As imagens do massacre de Santa Cruz, em 1991 no cemitério de Santa Cruz, em Dili, correram mundo. Eram sobretudo jovens, muito jovens. Corriam por entre as campas para tentar salvar a vida naquele local de morte. Alguns não conseguiram evitar as balas que os perseguiam. Centenas morreram ou ficaram feridos.

Em Portugal, durante a década de 90, sucederam-se as manifestações e vigílias para dizer à comunidade internacional o que se passava na metade leste da ilha. E o mundo, em particular Portugal, acompanhou de perto o sangrento percurso que os timorenses fizeram para chegar à independência.

Finalmente, o dia 20 de maio de 2002 trouxe ao mundo um novo país: Timor Lorosae, «a terra do sol nascente», uma das mais recentes nações do mapa mundial. Aquele território era finalmente um Estado independente, após anos de colonização portuguesa e invasão indonésia. A página em branco onde o novo país escreveria a sua história estava criada.

A seleção e os leões, dragões e águias asiáticos

São muitas as marcas deixadas pelos portugueses em Timor e o futebol é uma delas. A paixão pelo desporto-rei estava entranhada e, mal foi declarada a independência, há dez anos atrás, os timorenses criaram a Federação de Futebol de Timor Leste (FFTL). Em Setembro de 2005 foi admitida como 206º membro da FIFA, tornando-se na 9ª seleção de língua portuguesa filiada na organização do futebol mundial.

No campeonato, ainda semi-profissional, é bem visível essa ligação a Portugal: Sporting Clube de Timor, Clube Sport Dili e Benfica, SLB Laulara e FC Porto Taibesi são alguns dos clubes que lutam pelo título e evocam os grandes do futebol português.

O jogo de estreia da seleção timorense foi precisamente frente a Portugal, que tinha uma equipa formada pelos militares da GNR no país. Além da vitória por 3-0, os espectadores que encheram o Estádio Municipal de Dili ainda tiveram a oportunidade de ver o presidente Xanana Gusmão a defender um penalti marcado por Eusébio.

Mas só em 2004 chegariam as competições a sério e seria um português, José Luís, o antigo médio do Benfica, quem comandaria a seleção timorense nessa etapa. Timor estreou-se então na Tiger Cup, torneio que reúne 10 seleções do sudeste asiático.

As vitórias tardaram a chegar e o facto de a falta de infraestruturas obrigarem os timorenses a disputar os jogos sempre fora, também não ajuda. Assim, somaram-se os maus resultados e a seleção timorense foi mesmo a primeira eliminada em campo da qualificação para o Mundial de 2014 no Brasil.

A primeira liga profissional

Contando apenas com um campeonato amador, Timor depara-se com a fala de disponibilidade dos jogadores para representar a seleção e falta de preparação técnica e física para disputar as grandes competições. Para superar essa questão, a federação tem convidado atletas com alguma ligação ao país para que se naturalizem e possam envergar a camisola nacional.

Além disso, conta com a colaboração de grandes clubes internacionais para desenvolver o futebol no país. Em Portugal, a ligação mais estreita é com o Benfica. Mas o Real Madrid também está apostado em desenvolver o futebol local. Os merengues abriram três escolas de futebol no país e organizaram recentemente uma grande ação de seleção das crianças que as irão frequentar.

E 2013 trará mais uma mudança ao país: vai nascer a primeira liga profissional em Timor, mais um passo para que este povo, que tanto ama a bola, possa aprender a demonstrar essa paixão e a provar o sabor das vitórias.