada do que objeto de adoração.

Duas equipas que jogam mais, muito mais do que isto, mas em noite de horizontes limitados e pensamento primário. O senhor árbitro não esteve melhor, confuso e decidido a apitar a tudo o que mexia.

Contas feitas, no Fight Club de Braga sobreviveu o leão. Herrera, Aboubakar e Brahimi, três dos mais influentes do FC Porto, falharam na hora decisiva; Casillas ainda parou os remates de Coates e William, mas já não chegou ao de Bryan Ruiz.