O Sporting num pesadelo, agarrado aos cabelos depois do duplo confronto com o Desp. Chaves. A eliminação da Taça de Portugal foi o último capítulo numa época que acabou cedo demais em demasiadas competições, como não sucedia desde 2012/13, o ano horribilis do leão.

Não, a temporada não é tão negra como nessa época em que o Sporting terminou no sétimo lugar no campeonato, saíra da Taça de Portugal em outubro, da Liga Europa em dezembro e da Taça da Liga em janeiro.

O cenário atual é semelhante. Em 2012/13 a equipa era oitava na Liga. Tinha 18 pontos e o líder 39 a meio do campeonato, então a 16 equipas. Agora, está a oito e no quarto posto. Melhora neste capítulo, portanto. 

José Mota esteve em Trás-os-Montes a assistir à partida. E se de um lado estava um leão em mau momento, do outro estava uma equipa que soube aproveitá-lo.

O Desp. Chaves eliminou dois grandes, antes da final, tal como o Sp. Braga de 1997/98

«É benéfico jogar duas vezes seguidas com a mesma equipa nestas circunstâncias em que o Desp. Chaves jogou», disse José Mota ao Maisfutebol, antes de se debruçar sobre o Benfica-Leixões, um jogo que lhe traz boas memórias.

«Há sempre uma motivação dos jogadores do Desp. Chaves e depois há os problemas que existiam no Sporting», continuou, para enaltecer o trabalho flaviense.

«São uma equipa extremamente bem organizada, que cobre muito bem os espaços. E depois marcou dois golos em que não deu margem ao Sporting.»

Joga-se sempre entre o mérito e o demérito de adversários, com o técnico a sublinhar que «o Sporting também devia ter feito mais».

Não fez e com isso caiu no mesmo sítio do FC Porto. Foi lá no Marão, mas ainda se ouve eco em Alvalade.

Em 2008/09, o Leixões empatara com o Benfica e depois eliminou-o

Aquele era um tempo diferente. Para o Benfica e para o Leixões. Os encarnados eram líderes do campeonato, algo que raramente tinham provado desde que Trapattoni fora campeão. Quique Flores tinha entrado no verão e o Mar naquela noite foi mesmo todo vermelho. Mas não foi Benfica, foi Leixões, num encontro que se vai reeditar nesta quarta-feira, na Luz.

«Recordo muita coisa, eliminámos o Benfica, com o Beto a defender um penálti do Reyes.» A noite do internacional português fora naquela noite fria de 2008 bem mais sorridente que esta, como se percebe pelas palavras de José Mota.

Tal como o Desp. Chaves em 2017, o Leixões tinha empatado com o Benfica no campeonato [1-1] antes de o defrontar para a Taça de Portugal [0-0, 5-4 g.p.]. A distância entre os encontros foi maior, o resultado o mesmo.

Wesley e Reyes durante o encontro de 2008/09

«O Benfica tinha bons executantes, mas nós também. Nesse ano também ganhámos ao FC Porto no Dragão e ao Sporting em Alvalade, é bom lembrar.» Seguiu-se a tal partida de Taça que é «especial naguns clubes como o Leixões ou o Vitória, de Setúbal, porque têm história nela, assim como na Taça da Liga». 

José Mota recorda: «Fomos iguais a nós próprios, éramos uma equipa com boa organização defensiva e saíamos muito bem em transição. Éramos uma equipa cheia de confiança. Podíamos ter ganho nos 90 minutos, podíamos ter ganho nos 120, mas teve de ser nos penáltis. O nosso azar é que a seguir apanhámos o FC Porto no Dragão e perdemos 1-0.»

Muitas vezes, os sorteios ditam os vencedores das Taças. Por exemplo, é preciso recorrer a 1988/89 para encontrar uma equipa que venceu os três grandes na prova e ganhou-a: o Belenenses eliminou o Sporting, o FC Porto e bateu o Benfica no Jamor.

Já agora, o Sp. Braga de 1997/98 foi a última formação a bater dois grandes sem ser com a final da Taça incluída. Com o jogo do Jamor, as contas englobam os bracarenses da época passada e a Académica de 2011/12.

O primeiro tombo do Benfica e a festa dos outros nas Antas

O Leixões vai agora tentar fazer o que só uma equipa dos escalões inferiores conseguiu: eliminar os encarnados na Luz.

Os matosinhenses foram tomba-gigantes quatro vezes. É esse o número de ocasiões em que venceram equipas do escalão acima na prova rainha, a última com o Tondela.

Pela frente, porém, vão ter a equipa que menos vezes cai perante adversários das divisões de baixo. Só em três ocasiões foi o Benfica eliminado nessa situação.

A primeira em 1960/61 pelo V. Setúbal, um dia depois da conquista da Taça dos Campeões Europeus e com a formação principal ainda em festa após a final de Berna.

Os encarnados jogaram com a equipa de reservas, com Eusébio, mas o 4-1 a favor do Vitória anulou o 3-1 para os da Luz, na primeira mão.

Maior escândalo foi a queda perante o Gondomar. Na única vez que um clube eliminou os benfiquistas na Luz. É esse o tal feito que ninguém repetiu.

Por fim, o Varzim. Que tem uma coincidência com o Leixões atual, liderado pelo ex-benfiquista Daniel Kenedy. Diamantino Miranda era o técnico dos poveiros. Quando questionado se era especial vencer o Benfica, respondeu assim.

Emanuel e Rui Costa na última vez que o Benfica caiu na Taça perante uma equipa do escalao secundário

Mas voltemos àquela primeira queda do Benfica. Em Setúbal. Ironicamente, está ligada à única conquista que o Leixões tem do troféu.

Os encarnados sempre quiseram alterar a data da segunda mão, devido à final com o Barcelona. Foi recusado e acabaram eliminados.

O Vitória, na altura na segunda divisão, passou à ronda seguinte e perdeu com o Sporting, que por sua vez foi eliminado pelo FC Porto. Os dragões tinham toda a vantagem a favor, até porque a final jogou-se nas Antas. Mas forma os Bebés de Matosinhos que ganharam a Taça de Portugal em pleno coração do dragão com golos de Silva e Oliveirinha.

Naquele dias, nas Antas, a festa foi leixonense.